terça-feira, julho 19, 2011

Sobre religião, sobre a igreja católica, sobre a fé - apontamentos e fotografias no Santuário de Fátima

Apetece-me falar de tantas coisas que, por saber que tenho que tentar ser sintética e, logo, deixar cair vários assuntos, fico sem saber de que falar. Como de costume, começo a escrever late in the night, passa da 1 da manhã, e, por isso, como de costume já tenho algum sono.

Não escrevo há alguns dias por absoluta impossibilidade, um reboliço grande, os meus meninos e menininhos a encherem o fim de semana de alegria, depois, nesta família, há uma concentração inusitada de caranguejos e, logo, de festejos (como poderei recuperar a linha perdida?), férias a começarem, e, por isso, até agora nem um minuto de descanso.

Mas, neste momento, estou aqui tranquila na minha sala de cores quentes, um candeeiro de pé iluminando a mesinha em que trabalho - sinto-me muito bem neste ambiente acolhedor e o ar fresco do exterior ainda apela mais a isto, ao recolhimento, ao aconchego.

Pois bem, não sendo agora momento para grande conversa, vou passar por cima da preocupação que a indecisão europeia me provoca, vou passar por cima das preocupações provocadas pela rarefacção de dinheiro, vou passar por cima dos cenários de catástrofe que gente tida, neste país, por bem informada, traçou no outro dia para uma plateia restrita de que eu fazia parte.

E, assim sendo, vou directa do tema do medo ao tema da fé.

Já um dia aqui referi os dias que, na minha memória, estão associados à Primeira Comunhão, com o perfume das rosinhas de maio, os vestidinhos de renda, os cântigos da Avé Maria.

Andei na catequese, fiz a primeira comunhão e a comunhão solene (nesta, com 9 anos, fui vestida de freira, imagine-se: um vestido simples, direito, de manga comprida, cor de pérola, com um cordão na cintura e um véu do mesmo tecido na cabeça - não faço ideia porquê esta indumentária, se calhar era normal, não sei).

Depois ainda continuei, por mais uns dois ou três anos, a ir à missa ao domingo. Os meus pais não iam e, por isso, eu e outras pré-adolescentes arranjávamos esse pretexto para, em grupo, irmos passear, passeio que englobava a ida à igreja.

Desde que me lembro, sempre achei todo aquele preceituário uma coisa desajustada à realidade. A catequese nada me dizia: pelo contrário, pareciam-me impossibilidades e incongruências. Tirando o lado histórico, tudo o resto era pouco ou nada credível (milagres, anjos que anunciam a gravidez a jovens, ressurreição, etc), parecia-me fantasia a mais e, por isso, ao não acreditar, nada do que se seguia fazia sentido.

Depois, aquilo de haver um menu de pecados parecia-me um disparate. Incomodava-me muito, sendo criança, ter que ir confessar os 'pecados' a um padre que se sentava do lado de lá, escondido, e ter que o fazer estando ali ajoelhada (que eu sentia que era quase uma auto humilhação) e, pior, o facto de achar sempre que não tinha pecado nenhum a confessar e, ainda assim, ir, obrigada, contar uma insignificância como se fosse algo de condenável - tudo aquilo era para mim uma coisa forçada, que fazia a contragosto, quase revoltada, por obrigação (já não me lembro de quem, mas talvez da catequista).

À medida que fui crescendo, o meu lado racional foi-se afirmando. O porquê das coisas é algo que persigo desde sempre e, claro, com este pendor lógico e determinístico, não me detenho em fantasias, em crenças.

Por outro lado, a prática da igreja católica é, de forma geral, conservadora e contrária a uma liberdade de princípios que defendo e não me revejo nas causas 'fracturantes' que defende.

Por isso, logicamente, não me casei pela igreja, nem batizei os meus filhos (não nasceram de pecado, pelo que não tinham pecados a limpar; nem era justo que optasse por eles, ligando-os a uma religião ou a uma igreja). Contudo, andaram num colégio diocesano e tiveram aulas de religião e moral e nunca os tentei influenciar sobre ideologias ou religiões. Que pensem e decidam por eles, sempre foi o que pensei.

No entanto, por contraditório que possa parecer, gosto de visitar igrejas ou santuários - mas como outsider.

Gosto do silêncio das igrejas, da luz e do cheiro das velas, das imagens religiosas, gosto de ver o recolhimento e devoção dos crentes, gosto dos cânticos religiosos (dos clássicos, não das baladas pimba que às vezes agora tocam nas missas).

E de tal forma sou contraditória nesta matéria que, in heaven, não descansei enquanto - para estupefação e incompreensão de toda a gente - não criei um espaço a que chamo capela e no qual gosto de estar sozinha.

E a que propósito vem tudo isto, perguntarão os meus queridos leitores?

Pois. Estive em Fátima e andei pelo Santuário. De noite. Decorria o Terço (explicaram-me - porque eu pensava que era missa, seguida de procissão). Pessoas a andar de joelhos, pessoas de mãos postas, pessoas a rezar em uníssono, pessoas a cantar com velas nas mãos.

Eu, por ali, às escuras, como sempre a fotografar. Mas aqueles cânticos, aquela devoção, a fé daquelas pessoas, tudo aquilo me toca. Não percebo porquê mas toca-me, envolve-me, comove-me.

Estava muito frio, um agreste vento frio, não tinha luz para fotografar e claro, o flash ali não servia de nada nem era adequado, mas por ali andei, fotografando, observando de longe, incapaz de me juntar ao terço, incapaz de me benzer, de rezar ou de cantar  - mas por ali andei.

E, emocionada, ia vendo as fotografias que, apesar da escuridão, me iam saindo. Estas são algumas.

Nossa Senhora, a piedosa imagem - de todas as imagens religiosas é a imagem da Mãe a que prefiro

Na zona mais iluminada, sobretudo pelas velas, religiosos, peregrinos ou apenas crentes, rezando na noite fria

Imagem de Jesus Cristo na cruz, fabulosa escultura junto à Igreja Nova, com 34 metros de altura da autoria de Robert Schad - a extraordinária força de um homem que morreu pelas suas convicções

Entrada da Igreja da Santíssima Trindade, da autora do arquitecto grego Alexandro Tombazis, um local quase mágico (pelo menos a minha câmara assim o captou)


Pórtico de entrada na nova Igreja da Santíssima Trindade, vendo-se ao fundo a Basílica de Nossa Senhora de Fátima

O que é ter fé? Acreditar sem compreender? Ter fé significa acreditar que há um Deus? Acreditar sem questionar?

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