Because (if you please)
Melody Gardot
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És petulante, ousado. E, apesar de nem o suspeitares, infantil. Mas está bem, faço-te a vontade. Gostas de te despir para a máquina, gostas de humedecer os lábios e olhar, com esses imberbes olhos azuis, não a mim que te fotografo mas a máquina que te capta.
Enquanto te preparas, por brincadeira, pergunto-te o queres ser quando fores grande. Não percebes a piada e respondes-me que grande já és e que já fazes o queres fazer. Podia continuar a brincar contigo que isso de seres assessor e logo no lugar que é, só pode ser piada. Mas, enfim, sempre tiveste uma certa graça a dizer piadas quase inconvenientes e há gente que gosta de recrutar assessores na blogosfera mesmo que não saibam grande coisa de coisa nenhuma.
Movo-me em volta do teu corpo, entrego-te umas luvas negras, peço-te uma pose sedutora e tu obedeces, bom menino, e peço-te um olhar ainda mais sedutor e tu fazes de conta que percebes do que falo e eu faço de conta que sedução é isso, um olhar transversal, uns lábios molhados e abertos, um corpo hidratado. Passo por ti, despenteio-te, peço uma cara de mau que assim, com essa carinha fofa, ficas muito menino. E tu, crédulo, ainda tão inocente, fazes um ar ameaçador para a máquina, uma mão no cabelo, outra no rosto. Finjo que foste convincente.
Depois pedes-me para ver. Passo as fotografias para o computador e mostro-te. Ficas contente. Com esse corpinho sem uma gordurinha a mais, com esse cabelo todo negro ainda, com esses olhos tão límpidos, pensas que és sexy. E eu não te desiludo. Tens tempo para decepções, ainda és tão novinho. E, de resto, com essa idade, poderias lá tu saber o que é sedução, poderias lá tu saber como agradar a uma mulher como eu?
Vejo-te sorrir, contente com a tua imagem, e pergunto-te se queres um gelado. As crianças adoram gelados, especialmente quando acham que se portaram bem.
Vejo-te sorrir, contente com a tua imagem, e pergunto-te se queres um gelado. As crianças adoram gelados, especialmente quando acham que se portaram bem.
Portanto, claro que dizes que sim e eu peço-te para ires ao frigorífico e para prepares uma taça para ti e outra para mim.
Digo-te que me vou refrescar e que tragas para a sala o gelado e uma garrafa de água fresca.
Quando regressas, pobre jovem, ficas estupefacto. Mas eu explico-te que gosto muito de animais e peço que pegues na máquina, quem sabe não descobres que gostas mais de fotografar do que de ser modelo?
Estás atrapalhado mas a insegurança da juventude leva-te a recear dizer que não ao que quer que seja. Pegas a medo na máquina, aponta-la a medo para mim, aproximas-te a medo de mim.
Chega-te mais, a leoazinha não morde. Olhas sem rir, não percebes a que leoa me refiro. Aproximas-te um pouco e eu rosno baixinho. Assustas-te, não sabes se fui eu se foi algum dos pequenos animais. Disfarçadamente afastas-te.
Será que a uma mala tão grande, as tias também chamam carteira?
Não respondes. Continuo aqui é onde trago a bolsa com os batons, os documentos e os biberons dos gémeos. Queres que te mostre? Mas, assustado, com medo que afaste a carteira de mim e que a máquina descubra aquilo que receias ver, quase dás um grito Não!, deixa estar, não é preciso!
Não respondes. Continuo aqui é onde trago a bolsa com os batons, os documentos e os biberons dos gémeos. Queres que te mostre? Mas, assustado, com medo que afaste a carteira de mim e que a máquina descubra aquilo que receias ver, quase dás um grito Não!, deixa estar, não é preciso!
Olho-te então nos olhos e deixo que fixes a imagem de uma mulher que um dia, quando fores grande, verás com outros olhos.
A seguir peço-te que me tragas o gelado antes que derreta. Aproximas-te a medo, os gémeos assustam-te quase tanto quanto eu. Pego neles, levanto-me e coloco-os no parque com alguns brinquedos. Tu finges que estás muito ocupado a comer o teu gelado. Mas quando saio na sala quase roçando em ti, percebo que a tua respiração mal disfarça a agitação que começa a tomar conta do teu corpinho de assessor pouco escolado.
Regresso e, ao veres-me, abres muito os olhos. Espantado, bebé?, pergunto-te, inocente.
