quarta-feira, novembro 07, 2012

Cavaco provou que está vivo, disse umas coisas aos jornalistas, nomeadamente que teve um encontro frutuoso com o Seguro; Gaspar diz que não garante nada, nem dívida nem coisa nenhuma; e um admirador de Relvas ia encontrar-se com ele num quarto de hotel nos Açores (mas não o deixaram). Ainda não sei se o Obama ganhou e os socialistas europeus ameaçam Durão Barroso com uma moção de censura, estão fartos dele ser o passivo neste affair da crise. Face a tudo isto, não digo grande coisa e prefiro mostrar-vos os meus últimos livros (Al Berto, António Osório, Ian McEwan, Milan Kundera, Poetas para Vasco Graça Moura, Gina Picart, Clara Sánchez, David Dinis e Hugo Filipe Coelho)






Num dia em que já se levantavam vozes pedindo uma prova de vida de Cavaco Silva ou, então, que fosse declarado incapacitado, eis que, inesperadamente, o senhor saíu do recato a que se tinha votado e disse umas coisas aos jornalistas. Ia inaugurar um hotel, fizeram a gentileza de o convidar e ele fez a gentileza de se mostrar vivo. Pareceu-me um bocado parado, por momentos pensei que a minha televisão estivesse com um desfasamento entre a imagem e o som, o senhor abria a boca e não saía nenhum som. Mas depois, quando arrancava, a imagem estava sincronizada com a fala; talvez fosse apenas que estava destreinado de falar.

Tirando isso, nada de especial aconteceu. 

Seguro foi a Belém e Cavaco diz que o encontro foi muito frutuoso (ou seria frutado...? - desculpem, esta foi influência de ter visto uma reportagem sobre um perfumista, um nez português). 

O Tozé, por seu lado, diz que está pronto para governar. Ora bem, temos homem. 

Vítor Gaspar, por seu lado, para não o acusarem de não acertar uma, agora, logo à partida, diz ele próprio que não acredita em nada. Diz que não garante que nada disto corra bem, que o regresso aos famosos mercados vai ser quando tiver que ser, que não precisa da Constituição para escaqueirar o Estado Social e que controlar a dívida não é para já, nem sabe para quando será, talvez dentro de algumas décadas. Porreiro, pá, diria o outro.

O melhor do dia foi para o homem que parece que foi de propósito aos Açores para se meter com o Relvas. Parece que foi de véspera, instalou-se no mesmo hotel, num quarto mesmo ao pé do de Relvas e, imagine-se, terá tentado entrar no quartinho do senhor doutor ministro. Para lhe fazer uma visitinha? Apenas para lhe deixar uma lembrancinha? Gastou o dinheiro do avião e do hotel só para ir visitar o Relvas ao quarto?! Querem lá ver que o Relvas arranjou um amigo especial? Um amigo colorido, será?! As fotografias mostram um homem com as calças um bocado descaídas e, como o estavam a agarrar e, na fotografia está de costas, vê-se o início do rabiosque. Foi preso, tenho pena. Dizem que insultou o senhor doutor, coisa mais chata. E é tudo o que tenho a dizer sobre o caso.

Lá por fora, o que retive é que os socialistas europeus se preparam para apresentar uma moção de censura a Durão Barroso. Não percebem o que tem o homem lá andado a fazer. A UE a desfazer-se, a Alemanha a pôr e dispor, e ele ali, cherne de águas profundas, na moita, caladão. Não percebem qual é a dele. Ninguém percebe.

*



E, como não sei ainda quem é que vai ganhar as eleições nos EUA (seria possível que pudesse  ganhar um sujeito como o Romney?!), vou antes mostrar-vos os meus últimos livros.

Estive aqui a fazer uma instalação para os fotografar. Sabem que sou dada a coisas artísticas e, por isso, instalei-os em cima de peças de roupa que hoje vesti. Juntei ao conjunto, para a fotografia, uma pequena estola de pseudo pele tigreza para dar um certo toque selvagem. Tenho destas coisas.



