quinta-feira, janeiro 12, 2012

Quanto é que você vale? Quantos amigos tem? Quantos likes no facebook? - Veja se vale mais ou menos que Cavaco Silva, Ricardo Araújo Pereira, Nilton, Rita Pereira. (Não, não ligue a nada disso: sorria a sério, sem ser através de parêntesis).


Tenho aqui que fazer um statement. Pode parecer-vos, às vezes, que sou muito moderna.

Rihana por Annie Leibovitz

Mas, olhem: não sou. Pelo menos, não no sentido de ir atrás de modas. Zero. Pelo contrário, se meio mundo vai numa direcção, a mim já me dá vontade de ir em sentido contrário.

No entanto, qualquer assessment que me seja feito (ah, estas modernices… assessments para nos espiolharem a alma e verem os nossos gaps), revela que sou o que se chama uma early adopter. Ou seja, se a coisa me ‘cheira’, adopto-a mesmo que antes nunca ninguém o tenha feito – e refiro-me a metodologias, processos, empresas, produtos. E, na vida privada, a mesma coisa: adiro por mim, sem fazer a mínima ideia se já alguém aderiu antes.

Mas bastará que me digam que:
  • toda a gente tem uma bimby - de uma coisa eu tenho a certeza imediata: nunca a terei;
  • toda a gente leu o último Miguel Sousa Tavares - e eu mentalmente coloco-o no meu index pessoal;
  • toda a gente tem conta no facebook, e mais, que quem não tem conta no facebook, não existe - e eu fico com a certezinha absoluta que prefiro não existir a ter que me filiar no facebook.


por Serge Lutens


Por isso, meus amigos, fiquem a saber: não existo, não sei quantos amigos tenho, estou-me nas tintas para reatar contacto com colegas da escola primária que não vejo há 200 anos, não estou nem aí para me amigar com ex-namorados, muito menos com gente que conheço apenas vagamente. Sou um bicho do mato.

Hidden woman por Guy Bourdin

Leio num artigo duma empresa de consultoria internacional que finalmente parece haver convergência quanto a uma unidade de medida para o valor das marcas – LPM, ou seja, ‘likes per million’, que é como quem diz, o número de pessoas que accionaram o like no facebook da empresa que comercializa a marca, aferido pelo valor de receitas expresso em milhões de dólares.

Fico perplexa com isto. Será mesmo? Será mesmo que as pessoas que vão ver a página do facebook das empresas mais valiosas, mais valiosas segundo este critério (a Forever 21 com 5.000 LPM, a Burberry com um pouco mais de 4.000, a Starbucks com cerca de 2.500, a Levi’s com um pouco de 2.000, a Gucci com cerca de 1.900, etc, etc) vão lá todos pôr um pisco no like, como quem deixa uma moeda na caixa de esmolas?

E com as pessoas, não com as empresas, será que esta coisa também funciona? Ah eu tenho 300 amigos e 1.000 likes por mês…? E tu quantos tens?

Tenebrosa esta perspectiva. Ou não é teneborosa: é normal? Sou eu que fiquei agarrada a conceitos já inexistentes?

Quando vejo transcrições de páginas de facebook ou quando alguém me mostra a sua (página), o que vejo são coisas que me parecem futilidades, coisas sem nexo, sem interesse, frases incompletas, palavras pela metade, parêntesis em vez de sorrisos a sério, coisas que não aquecem nem arrefecem.

Por curiosidade, fui agora ver a página de Cavaco Silva. Lá me aparece ele em grande plano, atrás da D. Maria, e, ao lado, caixas com isto (e transcrevo tal e qual, ou seja, faço copy past):

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Páginas do Facebook semelhantes


Ricardo Araújo Pereira

434.961 curtiram isso


NILTON

356.339 curtiram isso


Rita Pereira

156.514 curtiram isso


No canto inferior esquerdo, por debaixo da fotografia oficial do presidente leio que (e volto a fazer copy past):

127.566
curtiram isso

828
falando sobre isso

Opções "Curtir".