Não gostas de passarinhos? pergunto-te. Que sim, que gostas mas que estes são estranhos. Explico: São catatuas. São gémeas. E são umas malcriadonas.
Estás parado à minha frente, não falas, não fotografas, estás de colher na mão e nem reparas que já não há mais gelado. Rio-me: Então, pega na máquina, capta o momento, dá-me instruções, diz como queres que me ponha para parecer sedutora.
Mas tu não percebes. Não percebes que não preciso de instruções. Não percebes. Nem dizes nada.
E, então, uma das catatuas diz-te, como se estivesse a querer ensinar-te, mas fala num tom arrastado, quase indecente: Diz-lhe para desviar o cabelo...
E a outra, com voz de tiazona, como se quisesse partilhar contigo toda a escola de uma experiente MILF, apontando com o bico para mim, remata: Diz-lhe que a carteira está a mais....
Estás parado à minha frente, não falas, não fotografas, estás de colher na mão e nem reparas que já não há mais gelado. Rio-me: Então, pega na máquina, capta o momento, dá-me instruções, diz como queres que me ponha para parecer sedutora.
Mas tu não percebes. Não percebes que não preciso de instruções. Não percebes. Nem dizes nada.
E, então, uma das catatuas diz-te, como se estivesse a querer ensinar-te, mas fala num tom arrastado, quase indecente: Diz-lhe para desviar o cabelo...
E a outra, com voz de tiazona, como se quisesse partilhar contigo toda a escola de uma experiente MILF, apontando com o bico para mim, remata: Diz-lhe que a carteira está a mais....
Podia ter-me desatado a rir com a malandrice daquelas duas mas não, conservo-me ingénua, púdica, boca em biquinho, sentindo, com gosto, a carícia que o cabelo faz nas minhas costas nuas, num dos seios. E finjo que me zango com elas: Caladas, suas malucas, acham que ia destapar-me sem o menino me pedir...?!
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Já agora e porque as fotografias acima são, uma vez mais, da dupla Mert and Marcus (e escuso de vos apresentar a Julianne Moore, não escuso?), convido-vos a ver um filme delicioso relativo ao making of relativo à campanha da DSquared2 levada a cabo por eles. A roupa e o calçado desta marca parece-me ter piada mas sou cliente é da Eau de Toilette, Wood (She), a única fragância que me faz trair os perfumes Chanel. É daqueles filmes que não dá para incluir aqui mas que pode ser visto no Youtube, clicando AQUI.
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E, para o caso de ainda vos apetecer permanecer na minha companhia por um pouco mais, gostaria muito de vos ter também lá no meu Ginjal e Lisboa. Ao som ainda de Jordi Savall, as minhas palavras hoje vêm da alma para contemplarem o deserto em volta das palavras de Luís Veiga Leitão.
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Não vos maço mais, por hoje. Divirtam-se, está bem? E, de caminho, tenham uma bela terça feira!
Ou seja... nada está bem, porque a procura é constante.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarPermita-me que discorde: tudo está bem, justamente porque a procura é constante.
O que, em minha opinião, dá tempero à vida é a descoberta, é o processo de tentativa-erro-recomeço, e, enquanto haja o gosto em prosseguir esse processo, tudo está bem.
PS: Se alguma coisa nesta história fosse verdade o que talvez estivesse mal seria que um ser inexperiente já pudesse exercer funções de assessoria junto de quem quer que fosse (... mas não são assim, embora talvez menos dotados fisicamente, os assessores que no último ano foram arregimentados em grande parte até a partir da blogosfera...?)
Obrigada pelo seu comentário e volte sempre Bartolomeu.
O seu "post" hoje teve muita graça! A princípio estranhei o elogio da beleza do efebo, ainda que a sátira política me tenha parecido uma maravilha. Depois tudo se tornou conforme: a mulher era a de sempre, o entendimento da sedução também. Como achar mais do que uma vaga graça a Ganimedes? Pela minha parte, prefiro olhares mais centrados no Outro (Outra)...
ResponderEliminarEspero que esteja melhor
Continuação de boas férias
Cara UJM, mais um agradável e simbólico "post".
ResponderEliminarJuventude e pseudo-assessorias!
Petulância, garbo e uma estúpida inocência! Dotes de uma fase, duma forma de estarmos no mundo que pensamos, só nosso. Sonhamos uma plenitude, mas estamos suspensos dum mundo irreal. Todavia somos nós próprios, preenchendo um ego sem limites.
