Se uma pessoa quer falar com alguém de um banco, de um serviço público, de um hospital, do contact center de um distribuidor online ou seja de onde for o castigo é o mesmo: já sabe que temos uma app? Se ainda não a tem, instale-a. E a gente a querer que a app se f... e a ter que estar a ouvir tudo o que nos impõem: se já é cliente, digite o contribuinte, depois dizem: o número que digitou foi... Se está correcto 1 digite 1, se não está correcto digite 2. E, a seguir, agora ouça quais as opções. Digite 1 se quer isto, 2 se aquilo, 3 se aqueloutro. A seguir, se é isto clique 1, se é aquilo clique 2... e depois de muita tortura, a voz anuncia que vai transferir para um assistente. E aí ouvimos música e ouvimos e ouvimos e ouvimos até que a chamada excede o limite de tempo e auto-desliga-se. Um tormento. A gente quer chegar ao ponto em que apareça vivalma para colocar uma simples questão e não consegue. Uma máquina infernal que nos tritura a vontade.
Por exemplo, no outro dia recebi um mail e uma sms a informar que uma encomenda que seria suposto receber esta semana que passou, lamentavelmente, tinha sofrido um atraso. Mas que não respondesse para aquele endereço ou número. Liguei para um número de contacto que descobri na encomenda. Depois de conseguir ultrapassar a barreira de fogo do escolha 1, escolha 2 e digite isto e digite aquilo e depois de ouvir música durante séculos, lá me apareceu um ser vivo que me informou que da parte deles nada a fazer pois o pedido já estava no transportador. Seguidamente, o mesmo tormento com o transportador. Ao fim de quase uma hora, apareceu um ser vivo que me disse que o atraso não era deles mas sim da loja online. Desisti, vencida, saturada, a paciência esgotada.
Se o mundo governado pela inteligência artificial vai ser isto, então acho que será melhor voltar ao tempo das cavernas.
E, pelos vistos, não é só por cá que, para pouparem no número de assistentes, se criam algoritmos que nos fustigam com uma bateria de selecções que dão conta da paciência de qualquer mamífero.
Veja-se o que se passa aqui abaixo:
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Olá UJM,
ResponderEliminarÉ a nova gestão pública, a copiar os "melhores" métodos privados (as empresas de telecomunicações, os CTT a eletricidade, agora a banca, etc). E este é o lado visível para o cidadão. No lado invisível temos uma massa de trabalhadores cada vez.mais precários onde predomina o outsourcing (vide o que se passa no SNS e especificamente nos serviços de urgência, com equipas formadas por médicos e enfermeiros tarefeiros, contratados à jorna).
É o admirável mundo novo do modelo de sociedade McDonald's e Amazon. Isto não é novo e já começou faz mais de 20 anos (o grande salto em frente foram os anos 90 com a "terceira via" do centro esquerda).
Eu próprio tive uma.disciplina no ensino superior de "gestão pública": uma.apologia cega de todos estes métodos. E sei que só tem vindo a aprofundar ainda mais.
Olá Paulo,
ResponderEliminarTem razão. Este sistema de atendimento tritura-nos a nós enquanto consumidores e, certamente, tritura ainda mais as pessoas que, do outro lado, nos aturam más disposições (como não estarmos mal dispostos depois da tortura a que somos sujeitos...?), más educações, impaciências agudas.
É um sistema infernal que pretende a eficiência à custa do desprezo pela humanidade que ainda há em nós.
Não pode acabar bem.
Obrigada pelo comentário, Paulo. É importante chamar a atenção para a realidade que se esconde por detrás do nosso admirável mundo novo.
Dias felizes.
PS: É verdade... no outro dia não consegui conferir: já 30 anos? Ingressou o glorioso clube dos trintões?
Olá UJM!
EliminarPreocupante mesmo. Até porque a nova febre dos algoritmos está a tornar tudo isto ainda mais perverso (sugiro interagir com o apoio ao cliente da Vodafone e aquele magnífico ser cibernético que nos recebe - o Tobi): é que já nem dá para resolver as coisas ao estilo do Herman e da sua fúria contra os eletrodomésticos (naquele célebre programa Da "Roda da Sorte").
Isto interessa-me (trabalho com e nestas coisas mais ou menos) mas assusta-me o que eu próprio crio muitas vezes.
PS: já faz um bom tempo, bem mais que 30: trintão. Sou geração y de "gingeira" (rótulos sociais importados do marketing ficam sempre a matar - literalmente).
Abraço UJM!
PPS: e julgo que também terá entrado no novo ano recentemente! Que venha cheio de aventuras! Deixo-lhe um presente de que muito gosto: https://youtu.be/YEM8TspcCBY