segunda-feira, junho 13, 2011

No dia de Santo António, santo casamenteiro, 'Viagem ao amor' e, en passant, também à felicidade - as novas descobertas científicas (Eduardo Punset dixit)

Ontem escrevi um post sobre o comportamento tão tipicamente português, que tão patente está em grande número de blogues - a descrença, a maledicência, o fatalismo, a autocomplacência - que nesta altura crítica da nossa existência, mais que nunca, não nos faz qualquer falta.

E agora, para aliviar das tensões políticas e, sobretudo, porque o dia é dia de marchinhas e balões, de casamentos múltiplos e manjericos, vou falar sobre um tema muito pouco erudito mas muito apropriado ao dia: amor.


Acabei hoje o último livro de Eduardo Punset (homem de múltiplas formações académicas, múltiplas profissões, agora essencialmente divulgador científico), 'Viagem ao amor - as novas descobertas científicas', no qual, através de recolha de múltiplos testemunhos junto de investigadores de renome e do estudo de numerosos estudos científicos, Punset faz uma viagem aos diversos mecanismos (essencialmente biológicos) que explicam a necessidade, o despoletar, a conservação e o fim do amor.

Diz ele, na introdução, que resolveu agora escrever um livro sobre um tema aparentemente tão banal porque, do contacto que tem tido por pessoas de todo o mundo, lhe pareceu que há uma apetência por temas que são de facto relevantes uma vez que 'As minorias estão amplamente servidas e mais que representadas, ao passo que a grande maioria vive desamparada', ou seja, ninguém escreve sobre assuntos que interessam às maiorias. E que o amor, é de todos, talvez aquele que mais interesse desperta a toda a gente.

Não vou dar-me ao desplante de tentar resumir o livro, nem sequer irei falar de hormonas para não ter que me alongar excessivamente. Vou apenas deixar algumas transcrições, aquelas que, de alguma forma, me parecem ilustrativas de verdades comuns mas cientificamente comprovadas. Todo o livro está repleto de referências a nome de cientistas, de Universidades, de revistas da especialidade, que fundamentam o que Punset vai enunciando. Nestas breves transcrições vou abster-me de também as citar, para que o texto não saia muito sobrecarregado.

Fusão

1. Sobre a influência da infância

A forma como o amor adulto se desenrola é forjada no ambiente maternal da infância.

Da mesma maneira que expectativas desmesuradas podem provocar uma resposta distorcida na criança, uma criança que convive com expectativas negativas e stressantes (‘se fosses bonito,,,’, ‘és um preguiçoso e sempre o serás…’, ‘és tão cobarde como o teu pai’) molda-se facilmente ao que se espera dela.


Sintonia

2. Sobre o que conduz ao amor

O amor desvanece o conceito de si próprio, ameaçando destruir as barreiras que separam dois seres e, em todos os inquéritos efectuados entre apaixonados, constata-se que a busca desta fusão prevalece sobre o desejo sexual.

Sentimo-nos cativados quando nos entretêm e nos arrancam da solidão.

Segundo Hermann Weyl (1885-1955) matemático alemão e grande amigo e colega de Einstein, ‘a simetria é a ideia através da qual a humanidade, em todos os tempos, tentou compreender e criar a ordem, a beleza e a perfeição’. As últimas investigações apontam também para a simetria como o factor de decisão na selecção sexual.

Numa investigação realizada, detectaram que as mulheres tendem a sentir-se atraídas pelos homens que as fazem rir, ao passo que os homens gostam mais das mulheres que se riem das suas piadas.

É necessário um nível moderado de stress para se começar uma relação. A fase inicial do amor assemelha-se a uma montanha russa hormonal, com subidas e descidas bruscas que estimulam os diferentes estados necessários de modo a fazer com que uma boa relação possa estabilizar-se mais à frente. Quem é que não se reconhece numa situação como esta, característica da paixão imprevista? É algo químico e repentino, mas que já possui todo o potencial do amor absoluto. Não é o momento adequado para a calma. Baixam os níveis de serotonina. Simultaneamente, surge uma recusa em deixar-se arrastar imediatamente por estímulos novos que alteram compromissos já adquiridos.

