Abaixo dediquei-me à pornografia. Conto, claro, com a benevolência dos meus Leitores que já sabem que sou dada a actos desesperados quando me quero alienar da triste realidade. O striptease e uns corpinhos bem feitos sempre têm mais graça do que especular sobre a choldra que se abancou nos órgãos de poder cá do burgo.
A verdade é que estou com a maior das dificuldades em dedicar-me à crítica relativamente ao que se passa em Portugal, em especial no que se refere aos pontos de contacto com a realidade grega. Custa-me. Causa-me repulsa. Por aqui tenho andado a ver se lhes fujo.
Estive a folhear a Ana de Amsterdam da Ana Cássia Rebelo e O crocodilo que voa, entrevistas a Luiz Pacheco. Pensei: há semelhanças entre eles? Ela gostaria de ter conversado com ele. E ele achar-lhe-ia graça, tensa, ela. No outro dia passei ao pé da residência para idosos Haja Deus e lembrei-me da crónica do semáforo. Lá estavam os anões. Depois pus-me a folhear Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou, Norberto Nunes pinta poemas de Fernando Pessoa. Cheirei o livro, tacteei-o. O prazer que deve ter dado a fazê-lo. Depois estive a ver vídeos de bailado. Pensei: vou fazer um post com excertos daqui e dali que é bom é respirar ar puro, dançar à luz limpa, saber os pensamentos de quem sabe pensar.
Mas, enquanto me debatia para me alhear, a amarga realidade não parava de me puxar.
Gaita. Vou ter que ceder.
Gaita. Vou ter que ceder.
Os gregos podem ter ludibriado as contas (com a ajuda da Goldman Sachs e a conivência alemã, não nos esqueçamos), podem ter autorizado reformas antecipadas a profissões que de risco não tinham nada, podem ter fechado os olhos a uma brutal evasão fiscal. Mas por que raio de carga de água nos achamos moralmente superiores a eles?
Não é verdade que temos na presidência da Assembleia da República uma senhora que se reformou bem cedo apesar de não ter exercido nenhuma profissão de risco? Não é verdade que temos na presidência da República um senhor que optou por receber a reforma por ser mais alta que o ordenado de presidente e que ganhou uns trocos valentes com umas acções duvidosas de um banco que foi para o buraco por fraudes e má gestão e que era gerido por um amigo seu?
Não é verdade que num espaço de poucos anos e sob a vigilância cega dos reguladores foram para o buraco não apenas esse mas mais uns quantos bancos, lesando o património de muita gente honesta?
Não é verdade que muitos supostos honoráveis cidadãos eram especialistas em evasão fiscal? Não é portuguesa uma família que estourou com as fortunas de muitas outras, enviando para o desemprego muita e muita gente?
Não é português um brilhante gestor que arruinou uma grande empresa portuguesa e agora ainda vem reivindicar milhões de prémios que não recebeu na altura para pagar menos impostos?
(Etc)
E não é em Portugal que são precisos meses para convocar eleições? Dias e dias para formar governo? Tempos e tempos primeiro que comecem a mexer-se, levando os primeiros meses a culpar o governo anterior e outros tantos a destruir o que o anterior tinha feito?
(Etc)
Então por que raio de carga de água é que essa cambada de papalvos para aí anda a menear as ancas armados em baronesas na mula russa? Que nós não somos a Grécia? Que nós é que estamos bem? Afundados em desemprego e pobreza e nós é que estamos bem?
Não há pachorra!
Ao longo destes anos tenho-me debatido com a dúvida: a gente deste governo é mal intencionada ou simplesmente ignorante? A minha análise pende para esta última hipótese. Não lhes tenho visto miolos para terem uma ideologia. Salvo uma ou outra honrosa e rara excepção, só burrice. Incultos, pouco dados ao conhecimento, medíocres, fraquinhos, fraquinhos, fraquinhos.
Juntaram-se uns quantos jotas e arraçados, pouco escolados, nada dados à aritmética, marrões de meia tigela que ficaram com umas quantas patacoadas coladas com cuspo, incapazes de perceber o que ouviram, incapazes de adaptar essas cábulas mal marradas à realidade - e resolveram armar-se em governantes. Contam com um feitor que lhes apara todos os golpes, todas as burrices, e contam com uns quantos papagaios avençados que se empoleiraram nas televisões e jornais e que, faça a cambada a a porcaria que fizer, a louvam.
E, portanto, com gente desta estirpe foi o que se viu. Na altura em que os banqueiros estrangeiros que cá tinham dinheiro se assustaram com o ataque dos fundos abutres e resolveram engendrar uma estrangeirinha para virem cá sacar à força o seu, contaram com os bajardolas do costume, aqueles que sempre se deitam de perna aberta, os engraxadores e bajuladores de serviço, os que gostam de andar à trela, de apanhar com a chibata e que ainda choram por mais.
