quinta-feira, julho 28, 2011

De olhos abertos com Marguerite Yourcenar, la belle Dame de Petite Plaisance

Outra vez quase duas da manhã. Todos dormem, de vez em quando alguém se mexe na cama, o bebé vai fazendo uns barulhinhos e eu acabei de actualizar o Ginjal e Lisboa, a love affair (desta vez com Maria Teresa Horta - on fire, as usual) e o Street Photo & Co. (com mais uma cena de praia) e de, no post baixo, falar do meu amorzinho que veio para trabalhar aqui, in heaven.

Tenho este espírito missionário ou proletário (nem sei classificar), parece que sinto a obrigação de cumprir com os meus deveres. Claro que tenho o discernimento de perceber que ninguém me obriga, ninguém me exige e, se calhar, ninguém precisa mas, que querem?, sou assim.

Ou então não é nada disto: é uma necessidade minha, um prazer a que tenho dificuldade em furtar-me.

Seja, como for, a estas desoras aqui estou. Contudo, claro, tenho que aligeirar a coisa e, além disso, ando um pouco desfasada da realidade, mal vejo televisão, jornais nem pensar e internet é só de raspão para espreitar os meus amigos. E, se derem com algumas letras trocadas e vírgulas fora do sítio, sejam, por favor, benevolentes.

Hoje quero dar-vos conta do livro que ando a ler - mas podem imaginar o ritmo e a concentração... Mas estou a gostar muito e, por isso, quero partilhar convosco um cheirinho. Chama-se 'De olhos abertos', Marguerite Yourcenar, conversas com Matthieu Galey.


Logo na capa esta bela fotografia de Marguerite num jardim de pedras (quase parece o meu), na sua casa a que chamou Petite Plaisance.

O prefácio começa com uma frase dos 'Arquivos do Norte': Amasso o pão, varro a soleira da porta, depois das noites de ventania, apanho os troncos do chão [...] - e, neste aspecto em particular, eu imediatamente me identifico com esta mulher (excepto no pormenor do pão que, depois de duas ou três tentativas frustradas - ora cozia depressa demais e ficava uma pedra dura ou ficava mole e incomestível - foi assunto que deixou de me interessar).

Marguerite Yourcenar (1903 - 1987), uma mulher livre

Já aqui referi várias vezes que gosto de conhecer - através de biografias, correspondências, diários, entrevistas - a vida dos artistas, nomeadamente dos escritores como agora é o caso. O processo criativo e a sua vida normal despertam-me curiosidade (é o meu lado voyeur, com a atenuante de que só se costuma manifestar desta forma e em relação a pessoas que têm actividades criativas).

Diz Marguerite Yourcenar e a comparação com a árvore encanta-me : Cada livro nasce de uma forma muito particular, um pouco como uma árvore. Uma experiência transplantada para um livro leva com ela os musgos, as flores selvagens que estão à sua volta, nessa espécie de torrão onde ficam presas as raízes.

Sobre a vida algo nómada do pai, de que ela foi muito próxima, umas tiradas deliciosas: Seria o último homem a passar a alguém qualquer tradição. Um dos seus axiomas favoritos era "Onde é que se pode estar melhor do que no seio da família? Em qualquer lado." E também: " Só se está bem noutro sítio"

Sobre o amor e sobre a assimilação entre o amor e a doença, diz: Já os antigos a faziam, justamente por causa do perigo que comporta. Não penso, como acreditou uma parte da literatura francesa, que o "amor" seja o centro da vida, da existência humana, pelo menos não continuadamente. Será antes o seu abismo ou o seu cume.


Como são fantásticas as pessoas livres, as pessoas que amam as palavras. Como são eternas as pessoas que plantaram dentro de nós as suas palavras.

Tenham um bom dia!

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