Os tons de Outono e os meus últimos livros 


Passo então a reportar, dando uma de professor Marcelo - a ordem é a dos ponteiros do relógio e a escolha de um pequeno excerto de cada um dos livros é totalmente aleatória.


Óleo sobre tela de Gina Picart

Aqui passo os meus dias e as minhas noites. Não espero nada, não espero ninguém. Habito esta casa sem saber até quando; já não me pergunto, limito-me a permanecer. Pinto o céu, as rochas, o mar e as vastas extensões de areia até onde chega a minha vista. Pinto para mim.


Mel de Ian McEwan

Chamo-me Serena Frome (rima com plume) e há quase quarenta anos fui enviada numa missão secreta para os serviços de segurança britânicos. Não regressei incólume. Dezoito meses depois de ingressar fui despedida, tendo caído em desgraça e destruído o meu amante, embora não reste dúvida de que ele teve um papel activo na sua ruína.


Os monstros também amam de Clara Sánchez

A minha filha achava que eu era um velho louco e sem remédio, obcecado por aquele passado que já não interessava a ninguém e do qual não era capaz de esquecer nem um dia, nem um pormenor, nem um rosto, nem um nome, mesmo que fosse um nome alemão comprido e difícil, e no entanto era frequente ter de fazer um grande esforço para me recordar do título de um filme.


Diários de Al Berto

Perturbam-me estes versos que avançam, as sombras das mãos, suaves como o perfume das ilhas. E não consigo dormir. Fumo cigarro atrás de cigarro, conto e reconto os nós da madeira das portas, e não consigo dormir. Nada me pertence aqui, no entanto tenho medo destes móveis, destes objectos, como se fossem meus e não soubesse que destino dar-lhes.


O concerto interior, evocações de um poeta de António Osório

Começo por lembrar Beppa, como lhe chamava meu Pai, e era invenção sua, corruptela amorosa de Giuseppina. Entre as minhas figuras femininas, ocupa o primeiro lugar. Sem nunca ter vindo a Portugal, antes de se casar em Florença na Basílica di S. Lorenzo, tirou um curso de puericultura num instituto dessa cidade - tenho ali o diploma. Por isso, depois de eu nascer em Setúbal, fui tratado como exigiam essas imperiosas normas (alimentação rica em cálcio, verdura e fruta, pouco sal e mínima gordura).


A arte do romance de Milan Kundera

CS: Mas os romances não são todos necessariamente psicológicos? Isto é, debruçados sobre o enigma da psique?

MK: Sejamos mais precisos: todos os romances de todos os tempos se debruçam sobre o enigma do eu.


Resgatados, os bastidores da ajuda financeira a Portugal de David Dinis e Hugo Filipe Coelho

6 de janeiro de 2011, quinta-feira

Impaciente, José Sócrates saíu do seu gabinete para a sala lateral. Aproximou-se do computador que estava em cima do móvel e carregou no teclado. O ecrã negro encheu-se de números e letras, dados financeiros quase encriptados. Em baixo, um cursor piscava, pedindo um comando que ele nunca tinha de memória. Entre as suas qualidades não se contava a de lidar com computadores. Chamou a secretária e pediu-lhe que o pusesse a funcionar.


A vista desarmada, o tempo largo - Antologia, Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura

                      Que porque Vasco

                      Vai um abraço e a consoante muda
                       e espero que me acuse a recepção
                       com p e pau e uma vogal mamuda
                       e até um til com barbas e brasão.
                       E se alguém perguntar
                       tu lhe dirás
                       que porque como ele contra acordo
                       estás
                       até o ver no chão
                       que nem
                       um tordo.
                       E mais dirás canção
                       que porque Vasco e porque tem
                       a língua de Camões no coração

                                                                Manuel Alegre


*

O primeiro clip é de bailado e mostra-nos O Lago dos Cisnes interpretado pelos divertidos Trocks, isto é, pelo grupo Les Ballets Trockadero de Monte Carlo.