Tal como o gelado, ainda nos mantemos inteiros, a frio. Depois, o calor do entusiasmo, faz-nos derreter! Mas o mundo rolará no seu eixo e continuaremos a revolutear na intensa vertigem dos sonhos que nos alimentam a existência.
Não faria qualquer sentido doutra forma! Já Saint-Exupéry dizia: “quem ama uma estátua não ama nem o barro, nem o tijolo, nem o bronze: ama a acção do escultor.”
Votos de muita saúde.
Olá Leitora de A Matéria dos Livros,
ResponderEliminarSabe? Há dias em que só estou para me portar mal. Parece que só estou à espreita de um pretexto.
Estava a ver as fotografias da dupla Mert e Marcus e, ao ver o rapazinho todo convencido da sua beleza e todo 'armado em bom', começou logo a formar-se a ideia de me divertir. A seguir vi as fotografias da Julianne Moore que, tendo certamente idade para ser mãe do rapazito, tem uma sensualidade e uma graça que ultrapassa de longe, de longe!, as do rapaz. E foi só começar a escrever e aplicar um travão às 4 rodas para não disparatar ainda mais. Tudo o que me saía era inconveniente e impróprio para almas gentis. Tive que voltar atrás e apagar não sei quantas vezes.
É que, além disso, me apeteceu juntar isto com a daqueles rapazolas que por aí andam, uns assessores, outros deputados, outros secretários de estado. Sabem tudo e sorriem com o rei na barriga mas... coitaditos deles, ainda a precisarem de biberão (dá-me mais jeito escrever biberon...) e de ser postos a brincar num parque.
Para a próxima publico a versão não editada e deixo-a no ar só entre as 3 e as 5 da manhã... (O pior é que também há leitores no Brasil)
Quanto às minhas melhoras: acho que sim, que estou melhor apesar de alguns percalços; mas isto é tão lento... Não estava preparada para isto. Não tenho feitio para esta 'vida' mas, enfim, não tenho alternativa. Não estava habituada a ter que andar em médicos nem a ter que cumprir um programa de repouso. Tudo uma seca.
Por isso as férias são boas mas podiam ser melhores se me pudesse mexer mais e pudesse passear como gosto de fazer. Mas, enfim, também podia ser muito pior. Por isso, também não consigo queixar-me muito.
Boas férias para si, Leitora! Aproveite muito bem!
Olá Caro DBO,
ResponderEliminarmuito obrigada pelas suas palavras. é isso mesmo. Sabe aquele rapaz Menezes, filho do Menezes de Gaia? Novíssimo, deve andar pelos 30, e deputado e já vice presidente da bancada do PSD. E a petulância com que ele fala e se pronuncia sobre tudo como se fosse pessoa sabedora, experiente...?
Fico passada com a arrogância, a prepotência com que um rapazola daqueles opina. Mas é ele e mais uma porção de outros que se acham importantes, assessores, secretários de estado, deputados.
Apeteceu-me gozar com esses valentões, armados em bons, que sabem tudo, que se acham os maiores.
Polvilhei tudo com sedução, com maldadezinha, com divertimento. É que, sabe, farto-me de rir com as maluquices que me ocorrem mas, depois, esforço-me por me portar minimamente bem e volto atrás a apagar as cenas com mais malandrice. O que acaba por sair é uma coisa a meio caminho entre o que me apetecia mesmo escrever e o que será mais ou menos 'socialmente' aceite.
Quanto a outro aspecto que está subjacente ao que escrevi e que refere no seu comentário: a beleza só beleza, muito perfeita, sem inteligência, sem malícia, não tem grande graça.
O que tem graça é quando existe qualquer coisa de imprevisto, de irreverente. Pelo menos, eu acho isso.
Agradeço-lhe muito os seus votos de muita saúde. Dou agora ainda mais apreço à saúde. Não sou nem um pouco hipocondríaca, raramente ia ao médico (excepto as inspecções anuais de trabalho), praticamente nem constipações tinha.
Quando as pessoas se juntam e começam a falar das suas experiências com doenças, tratamentos, hospitais ou clínicas, médicos, etc, eu não conseguia participar pois era uma realidade que me era estranha. Nem me despertava interesse. Por isso, ao ver-me agora a ter que ir ao médico, a ter que fazer o programa de recuperação pós-operatório, a ter que fazer exames e tudo isso, fico mesmo arreliada. Parece que estou a ser metida à força num 'filme' que não é o meu.
Mas, enfim, isto há-de ser uma fase e hei-de voltar às minhas caminhadas despreocupadas e felizes.
Muito obrigada pelas suas palavras!
Um abraço com estima.