Música, por favor
Massenet - Meditation (da Ópera Thais),
interpretado por Sarah Chang no violino, aqui com Placido Domingo dirigindo a orquestra
interpretado por Sarah Chang no violino, aqui com Placido Domingo dirigindo a orquestra
*
Quando hoje saí da cidade, estava um calor impossível. Antes, passei pela beira do rio e deliciei-me com a maresia e com a visão dos belíssimos veleiros acostados ao pé de Sta Apolónia. E deliciei-me também a fotografar. Ah, parece que estou a renascer...!
Com o sol dourado da tarde, Lisboa fica linda e os veleiros estavam quase irreais, os mastros pareciam revestidos a renda, a brilhantes. Aqueles grandes cruzeiros ali, ancorados num Tejo cujo ondular parecia coberto de luz rosada, junto a uma cidade de cores suaves, tingida pelo sol suave da tarde, que maravilha, vocês haviam de ver. Tão bonito, tão bonito.
Hoje saí do meu cativeiro: agora que vos escrevo já estou in heaven. Quando cá chegámos, depois de quase três semanas de ausência, a natureza já estava a agir como dona do espaço. O portão já estava cheio de teias de aranha, o caminho à volta da casa coberto de montes de folhas secas e até a porta de casa estava já coberta de teias. É impressionante como, mal a gente se retira, mesmo que temporariamente, a natureza se apodera logo das casas.
Cá dentro, para além de algumas teias, também, em vários sítios, algumas colónias de bichos de conta. Claro que, ao deparar com este cenário, me deu logo vontade de fazer uma coisa que adoro (quem me conheça daqui já sabe que sou mulher de gostos simples): varrer! Mas ainda não dá para isso, acho e, aliás, hoje já tinha abusado um pouco. No entanto, amanhã vou tentar, começo cá dentro e, se me aguentar bem, avanço para a faxina no exterior. Parte do encanto das minhas férias reside nisto: fazer limpezas, lavar tapetes e carpetes, varrer a rua e apanhar folhas secas, regar, aparar ramos e serrar pernadas de árvores, podar o que apanhar à mão, fazer refeições saborosas cujo cheirinho saia pela chaminé e perfume o exterior, descansar à sombra da grande figueira, ler, ouvir os pássaros, olhar as árvores, olhar os montes ao longe. Aliás, sendo mais precisa: parte do encanto da minha vida reside nisto.
Quando cheguei, não resisti e, devagar, com muito cuidado - porque isto de andar em piso pouco regular agora é do pior - dei um pequeno passeio. Que saudades eu tinha, que saudades.
E encontrei tantas diferenças.
A começar, a linha do horizonte à nossa frente apresenta novidades - ou então, não tínhamos reparado e os moinhos de vento já estavam há mais tempo. Mas fica bonito. A fotografia foi feita com bastante zoom. De facto, o que se vê, pelo menos num fim de tarde como o de hoje, são uns suaves segmentos dourados que giram ao longe.
Depois as figueiras estão carregadas, tantos figos. Ainda estão pequenos e verdes, no meio de uma folhagem de um verde intenso.
Não tarda, estarão grandes, macios, rebentando, deitando leite, vermelhos e doces por dentro. Nessa altura serão uma tentação e eu tenho tanta dificuldade em resistir a tentações doces, assim.
As silvas, que há pouco estavam floridas, umas flores pequenas, delicadas, de penugem rosada, estão agora cheias de amoras. Ainda não estão bem no ponto (confirmei; como disse, há coisas a que não resisto e já as provei).
Agora estão a ganhar cor, algumas já cor de sangue vivo, macias. Mas, aos poucos, ficarão escuras, e só então ficarão doces, doces, deliciosas. Gosto tanto de amoras, selvagens, ínfimos bagos sumarentos.
E depois o alfazema.
Aqui, para me perceberem, deveriam ter convosco uma espiga de alfazema, esfregá-la na palma da mão, fazer com que o odor se soltasse, aspirar suavemente. Que bem que cheira à tardinha, quando o sol faz a planta suar e o perfume no ar é forte, limpo.
Amanhã vou apanhar e fazer raminhos, ato-os e ponho-os em lugares estratégicos. Fica tão bonito e fica tudo tão cheiroso, vêm-me à ideia as gavetas com lençóis de linho, barras bordadas a ponto Richelieu ou com renda, tudo imaculado e a cheirar a lavadinho, a lavanda natural.
Também apanhei alguns orégãos e amanhã a ver se apanho mais. A minha mãe seca-os à sombra, depois põe em frasquinhos que distribui pela família. Não dispenso para temperar a salada de tomate. Cheiram tão bem, sabem tão bem.
Quando andava por ali, feliz, feliz mesmo, reparei na minha sombra no meio da terra pedregosa (agora sequíssima, há tanto tempo sem chover e com este calor marroquino), terra que tanto amo, e fiquei contente por estar ali, impregnada nela, e feliz também por estar pelo meu próprio pé, a andar sem apoios. Fotografei-me para registar o momento e partilho-a aqui convosco.
