Meus amigos, acabei de escrever sobre a cimeira europeia que ainda decorre e da qual já se conhecem alguns resultados (podem ver no post logo abaixo deste). Mas agora volto ao tema de ontem em que vos contei a minha reacção quando vi, pela primeira vez, a minha filha vestida de noiva. Imaginem que hoje ela surpreendeu-me deixando ali um comentário, coisa rara (vão lá ver...). Fiquei tão contente que me apeteceu vir agora aqui escrever um pouco mais sobre o casamento dela. Vamos lá a ver se não me escapa nenhum pormenor porque, senão, sou capaz de a ter amanhã outra vez à perna...
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Um dia fomos jantar com a família do noivo para se acertarem as coisas, para se fecharem as combinações. Jantar simpático, pessoas simpatiquíssimas, um agradável ambiente familiar.
Ao contrário do nosso lado, que é gente mais desprendida de tradições e mais desligada da igreja, a família do noivo é seguidora de todos os preceitos, os must have e must be são seguidos (quase) à risca.
Inteligentemente os dois gerem bem essa situação, cedendo de parte a parte, sem sacrifício e com inteligente compreensão.
Inteligentemente os dois gerem bem essa situação, cedendo de parte a parte, sem sacrifício e com inteligente compreensão.
O casamento seria portanto na igreja, com todos os mandamentos e muitos convidados.
À mesa fecharam-se, então, os pormenores. A igreja, a cerimónia, o copo de água, e tudo o que envolve uma festa deste género.
O copo de água seria num palácio aqui perto, um palácio sóbrio, bonito, carregado de tradição, o catering ficaria a cargo de uma firma reconhecida pela sua qualidade, viram-se possíveis ementas adequadas a um cocktail de tarde e a um jantar de verão e fizeram-se as escolhas (salvo erro a ementa de jantar foi: sopa fria de melão, cestas de massa filo com camarão e mais qualquer coisa de que já não me lembro, sorbet de limão, rosbife com cobertura de foie-gras acompanhado por cogumelos selvagens e batata dauphine, buffet de queijos e doces e, claro, bolo de noiva), combinou-se quem contactava quem, quando, onde, especialmente para efeito do décor do salão, das mesas, etc, tudo em pérola, cor de chá, dourados, arranjos de rosas chá, e também o coro na igreja, o quarteto de cordas para acompanhar o jantar, DJ para o baile. Tudo certo.
Depois falou-se na cerimónia em si, na igreja, e a minha filha disse que gostava que houvesse leituras, que gostava que falassem pessoas do lado dela e dele. O noivo achava bem, gostava que o tio padrinho falasse.
Então, ao ouvir isto, e estava a ouvir pela primeira vez, saí-me com esta: ‘Mas então, eu que sou a mãe, também devo falar. Se alguém tem alguma coisa a dizer-te neste dia, sou eu’. A mãe do noivo aplaudiu logo a ideia, ‘Ah, acho muito bem, se acha que consegue, porque não?’, o pai também, os irmãos, cunhados e sobrinhos sorrindo. O meu marido e o meu filho calados, provavelmente sem perceberem que ideia era aquela, e a minha filha, incrédula: ‘Tu?! Mas vais ler um trecho da Bíblia?!’, sabendo que não sou nada dada a igrejas, nem a preceitos religiosos.
‘Claro que não. Não exageremos. Vou ler palavras minhas: o que eu acho que devo dizer à minha filha no dia em que se casa’.
Tudo impensado; a esta distância, rememorando, vejo que foi uma reacção instantânea, insconsciente, um resto de possessividade maternal em relação à minha filha.
Tudo impensado; a esta distância, rememorando, vejo que foi uma reacção instantânea, insconsciente, um resto de possessividade maternal em relação à minha filha.
Aí já se começou a fazer algum silêncio, a olharem uns para os outros. ‘Será que se pode…?’. ‘O que é costume é ler-se trechos religiosos…’, a minha filha já preocupada ‘Escrito por ti…? Mas o que é que vais escrever…?!’. Mas o pai do noivo, pessoa muito aberta a este tipo de coisas, contemporizou ‘Porque não? Parece até boa ideia. Não custa tentar.’ E virando-se para a futura nora: ‘A menina vá falar com o padre, que ele é pessoa moderna, veja o que ele diz’.
E assim ficou, os meus preocupados, a família do noivo expectante. ‘Querem ver que a noiva é certinha e que, afinal, a mãe é que é excêntrica…?’, imaginava-os eu a pensarem.
A minha mãe quando soube ficou também de pé atrás, ‘Mas para que é que te foste meter tu nisso? Agora vê lá o que é que vais escrever… vê lá a responsabilidade em que te foste meter…’. A minha cunhada e primas perplexas também, ‘Vais estar nervosa, nem uma coisa da Bíblia vais conseguir ler, quanto mais uma coisa escrita por ti… E vais escrever o quê…?! Oh pá, desiste mas é da ideia que é o melhor que fazes.’
Mas eu sou lá pessoa de desistir...?