Museu da Presidência da República.
Presidência da República Portuguesa

(Não, não vou falar do linguajar indigente..! Adiante.)

... Voltando à unidade de medida inventada pelos marketeers, é assim que, na página do facebook do Presidente da República, fico a saber que há mais pessoas a curtirem a Rita Pereira que Cavaco Silva (o que me parece compreensível), que Ricardo Araújo Pereira vale sensivelmente três vezes e meia Cavaco Silva e que o Nilton vale duas vírgula oito vezes mais que Cavaco Silva.

(Claro que estou apenas a ver os likes em valor absoluto, ou seja não calibrei pelos rendimentos de cada um não apenas porque não disponho dessa informação, mas também porque, neste âmbito, me parece descabido.)

Na dita página, vejo também a informação de que, quem queira opções à curtição com Cavaco Silva, pode ir curtir para o Museu ou para a própria Presidência da República Portuguesa. Uma bandalheira, seria eu levada a dizer – mas detenho-me porque reconheço que isso talvez pudesse ser considerado uma reacção pré-histórica.

(Uma mulher pré-histórica? pergunto eu) por Guy Bourdin

Mas, vocês aí que me lêem e que não são tão antiquados quanto eu, digam-me: qual o gozo ou qual a utilidade de se ter uma página de facebook? São mais felizes agora que eram antes de a ter?

Eu, por mim, vou continuando aqui, sem contabilizar amigos, nem likes, sem querer ressuscitar amizades ou amores que ficaram, e muito bem, lá atrás, nas calendas. Vou continuar a escrever estes grandes testamentos com que vos torro a paciência, a escrever frases em que tento não omitir o sujeito, o predicado, o complemento directo e o indirecto e o que mais venha a calhar (e oh meus amigos, desculpem lá mais este sinal de antiguidade… que já nada disto dá por estes nomes, pois não? A esta hora já alguns de vocês devem estar a rebolar-se no chão, agarrados à barriga, ‘olha m’esta… - verbo e predicado- …lol lol lol’).

:-)

Não me levem a mal: vou continuar a ser bicho do mato, antiquada, ciosa da gramática e das palavras escritas com todas as letras, com um gostinho antigo por sorrisos a sério, por 'gosto de ti' ditos com uma voz doce e não com o desenho de um dedo espetado.

(Uma mulher das antigas? pergunto eu) por Helmut Newton

Mas de uma coisa podem vocês estar certos – vejo as estatísticas diárias aqui do meu UJM e fico sempre surpreendida e muito agradecida. Escrevo porque gosto de escrever, é certo, mas fico mesmo contente quando vejo que tanta gente se dá ao trabalho de aqui vir todos os dias falar um bocadinho comigo. Sem likes, sem dedinhos no ar, mas muito presentes aí desse lado. Muito obrigada, meus amigos. De verdade.

 
..^..
 
Hoje até havia imensa coisa para comentar (os despautérios do Alberto João; a página de facebook do Jorge Silva Carvalho, esse grande maganão que fez o que fez, faz o que faz e ainda se ri que nem um descarado; o valor imoral do que Catroga, esse velho macacão que se pela por dinheiro, vai ganhar na EDP; as nomeações despudoradas para as empresas mostrando no limite da nitidez suportável a raça a que pertencem Passos Coelho e entourage, etc, etc) - mas quando é tudo tão medíocre, tão tristemente previsível, não me apetece enredar-me nessas tretas, apetece-me é fugir delas a sete pés, pôr para trás das costas, sacudir de mim como se sacudisse o cabelo.

Margie Gills por Annie Leibovitz
 
E tenham, meus Caros, uma boa quinta-feira, sentindo o calor humano dos vossos verdadeiros amigos.
 
 
PS: Não querem ir espreitar a fotografia que hoje coloquei lá no meu Street Photo & Co. ? Estava uma tarde tão linda. E, já agora, não querem também dar uma espreitadela no Ginjal? Está no mesmo comprimento de onda e há um Rachmaninov que vai mesmo a calhar. 

