O grande problema dos partidos tradicionais, nomeadamente, de esquerda é que não entenderam as mudanças do eleitorado. Para uma maioria significativa dos eleitores -- e o caso dos mais jovens é paradigmático --, a esquerda e a direita não significam nada e estão-se absolutamente nas tintas para os valores aceites pela comunidade nas últimas décadas.
O que interessa é o que aparece nas redes sociais. Não interessa se a informação que lhes é apresentada corresponde à realidade ou é mentira. Apenas procuram notícias que correspondam às suas aspirações, que sejam muito sucintas, sensacionais e facilmente compreensíveis e sobretudo disponibilizadas pelos seus gurus nas redes sociais. Notícias que digam mal do "inimigo" seja ele qual for, geralmente aquele que dá mais jeito ao "guru" de estimação naquele momento: imigrantes, ciganos, políticos...
O que é preciso é que existam inimigos que permitam mobilizar a massa anónima para que os gurus possam atingir os seus fins.
A esquerda não percebeu a mudança. Não conseguiu denunciar os embustes, utilizando a nova forma de comunicar, nem apresentar objetivos agregadores que correspondam às aspirações dos que têm mais dificuldades e que lhes permitam perspectivar a célebre mudança por que tanto anseiam, seja ela o que for no imaginário de cada um deles.
Os dirigentes do PSD, a começar pelo Montenegro, que tem uma enorme tendência para se esquecer dos aspectos éticos e que, nalguns casos parece que estão em cima de uma linha muito ténue entre o que é ou não admissível em democracia adaptaram-se melhor e transmitiram uma mensagem mais fácil de perceber para os que não estão para se chatear com essa maçada de ter que perceber os factos e tirar conclusões.
Mas, atenção, a subida do Chega também resulta de outros factores como aqui escrevi na noite das eleições. Como é possível que os vários canais noticiosos tenham estado horas e horas a falar do Ventura, nomeadamente, horas a filmarem as traseiras do carro da frente quando ele era transportado para o hospital. O Bernardo Ferrão veio justificar-se dizendo que era notícia. Que notícia? Estavam à espera que o Ventura se atirasse da ambulância em andamento para darem em direto?
Diversos analistas confirmam que, no período eleitoral, os media ampliaram e deram grande relevo aos assuntos favoráveis ao Chega: segurança, imigrantes, corrupção, promovendo assim esta gentinha. Tenham um pouco de clarividência e reflictam no papel que tiveram na ascensão meteórica do Chega nos últimos anos. Se forem jornalistas sérios não ficarão certamente orgulhosos do papel que desempenharam.
Também o Marcelo devia reflectir na forma como atuou e contribuiu para que a possibilidade de que, quando sair de Presidente, o líder de oposição possa vir a ser o Ventura já não seja uma abjecta ficção. Foi, como disse o Júdice, o pior presidente dos últimos cinquenta anos.
Os dirigentes do PSD, que para salvarem o Montenegro e os seus lugares, não se importaram de provocar eleições e trazer os temas preferidos do Chega para o debate, sejam eles relevantes ou não, também deram para o mesmo peditório.
A contínua intromissão do MP na política, fazendo passar a ideia de que os políticos são, por natureza, corruptos, chegando ao extremo de fazer cair um governo com maioria absoluta, cozinharam um caldo pastoso que o Chega aproveitou para fazer passar as ideias que mais lhe convinham.
É verdade, o mundo mudou e o Ventura é um líder carismático que faz muito bem o seu trabalho, mas teve ajudas de monta para chegar onde está e, implícita ou explicitamente, a comunicação social, o Marcelo, o MP e o Montenegro ajudaram um bom bocado. A esquerda, por inépcia, também contribuiu.
Hoje li a notícia de que o Chega quer proibir a atuação do Nininho Vaz Maia na Azambuja e, apesar de envolver o comunicado num palavreado pretensamente tradicionalista, a verdade é que os motivos são absurdos e não é difícil perceber que, por trás, há uma motivação racista. É a tentativa de voltar à censura que acabou há cinquenta anos e é perigosamente parecido com o que se passou na década de trinta do século passado nos regimes fascistas. Parece-me tão grave que, antes que esta prática se expanda e o revanchismo e a arrogância anti-democrática comecem a fazer caminho, o Presidente devia ter uma palavra pública de repúdio.
--- o Presidente devia ter uma palavra pública de repúdio. ---
ResponderEliminarDEVIA pois....
E a seguir virá outro que não lhe ficará atrás.
Eu
Vou atirar-me ao mar e dizer que me empurrarem.
M.Linho
Sem dúvida.Tal como diz, hoje para a juventude, falar de esquerda ou direita, não significa nada, assim como a luta de classes, também não. As classes trabalhadoras, já não querem ser assim consideradas, porque se sentem classe média, dá outro estatuto embora com o bolso vazio, mas enfim.Os sindicatos, foram os primeiros a perceber a classe trabalhadora na deriva de --média burguesia- mas com bolso vazio.
ResponderEliminarTentar interpretar os resultados destas eleições considerando só o desempenho de PNS, é olhar para a floresta e não ver a árvore. Este resultado eleitoral, é a consequência de um trabalho de artífice politico de tal forma meticuloso, que tem um nome: Marcelo!. Este político, levou cinquenta anos a construir a derrota das forças de Abril vingando a derrota da ditadura marcelista no 25 primaveril.Percebi isto muito cedo em Marcelo, razão pela qual, sempre rejeitei dar o meu voto a presidente.Nunca me enganou.