O que espanta é como esta cambada conseguiu convencer tanta gente. Os pobres coitados que tinham comprado um plasma, os pobres coitados que andavam a pagar a prestações umas férias a Quarteira e arredores, os pobres coitados que iam ao centro comercial comprar roupa nos saldos, toda essa gente se deixou convencer que era sua a culpa de tudo isto. Um que com a voz bem colocada convenceu os incautos de que sabia do que falava, disse que tínhamos que empobrecer, depois xingou-nos, que éramos uns piegas, outro disse que os jovens emigrassem, outro disse que éramos um protectorado, e à vez baralharam e deram de novo toda a espécie de engodos, de enganos, de trapalhices. Pode a realidade desmentir todos os seus embustes, pode a dívida estar muito mais alta do que então, o desemprego maior e mais duradouro, a economia débil, o investimento paralisado, a demografia em regressão, que ainda há por aí quem ache que todo este bouquet de indignidades foi um sucesso. Custa a perceber mas é verdade.
Aparecem agora os gregos a levantar-se e a dizer que isto não resultou, que a austeridade cega não é cura, é praga, que a dívida não faz senão aumentar, que estão pobres e sem esperança no futuro e que já chega, não aceitam mais ser humilhados. Podem os que apadrinharam estas políticas vir publicamente dizer que se enganaram, que não tinham o direito de humilhar os povos com medidas que afinal estavam erradas, podem os ideólogos das teorias vir confessar o erro - que nada faz estes ignorantes perceber que andaram a fazer porcaria a troco de nada. Em vez de solidarizarem com os que, tendo recebido um voto maioritário do povo, tentam ajudar a reerguer o país da humilhação a que tem estado sujeito, o que fazem estes papalvos, estes marrões pategos, estes capachos dos schäubles desta vida? Viram as costas aos gregos e juntam-se aos burocratas que, sem voto, têm usado os povos como cobaias, pedem mais sacrifício, atiram-lhes pedras, ignoram os seus anseios, insultam-nos.
Tenho vergonha que o meu País esteja entregue a este tipo de gente.
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Bolas para isto.
Mais valia que estes desgovernados, em vez de nos andarem a phornicar, se entretivessem era a phornicar-se uns aos outros, ó cambada!
(E reparem como sou phina no uso da língua portuguesa).
(E reparem como sou phina no uso da língua portuguesa).
Uma vez mais aqui no Um Jeito Manso:
Jiri Kylian coreografou "Birth-Day" para o Netherlands Dans Theater
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A corajosa e colorida rã que cavalga o bicho mau foi fotografada por Hendy Mp.
As baleias estranhas que andam perdidas no meio dos bosques são da autoria de Alicia J. Kutchaw
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Relembro: striptease no masculino para deleite dos assistentes é já a seguir. Pornografia pouca quando comparada com obscenidades que ouvia na televisão enquanto escrevia.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira.
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Soberbo e assertivo texto, estimada UJM .
ResponderEliminarDisse, MUITO BEM !
Melhores Cumprimentos
Vitor
Subscrevo inteiramente o que aqui escreveu e estou de acordo ciom o seu comentador Vitor. Nem mais. Argumentos quanto basta para desmontar esta canalha.
ResponderEliminarP.Rufino
O problema é que há gente idiota que acredita neles, e acredita que de facto eles vieram para fazer bem a Portugal. Essas pessoas, são os jovens influenciados pelos média, que vivem numa ignorância que me assusta, culpa dos professores, que deveriam ser pessoas capazes e com o dever de abrir as mentes dos alunos para o Mundo atual e o passado, para o Direitos Humanos e fundamentais de uma sociedade nos seus espaços de liberdade.
ResponderEliminarMuitos jovens vivem numa ilusão desmedida, numa ilusão de que as pessoas se julgam pelos bens materiais que possuem, na qual acreditam que nunca vão ter responsabilidades, que os Direitos, a sua paz ou despreocupação, e a liberdade são só "coisas" adquiridas, e que nunca vão desaparecer, pois eles nem tão pouco sabem que um dia tudo isto não existia, e que muitas pessoas sofreram e lutaram por tudo isto que hoje temos. Sinto-me tão desiludida com algumas pessoas que por vezes tenho de partilhar o dia-a-dia, que fica difícil tentar explicar mais, cansei de fazer valer mais argumentos para gente idiota.
E isto assusta-me, assusta-me que os média estejam a fazer um "bom trabalho" e que os idiotas influenciados por eles (há aqueles que não são, são só mesmo más pessoas) sejam mais no momento do voto do que as pessoas que vão tentando manter-se bem informadas e livres.
Desejo, com muita determinação, e muita força, que possamos ter esperança em dias com um novo amanhecer para todos.
Bom Fim de Semana!
V