E geralmente é sempre assim: decisões intuitivas, impensadas e depois, que remédio, tenho que lhes dar corpo. Pelo meio, algum stress, alguma arrelia (‘quem me mandou a mim meter-me nisto, senhores…?') e depois, no final, tudo a correr bem.
Portanto, fiada nisso, mantive a ideia.
Os noivos lá foram expor a pretensão ao padre, que até achou graça, ‘A igreja é de todos, as palavras das mães são palavras sempre bem vindas’. Colocou foi uma condição: o texto seria submetido à sua prévia aprovação. Achei razoável.
A minha filha, preocupada, ‘Mas ó mãe, vais escrever o quê? Vê lá bem’ e toda a gente de roda de mim, ‘Mas o que é que vais escrever?’. E o meu marido ‘Mas quando é que escreves? Estou para ver o que é que vai sair daí…’ e o meu filho gozava, já imaginando textos disparatados que pusessem a igreja toda a rir, ou um texto que o padre rejeitasse, um vexame para a mãe e, logo, para ele próprio também.
E eu, com tanta pressão à minha volta, não escrevia nada. Não havia telefonema da família que não incluísse, ‘Então, já escreveste o texto que vais ler na igreja?’ e já se riam porque não saía nada e toda a gente já insistia, ‘Desiste, pá! Ou, se fazes questão de lá ir ler alguma coisa, escolhe um texto da bíblia, não te metas em aventuras’.
E eu calma da vida, sabendo que não valia a pena forçar nada. É que nem tentava. A coisa havia de surgir do nada, como sempre acontece.
E a minha filha, ‘Olha, mãe, que é para a semana e ainda tenho que ir mostrar o texto ao padre; não é melhor despachares-te?’, ela preocupada e o resto tudo na maior galhofa, já a imaginarem situações hilariantes.
Até que um dia à noite, estava a acabar a minha jornada de tapete de arraiolos, por volta da uma da manhã (hora em que a minha inspiração está a pleno), sentei-me à mesa e, de rajada, escrevi o que tinha a dizer. Lembro-me que, nesse dia, ao contrário do costume, escrevi à mão, não quis ir ligar o computador, para não interromper o fluxo.
A seguir, entusiasmada, dirigi-me ao quarto, acendi a luz, acordei o meu marido e li-lhe o texto. Estremunhado, sem perceber bem que fogo era aquele que tinha que ser apagado à uma e meia da manhã, lá ouviu, disse que sim, que estava bem, virou-se para o lado, disse-me para apagar a luz e que me fosse deitar.
No dia seguinte já não se lembrava de uma única palavra, apenas se lembrava ‘de uma maluquice quase às duas da manhã’ . Assim, face à ausência de reservas, o texto lá seguiu para aprovação.
(To be continued….)
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Nota: as fotografias deste post foram retiradas da net - destinam-se apenas a ilustrar os ambientes descritos.
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E agora, enquanto esperam pelos próximos capítulos, deixo-vos uma amostra do que pode acontece nas igrejas. Have fun!
Até amanhã!
No final do verão fui a um casamento pelo cívil, os pais do noivo (ambos) Tb leram textos... no final os noivos agradeceram aos pais e aos "presentes" foi lindooooooo, de humor e de emoção.
ResponderEliminarFelicidades para os seus jovens casais.
Olá Rosa Amarela,
ResponderEliminarPois, é uma emoção muito grande e momentos de grande felicidade.
Obrigada, por eles.
Estou a adorar esta descrição dos preparativos do casamento.
ResponderEliminarQue escreveu? Morro de curiosidade.
Quando o meu filho casou, pela Igreja, por vontade da noiva e dos pais, eu julguei que me ia ser quase indiferente. Fui educada católicamente mas, os anos fizeram-me sentir, uma certa indiferença por religiões. Os meus filhos não receberam qualquer ensinamento religioso. No dia do casamento, tive que dar instruções ao noivo. Fiquei perto dele e, baixinho, ia-lhe dizendo o que fazer. Resultou.
Enquanto as lágrimas caíam, ia dando indicações.
Portou-se bem.
Beijinho
Maria
Olá Maria,
ResponderEliminarEu sou também assim. Recebi educação católica mas achei que não deveria baptizar os meus filhos. Eles que se baptizem se o quiserem. No entanto, por razões de ordem prática, andaram num colégio diocesano e tiveram aulas de religião e moral. Mas não fizeram a catequese.
Por isso, a minha filha diz que casou na igreja, não pela igreja. Mas convivemos todos muito bem com quem tem fé e pratica os preceitos religiosos.
E, de resto, para ela, a igreja permitia o 'aparato' e aquela aura de glamour com que ela sempre tinha sonhado.
Já o meu filho se casou no civil mas numa cerimónia também fantástica, muito diferente, mas igualmente envolvente e feliz.
Sobre os preparativos e como me saí da empreitada em que me meti, a ver se hoje consigo escrever. Senão, ficará para amanhã. São momentos que recordo com muito prazer.
Um beijinho, Maria.