O segundo é uma animação representando auma das músicas da banda sonora de O piano.

*

Pronto, fico-me por aqui - passa da 1:30 da manhã e continuo sem perceber se as tendências apontam no sentido do Obama ou se há verdadeiro risco de ganhar o outro. Ficava giro o mundo, com uma esperteza como o Mitt à frente dos EUA, ficava, ficava...

Mas, antes de me ir deitar, vou ainda convidar-vos a virem comigo até ali ao meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras brincam com palavras, em volta de um poema de Maria Teresa Horta dedicado a Vasco Graça Moura. A música é uma maravilha, Isis de Jean-Baptiste de Lully.

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia muito feliz (apesar do vendaval que se anuncia e que já se passeia aqui na minha janela). 

8 comentários:

  1. E ao terceiro dia Ele apareceu, ressuscitou. No caso, aqui na Pátria, demorou mais algum tempo. E escolheu, ao que vejo, um hotel, para surgir da névoa, onde se encontrava. Demorou a articular mas lá disse o que ninguém, em boa verdade, entendeu. Ficou a ideia de que nunca se deixará pressionar para dizer o que os outros esperam que ele diga. Igual a si mesmo. No dia em que sair de cena, vou ter dificuldade em entender o seu discurso, que poderá ser, mais coisa menos coisa: ”Aqui estive sem ter estado, mas estive estando por aí de quando em quando, disse o que tinha a dizer sem nada dizer, adeus e até mais nunca!” O Vasco Pulido Valente outro dia no Público escreveu uma das suas “rábulas” com imenso humor, sobre este “artista”. Que nem com binóculo o vislumbrava ali em Belém (não confundir com “do Párá”).
    Quanto ao Tó-Zé, de cada vez que compõe aquele “arzinho de incomodado a sério”, dá-me cá umas ganas de lhe fazer mal! Um menino birrento. Nada tem de Oposição a sério, apesar de dizer ao mundo que”está preparado”.
    Quanto à A.R ficou-me um certo mal-estar quando, como diz o Nicolau Santos no Expresso, com o contributo da sua Presidente (que lástima!) se apressaram a aprovar o vil programa, vulgo O.E-2013, antes do almoço, não fossem os manifestantes chegarem pela tarde e lhes darem água pela barba (será que a têm rija? Hum, duvido!).
    O Relvas e os Açores! Pena que não fique por lá e um cão de fila dos Açores o não file de vez!
    O Gaspar-que-empobrece-o-País, ao que me consta, juntamente com o Pedrito de Massamá, estará a aspirar a carpete vermelha para a chegada da Dona Merkel, próxima 2ªFeira. Servos da gleba!
    E Obama ganhou. O outro, que nem sabia que uma janela de avião não se pode abrir iria por o Mundo em chamas. Vá lá, num país daqueles ás vezes há bom senso.
    Boas leituras, ao que vejo.
    Boa noite!
    P.Rufino

    ResponderEliminar
  2. Olá P. Rufino,

    Passo os olhos pelo seu texto como se passeasse numa rua com montras em que apetece parar em todas. Concordo consigo, claro. Mas a forma como escreve é aliciante, dou por mim a rir e a voltar atrás para me rir mais um pouco. Perfeita a sua resenha.

    Quanto ao Relvas e do perigoso homem que queria entrar-lhe no quarto e que, por isso, foi algemado e preso, era afinal um inofensivo jornalista que estava alojado no hotel e que, no restaurante, ao cruzar-se com o Relvas, lhe perguntou se não tinha vergonha na cara. Depois, por gozo, fez um cartaz com uma folha de cartolina a dizer que os angolanos gostavam dele. Por causa disso, foi tido como um perigoso inimigo da pátria. Hilariante de tão ridículo.

