terça-feira, abril 05, 2011

Nem Sócrates na entrevista à RTP1, nem Cavaco Silva e a sua lição sobre o FMI, nem o insuportável Miguel Relvas: nada disso. Hoje o tema é 'Porque não vão os portugueses a museus mesmo quando a entrada é gratuita?

Lamento desiludir os vários visitantes que hoje entraram aqui no Um Jeito Manso à procura de comentários à entrevista do Primeiro Ministro ou à procura de tricas entre Cavaco Silva e Sócrates ou à procura de exemplos de insourcing em Portugal ou outras questões importantes desse género.

Não, hoje não há nada disso.

Depois do trabalho fui visitar o baby que hoje já faz 4 dias e o seu mano velho (que nem 3 anos tem) mais os ensonados progenitores e, quando cheguei a casa, já a entrevista estava a terminar.

Vi agora na televisão aquela garota impertinente, a Ana Drago, a quem os media insistem em dar tempo de antena, vi também um rapazola do CDS sobre quem já uma vez aqui escrevi mas de quem agora não me lembro o nome, mais não sei quem, a dizerem parvoíces, pretensos sound bites (mas mordem alguém? para além do ruído, que conteúdo tem o que eles dizem?), e pareceu-me que estavam a criticar o homem de agora já não ser optimista, depois vi o Miguel Relvas (como eu embirro com aquele homem....) com uma gravata berrante e um ar sonso, a armar-se em gente que sabe de alguma coisa e a dizer que Sócrates só quer ser 1º ministro (mas oh senhores, e não é? e não foi eleito para o ser?).

De resto, não sei de mais nada, só sei o pouco que ouvi no carro, que o Obama se vai recanditar e com um grande slogan que apela à responsabilização de todos, ao envolvimento, 'it begins with us'; ouvi também que a água radioactiva de arrefecimento da central nuclear de Fukushima foi deitada ao oceano e que dizem que daí não vem mal ao mundo... e eu fico apreensiva.

Tirando isso, nada, estou out, zen. Nem me apetece falar desta maltosa desqualificada. Esta semana, aqui no meio de bonequinhos e ambiente de bebés, não quero conspurcar o espaço.

*

Enviaram-me hoje um mail com uma entrevista de Sobrinho Simões e gostei muito (amanhã, se me lembrar, vou ver se descubro o link para o divulgar aqui).

De resto quero aqui falar de outra coisa.

No outro dia, em trabalho, estive o dia quase todo no CCB. Como me fatigam os almoços de trabalho e como adoro museus, resolvi despachar o almoço em três tempos e esgueirar-me até à exposição Mappa Mundi; de manhã, tinha bebido um café à pressa e, enquanto os demais falavam de assuntos sérios e inadiáveis, eu fui numa fugida ver o BES Photo 2011; à tarde vi a exposição do Mário Botas.

Mário Botas no Centro Cultural de Belém

Pois não havia vivalma: andei sempre sozinha.

Nas salas do Museu Coleçcão Berardo nem uma única pessoa, só eu e os funcionários. Como o chão é de soalho e eu uso sapatos altos, o meu andar ressoava nas salas e os vigilantes, que, sem visitantes, se entretinham conversando uns com os outros, ao ouvirem os passos, separavam-se e vinham colocar-se à entrada das salas. E eu ali ia, cumprimentando-os, com vontade de andar em bicos de pés para não perturbar o silêncio.

Mappa Mundi no Berardo no Centro Cultural de Belém

Apenas vi, à hora de almoço, umas 2 ou 3 turmas à entrada, presumi que iriam ver a colecção permanente.

No fim de semana fomos passear aos jardins da Gulbenkian e almoçar ao restaurante do CAM (sempre óptimo e igual, anos, após anos). Aproveitámos para ver a exposição 'Não confiem nos arquitectos', mostra do arquitecto Didier Faustino. A mesma coisa: tirando nós, ninguém.

Didier Faustino no Centro de Arte Moderna na Gulbenkian

Todas estas exposições são óptimas, a entrada é gratuita. Não entendo o que leva as pessoas a este divórcio. Em qualquer outro país, os museus fervilham de gente, de jovens, de miúdos. Aqui ninguém.

Há tempos alguém me comentou que as pessoas andam preocupadas com necessidades mais básicas, que arte é sublimação. Não sei se concordo.

A arte, o inesperado, a perspectiva diferente, tudo isso nos ajuda a procurar o outro lado da vida - e quem sabe se não é justamente no outro lado da vida que está a vida que nos espera?

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