Estou tentado a concordar com a entrada do Chega para o governo de Montenegro. A razão é simples -- ainda que arriscado--, o Chega tem que mostrar o seu mau (hálito) governamental a quem nele votou, tem que mostrar o verdadeiro programa, as verdadeiras intensões antidemocráticas que pretende para a sociedade, e assim deixar de atirar a pedra e esconder a mão. Penso, não sei se bem ou mal, veremos, só se pode desmascarar e combater um partido deste calibre com as mesmas armas depois de na prática mostrar o que vale, embora sabemos todos os que nele não votaram, que nada vale. Não vejo outra saída para se combater um populismo destes com quem não vier a jogo com as mesmas armas.
Ainda não perceberam que, o mundo de hoje não se divide entre esquerda e direita , que a esquerda não têm o monopólio dos valores que, todos devemos ter, para, uma certa esquerda ,só interessa as minorias , não interessa reformar o país , são hipócritas ao falarem no feminismo e depois aceitam que, em Portugal as mulheres muçulmanas sejam obrigadas a estarem tapadas de cima abaixo,vão acabar por desaparecer...
ResponderEliminar"A VOTAÇÃO DA VERGONHA"
ResponderEliminarHoje, Portugal ajoelhou-se. Não por fé, mas por cobardia.
Hoje, uma parte do povo puxou as calças abaixo, abriu as pernas ao fascismo e chamou-lhe “mudança”.
Sim, é isso mesmo que aconteceu.
Uma força fundada no ódio, alimentada a fake news, racismo e vómito ideológico, tornou-se a segunda força política de um país que jurava ter aprendido com a História.
Mentira!
Vivemos entre analfabetos políticos com curso superior, influencers da ignorância e velhos do Restelo com saudades da PIDE.
Vivemos entre gente que confunde brutalidade com coragem, e gritaria com solução.
Vivemos num país onde se bate palmas ao Ventura porque ele “diz as verdades”.
Que verdades?
Que o pobre é vagabundo? Que o cigano é ladrão? Que a mulher deve saber o seu lugar?
Que o artista é parasita? Que os direitos humanos são mariquices da esquerda?
O que se votou hoje não foi um protesto, foi uma rendição.
Foi a legitimação da escória.
Foi dizer: “Sim, aceitamos ser governados por um partido que cospe na Constituição, que quer listas de inimigos, que só não acende fornos porque não quer respirar as cinzas.”
Não é exagero. É diagnóstico.
O fascismo moderno não entra de botas. Entra de blazer justo, voz rouca e hashtag.
E uma parte de Portugal abriu-lhe a porta, fez-lhe o jantar e ainda lhe deu a senha do Wi-Fi.
O PS falhou.
O PSD pactua.
A esquerda fragmentou-se em birras.
E o povo… o povo escolheu o grito mais alto, não a razão mais justa.
E não me venham com conversas sobre democracia.
A democracia também elegeu Hitler.
A democracia, sem memória, sem cultura e sem coragem, é só um palco aberto para monstros bem vestidos.
Se hoje tens vergonha... mostra-a.
Se tens raiva... canaliza-a.
Porque o país em que vamos acordar amanhã já não será o mesmo.
E se não fizeres nada, vais acordar um dia com a boca tapada e as mãos atadas, e vai ser tarde demais para dizer que não sabias.
Ok@Lima
O SÍNDROME DE ESTOCOLMO
ResponderEliminar(Amar o agressor)
As eleições legislativas de 2025 trouxeram uma clarividência sombria: uma parte significativa da população votou contra os seus próprios interesses, com uma convicção que está paredes meias com a cegueira. Dá pena!
Mal informados e mal formados ainda acreditam no coelhinho da páscoa ou no "4 pastorinho" ou numa qualquer igreja maná ou outras, totalmente alienados politicamente.
É o velho ditado a ganhar nova vida - o povo descalço continua a votar em quem lhe roubou os sapatos.
E desta vez ainda lhe bate palmas!
Vão lindos...a culpa é só do outro. Foi a banha da cobra nas tvs, é o tiktok, é este, é aquele, não explicámos bem, não entenderam bem...não têm cabeça...duvido que na próxima seja melhor.
ResponderEliminarFRASES IMPACTANTES
ResponderEliminarJAMAIS CONFUNDAM O POVO, com os inimigos do povo. Nunca caiam na tentação de ODIAR O POVO. Amilcar Cabral
A política é o meio através do qual homens sem principio dirigem homens sem memória. Voltaire
Uma nação que tem medo de deixar seu povo julgar a verdade e a falsidade em um mercado aberto é uma nação que tem medo de seu povo. – John F. Kennedy
A maioria dos males que o homem infligiu ao homem veio do facto de as pessoas se sentirem bastante certas de algo que, na verdade, era falso. BERTRAND RUSSEL
O servo ideal de um governo totalitário não é o nazista convicto ou o comunista convicto, mas pessoas para quem a distinção entre facto e ficção e entre verdadeiro e falso não existem mais. – Hannah Arendt
Esta mascarada enorme-com que o mundo nos aldraba-dura enquanto o povo dorme-quando ele acordar acaba . Antonio Aleixo
Por acaso Amílcar Cabral é um bom exemplo. Foi assassinado por camaradas de uma outra facção do povo, no entanto do mesmo partido
EliminarMais uma do Aleixo:
EliminarQuem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.
Eles querem impedir o Nininho Vaz Maia na Azambuja, mas a avaliar pelas duas primeiras canções do disco dele, "Raizes", bem me parece que vai ser o porta-voz da revolta contra o fascismo post 25 de Abril. Se não houver mais ninguém nessa frente, que sejam os ciganos a liderar!
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