    Com palermas assim não há-de a Popota fazer deles uns gato-sapatos? Se nos envia dinheiro a 4 ou 5% de juros quando a a ela lhe custa 0% e ainda lhes agradecemos, venerandos e obrigados, como não há-de ela dizer que devemos é continuar a baixar os custos de trabalho que assim é que é?

    Ai, P. Rufino, que vida a nossa... Quando é que nos vamos ver livres desta gente?!

    Obrigada pelas suas palavras tão bem humoradas e uma boa noite também para si!

    ResponderEliminar
  3. Olá,
    E assim andamos nós nesta roda viva a sermos conduzidos por incompetentes, sem encontro marcado com a nossa salvação... o desemprego a crescer a miséria a aumentar e o País a fechar!...
    Gostei muito do seu comentário e bom humor. Haja uma UJM para nos ajudar a descontrair partilhando conosco o seu pensamento,os seus livros e o seu precioso tempo.
    Um beijinho grande e obrigada por estar conosco.
    ME
    P.S. O novo acordo já me baralha conosco ou connosco?...Ai acordo, acordo... o curioso é que a verificação ortográfica do Word, do Blogger e do Gmail ainda não se entenderam, pois cada um tem a sua versão!... Para mim o acordo podia acabar!!!

    ResponderEliminar
  4. Pois é, Maria Eduardo,

    Andamos mal, toda a gente a contestar esta estúpida política e, apesar disso, sem se conseguir impedir que uns quantos fanáticos destruam a vida de tanta gente.

    Muito revoltante.

    Tenho dias em que me apetece atirar-me a eles ao estalo e, outros, só me apetece gozar, parodiar.

    Quanto ao Acordo Ortográfico eu encaro-o como encaro a moda: faço o que me apetece e não quero saber do que dita a moda ou o AO.

    Escrevo conforme me apetece, umas à antiga, outras à moderna, sem saber como deve ou não ser.

    Um beijinho!

    ResponderEliminar
  5. Grande texto, minha cara. Tenho andado arredada mas tenho de a felicitar pelos seus escritos e a lucidez que os mesmos contêm.Nem me vale a pena comentar, porque o seu texto já diz tudo. E gostei do "manifesto" final.
    TBM

    ResponderEliminar
  6. Olá TBM,

    Que bom ter notícias suas, fiquei muito contente por isso. Espero que esteja tudo bem consigo e com a sua família.

    Muito obrigada pelas suas palavras.

    Um abraço, TBM e desejo-lhe um bom domingo!

    ResponderEliminar
  7. Manuel Alegre poeta não para de surpreender
    "Vai um abraço e a consoante muda
    e espero que me acuse a recepção"
    (o abraço é para V G M
    e acusaria recepção?)
    "com p e pau e uma vogal mamuda
    e até um til com barbas e brasão"
    (o AO contestado)
    "e se alguém perguntar tu lhe dirás
    que porque, como ele, contra acordo
    estás"
    (e chega a imagem do caçador)
    "até o ver
    no chão
    que nem um tordo"
    (houve disparo?)
    "e mais dirás canção"
    (é a canção que diz)
    "que porque Vasco e porque tem
    a lingua de Camões no coração"
    (o "é" está subentendido e o resto é justificação)

    ResponderEliminar
  8. Ah, Caro Patrício Branco,

    Que bom é ler um poema pela sua mão. Uma leitura acompanhada por si é sempre uma leitura nova, descobrem-se sempre novos significados. Gosto imenso. Como sabe eu sou toda só intuição e pele, ou seja, a impressão superficial. Ou talvez não superficial mas profunda, mas profunda fora do domínio do racional, do demorado. Leio e gosto ou não gosto e impressiona-me ou não. Mas não consigo parar a pensar no que ali se diz.

    Mas depois recebo as suas palavras e é como se pusesse uns óculos que compensassem a minha miopia (e sei do que falo pois sou mesmo míope, uma míope vaidosa que só usa óculos para conduzir ou ir ao cinema - e, nessas alturas, vejo as coisas com outra nitidez).

    Muito obrigada.

    ResponderEliminar