sexta-feira, maio 20, 2011

TSU, descer ou não descer: eis a questão - ou melhor, a falsa questão

Grande parte desta campanha tem girado em torno do tema da TSU, taxa social única. Já ouvi alguns dos líderes partidários, nos debates, a afirmar que é o tema mais importante desta campanha e os entrevistadores, acríticos como de costume, esmifram esta questão à saciedade como se daqui se pudesse inferir quem é o melhor político, o mais rigoroso, o mais verdadeiro.

Pois eu tenho a dizer-vos que eu, de toda esta conversa, só posso concluir que está tudo doido.


Alguns académicos que nunca puseram o pé numa empresa engrendraram esta solução e a partir daí lançou-se a confusão. Não há cão nem gato que não opine como se fosse a questão decisiva para o futuro de Portugal. Nisto o Catroga tem razão: os jornalistas, como pouco percebem do assunto, vão atrás de qualquer osso [sou mais polida que o Catroga...] e são notícias e mais notícias, comentadores e mais comentadores instados a pronunciar-se sobre esta lasquinha, que isto que nem osso é. E, enredados nisto, em poucas coisas de jeito se fala.

É certo que as nossas empresas têm alguns problemas de competitividade e, não tendo nós liberdade cambial, não poderemos usar os mecanismos da desvalorização da moeda. E, não o podendo, teremos que tentar obtê-la por outra via. Mas a solução não passa por esta propalada redução da TSU.


Passo a expor a minha opinião.

Nas empresas que produzem bens transaccionáveis, de forma geral, os custos com pessoal não são a maior parcela de custos (nas empresas de serviços, sim, mas não é aqui que a questão se coloca). Mais relevantes são os custos com as matérias primas, com as utilities (energia eléctrica, água, vapor, etc), com transportes, com a depreciação das máquinas, etc.

Mas, por excesso, vamos admitir que os custos com pessoal são 20% dos custos totais (há dias ouvi referir que, em média, são da ordem dos 15 %).

Uma redução de 4% na TSU, significará uma redução de 0,8% (=20% x 4%) nos custos totais.

Ora alguém perde negócios por 0,8%? Claro que não.

É certo que qualquer empresário ou gestor quer baixar custos, não apenas para ganhar competitividade como para aumentar resultados mas as coisas não se passam à volta de menos de 1%. Para fazer alguma diferença ter-se-á que falar em reduções para cima de uns 3 ou 4 ou 5% (ou mais), coisa que não se consegue, portanto, através de reduções na TSU.

Ou seja, se se reduzir 4% (ou mesmo 8%) na Taxa Social Única, os custos dos produtos baixarão em média 0,8% (ou 1,6%) o que é praticamente irrelevante em  termos de competitividade e, por outro lado, estar-se-á a dar uma machadada violenta nas receitas da Segurança Social, que só poderá ser compensada à custa de uma valente subida de outros impostos (perdendo-se, às tantas, a competitividade pelo aumento de preços!). Ou seja, uma panaceia perigosa para escasso ou nulo benefício.

Deixem ainda contar-vos uma coisa: hoje participei num evento em que foi apresentado um estudo realizado junto de umas dezenas de médias e grandes empresas portuguesas agora em Maio. Tendo sido inquirido quais as principais preocupações a nível de recursos humanos, menos de 30% das empresas referiram a preocupação com custos com pessoal. Ou seja, para as empresas, os custos com pessoal não são o nó górdio da competitividade empresarial.

A maior preocupação das empresas é atrair e reter talentos, é motivar os colaboradores
(Claro que me refiro às empresas a sério)

Deixem-me ainda dizer qual a minha opinião pessoal. O que há verdadeiramente a fazer é melhorar a gestão das empresas a vários níveis: vender melhor, ter uma oferta diferenciada, ter um bom serviço pré e pós venda, ter uma boa logística, comprar melhor, reduzir existências, cobrar bem, optimizar os processos de produção, os processos administrativos, etc. E isso é, de facto, o mais difícil. Mas é isto que tem que se perseguir. 

(Claro que, no âmbito da optimização de processos, pode haver alguns postos de trabalho que se tornem redundantes mas isso é marginal e, geralmente, as empresas tendem a reconverter esses postos de trabalho)

Ou seja, se nas áreas de custos se conseguir economizar alguns pontos percentuais ou se conseguir aumentar o valor das vendas, e se tiver um bom serviço, ou se tiver uma oferta inovadora, então, sim, estar-se-á verdadeiramente a melhorar a competitivade das empresas e a garantir a sustentabilidade da economia portuguesa.

Agora andar meio mundo a remoer sobre se desce ou não desce a TSU e se é 1 ou 2 ou 4 ou mesmo 8% é de quem não faz a mínima ideia de quais os factores relevantes na gestão das empresas.

Por isso, não me venham mais com conversas de reduçõesecas na TSU

 

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