Pintura que fiz há tempo sobre Mulheres

3. Sobre o sexo e sobre as diferenças, nesta matéria, entre homens e mulheres

A mente regula a libido feminina muito mais que nos homens.

O espaço cerebral reservado às relações sexuais é duas vezes e meia superior nos homens face às mulheres, ao passo que nas mulheres os circuitos cerebrais activados com a audição e com as emoções são mais numerosos.

O orgasmo da mulher requer primordialmente uma inibição quase total do seu cérebro emocional, ou seja, uma desconexão de emoções como o medo ou a ansiedade. Ou seja, em linguagem corrente, para fazerem amor as mulheres necessitam de estar livres de preocupações em maior medida que os homens.

Partilha

4. Sobre o desamor e sobre a possibilidade de se renascer

O que se ignorava é que a ausência física durante muito tempo mata o amor. O que, de facto, interessa é a frequência dos impulsos amorosos. O amor não resiste à inexistência prolongada de manifestações amorosas.

A antítese do amor não é o ódio, mas sim o desprezo. Não há relacionamento que resista quando um dos membros do casal sente desprezo pelo outro.

O desamor tem efeitos potentes na psicologia das pessoas: por um lado, desestrutura e, por outro, aquele que é rejeitado não se sente digno de ser amado. É um efeito duplamente negativo.

Contudo...

Os efeitos da passagem do tempo eram imprevisíveis até que a Biologia Molecular permitiu aos neurocientistas penetrar nalguns dos seus segredos. Passado seis meses sobre um grande contratempo pessoal, a mente já o digeriu, a vida, que parecia inconcebível após a desgraça, começa a perfilar-se de novo e a esperança renasce.



Ternura, felicidade

X. (Nº extra) - Sobre a felicidade

A felicidade é a ausência de medo.

Por outro lado, quando se espera um acontecimento daí por algum tempo (um casamento, um nascimento) o maior erro que se pode cometer é desperdiçar a felicidade que ressuma todo o processo de busca. A felicidade está na sala de espera da felicidade.

Comprovadamente verifica-se a tese do neuropsiquiatra Elkhonon Goldberg catedrático de Neurologia da Universidade de Nova Iorque: o nível de felicidade aumenta à medida que a idade avança.


Felicidade

Aos meus leitores desejo grandes amores e muita felicidade!


Nota

Tinha-me esquecido de uma coisa e, por isso, horas depois de ter publicado o post, volto a ele porque não apenas é importante como de grande utilidade:

Magnífico mas vamos lá ver se alguma pavoa o quer

Em grande parte das espécies, os machos tentam conquistar as mulheres exibindo os seus dotes, mostrando que são melhores que a concorrência: abrindo a cauda, emitindo ruídos, realizando danças, mostrando os músculos e tudo o mais que se sabe porque, de forma geral, claro que são as fêmeas que escolhem qual o macho com querem ficar. Com a espécie humana é assim, como é sabido, desde o Adão e Eva (apesar da escassez da oferta, na altura).

Penso que todos os homens que me estão a ler já perceberam isso há muito tempo mas agora podem ter mesmo a certeza, sobejamente comprovada em tudo o que é College, Institute, and so on. Têm (ou tiveram, consoante o estado) mesmo que mostrar do que são capazes para que as mulheres possam (ou pudessem) avaliar bem antes de se efectuar a escolha. Não há volta a dar. C'est la vie.



PS: O livro é uma edição da Dom Quixote de Maio de 2011 e as frases que constam dos vários pontos numerados, conforme referi, tão transcrições, embora não estejam entre aspas. Com excepção da 1ª fotografia (casamentos de Sto António) e a do magnífico pavão, as outras fotografias são, como é costume, feitas por mim.

2 comentários:

  1. Olá!
    Cheguei aqui através do blogue da Laurinda Alves e gostei imenso de tudo quanto li.
    Obrigada por partilhar estas belas leituras.
    Se me for permitido, continuarei a vir aqui saborear tão lindos Posts.
    Abraço. Lia

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  2. Olá, Lia, boa noite,

    Muito obrigada pelas suas palavras. É bom saber que o que pensamos e escrevemos é lido e apreciado por outras pessoas.

    Volte sempre.

    Um abraço,

    JM

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