É uma imagem a la Giacometti, pernilonga, a sombra alongada com que o sol, antes de se pôr atrás dos montes, nos presenteia. Sou eu a fotografar a mulher renascida cujas células vivem inscritas nesta terra, nestas pedras, nesta vegetação campestre, aqui in heaven.
Comecei hoje, portanto, as minhas férias e estou no sítio, em todo o mundo, onde eu sou mais eu.
*
Já agora, convido-vos a ver a Kate Moss, bad girl, uma moça que também renasceu, que também se levantou - e andou por um heaven fresquinho até que chegou ao inferno do calor (comigo o percurso foi ao contrário pois, primeiro, passei por um calor dos diabos e só depois é que cheguei aqui, in heaven, dando, então, com uma temperatura muito amena; e, agora, de noite, até está uma aragem fresquinha, mesmo boa). Mas ela, no fim, foi deitar-se outra vez... e eu não! Eu já me aguento bem de pé! Aleluia!
**
E é isto, meus Caros Leitores.
E a vocês desejo que se divirtam, que descansem, que se animem: be happy! Enjoy!
Boas férias!
ResponderEliminarVê-se como está feliz aí no seu heaven. Ainda bem. Aproveite bem e recupere e vá-nos contando algumas novidades.
Também começo as minhas férias segunda-feira. Mas vou sair só uma semana.
As fotos estão bonitas e a sombra esguia deu uma foto interessante.
Isso das teias de aranha...sabe que trouxe uma aranha (suponho que seria a mesma) durante meses no espelho rectrovisor do carro, do lado direito. Tinha uma teia enorme, com fios fortes, que deixava andar até ir lavar o carro. Mas durante meses a aranha voltava a fazê-la. Lavei o carro pelo menos umas três ou quatro vezes e a teia lá voltava. Finalmente vi a aranha e tirei-a. Era grandita (não a matei, deitei-a no chão e ela lá foi à vida dela). Agora já estou livre da praga..
Um beijinho e rápida e sólida recuperação
Cara UJM:
ResponderEliminarE as uvas?
Boas férias, continuação de melhoras.
Saudações cordiais,
J. Rodrigues Dias
Boas férias jeitinho. Fico feliz de já se sentir melhor.
ResponderEliminarBeijinho Ana
Óptimas férias!
ResponderEliminarFérias plenas de cheiros, cores, sensações, sabores.
Férias, enfim!
Abraço.
Olá Isabel,
ResponderEliminarVou dando notícias, sim. no entanto o meu ritmo mantém-se. Só lá mais para a noite é que me dá para pegar no computador e escrever qualquer coisa. De dia, aqui então, só me dá para laurear. Hoje já andei nas limpezas. Tenho é que, de vez em quando sentar-me pois ainda não estou completamente bem mas noto que, de dia para dia, estou melhor.
Essa da sua aranha é boa. Mas aqui não dá para ganhar 'estima' por nenhuma pois são tantas. Junto às janelas, então, era uma coisa... Com o calor que fez, as aranhas e os bichos de conta parece que tomaram a casa de assalto. Não há descrição. Hoje quase não fiz outra coisa senão andar a tirar as teias e a varrer o chão.
Já lá a vi no Palavras Daqui e dali já só a pensar em praia e férias...
Eu só daqui por uma semana é que posso ir à praia (espero que sim!) pois, para já, não dá para apanhar sol nem andar em piso mole como é a areia. Mas estou com uma vontade de me meter no mar e nadar...!
Um beijinho, Isabel!
Olá Caro José Rodrigues Dias,
ResponderEliminarPois é... as uvas... Já as fui fotografar e mais logo já as coloco aqui. Mas não estão famosas. Não sei se foi do sol violento e deste calor ou se precisaram de tratamento mas muitos cachos estão secos, nem chegaram a medrar. Alguns, os mais abrigados, sobreviveram mas não estão lá grande coisa. As videiras estão viçosas mas noto nas folhas uns pontinhos dourados.
Obrigada pelos seus votos: estou bem melhor e sinto-me mesmo contente por já poder andar por aqui a cirandar, no meio deste campo onde me sinto tão bem.
Tenha uns bons dias, dias felizes (sem pensamentos de despedidas...)
Receba a minha estima.
Olá Ana,
ResponderEliminarSabe que estou tão contente por já me sentir melhor, que já nem tenho paciência para ter grandes cuidados, até me esqueço (mas depois sou obrigada a lembrar-me porque, de facto, não estou a a100%).
Mas calha mesmo bem estar quase recuperada e coincidir com as férias e poder estar aqui no campo, rodeada pela natureza em estado puro.
Muito obrigada pelas suas palavras e dias muito bons também para si.
Um beijinho, Ana!
Olá Teresa!
ResponderEliminarPois é: estou de férias aqui no campo, 'in heaven' e, como é aqui que me sinto melhor, estou feliz da vida. Por aqui ando, fazendo limpezas, fotografando o evoluir da natureza, das sombras. Hoje, enquanto ia limpando a casa, ia fotografando. Como gosto muito de fotografar, arranjo maneira de tirar fotografias a tudo, até às coisas da casa.
E, depois, à tarde, leio, ponho a leitura em dia. Não podia querer mais.
Obrigada pela sua visita e pelas suas palavras e, para si também, dias muito felizes.
Um abraço, Teresa!