12 comentários:

  1. uma boa declaração de principios.
    e não está só nem é retrogada, muitas e muitos a acompanham nessas mesmas opções.

    De facto o sorrizinho permanente e desafiante de certos actores politicos é muito revelador do que são. E a história catroga é extremamente indigesta, algo está podre no reino e não é o do hamlet.

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  2. É por tudo o que está escrito que venho aqui todos os dias, alguns dias 2 vezes... e obrigado.

    Quanto ao 2º parágrafo, não devo(!?)comentar e tenho pena.

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  3. Jeitinho, uma delícia de texto e de humor.
    Ah! a mulher das meias pretas, das antigas, sou eu, não sou?

    Tenho o Face para anúncio dos meus livros. Depois disto...vou-me pirar!

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  4. caro Patrício Branco,

    Quanto o sorrisinho está afivelado em permanência no canto da boca é caso para nos pormos a pau...

    E obrigada pela solidariedade na 'antiguidade'. É que podemos ser dos antigos mas temos muita patine, não é verdade?

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  5. Rosita, só posso agradecer-lhe as suas visitas e as suas tão amáveis palavras.

    Fico contente por poder fazer companhia e conversar um bocadinho com as pessoas que tão gentilmente me vistam.

    Quanto ao que não diz, fico com pena e, sobretudo, curiosa. Mas a Rosita saberá dos seus motivos e talvez sinta que é prudente não falar e, assim sendo, respeito e compreendo.

    Um beijinho.

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  6. Helena-a-Moderna,

    Que a Caríssima não é das antigas, isso está provado e comprovado. É moderníssima e com uma patine dourada para dar charme...

    Quanto às pernas serem suas, aí não confirmo nem desminto mas tenho a dizer-lhe que um amigo, ex-espião, aqui me deixou há dias um envelope surripiado a um paparazzi, paparazzi esse que parece que andou escondido debaixo das mesas quando a minha Amiga andou na sua ronda de autógrafos. Aquela elegante malinha de mão é a sua, não é...?

    Um beijinho, Helena. E receba daqui um largo sorriso!

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  7. Não é moderna? Tenho a certeza de que sim, uma moderna sofiticada. O Facebook é que não tem nada a ver com isso.
    Esta rede social é o que cada um fizer com ela: pode prestar-se aos ridículos e ao mau-gosto que os seus exemplos ilustram claramente ou, então, podem ter fins mais singelos. Esta rede social pode também ser usada como uma espécie de revistinha de anúncios literários ou culturais, de partilha de coisas engraçadas ou interessantes, como músicas, poemas ditos, etc. Sirvirá, igualmente, para algum "gossip" ou "olás" a conhecidos. Tudo depende das escolhas de cada um e cada qual.
    Confundir contactos com amizade é que já me parece desadequado, talvez um equívoco para algumas pessoas. Para aquelas que pensarão que o Aníbal & Cª as conhece, se preocupa muito com elas, cada uma em particular, e que um dia destes vai almoçar lá a casa.
    Enfim.

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  8. Cara Leitora,

    Vim agora do Ginjal e vi o seu comentário mas, vá lá eu saber porquê, não consigo responder. Clico naquilo e o pc bloqueia-se. Que maçada.

    Quanto ao facebook, pois. Sei que tem razão mas ainda não vi grande valor acrescentado em relação aos blogues, por exemplo. De resto, a pessoa estar por ali exposta à espera que deixem um olá ou andar a deixar olás aos outros parece-me uma coisa desinteressante. Não sei. Se calhar é porque me sinto entediada em relação às coisas da 'moda' e nem me dou á curiosidade de as perceber melhor.

    Às tantas sou uma espécie de elitista, fujo de multidões. mas ninguém é perfeito, não é...?

    Um beijinho.

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  9. Tal como você,minha cara, não estou, nem nunca estarei no Facebook (até mesmo para não me encontrar por lá com a Esfinge de Belém), não leio o Tavares, muito menos as receitas dele, prefiro as minhas que eu próprio inventei para meu prazer pessoal e dos amigos que convido,nunca vi uma bimby e espanta-me o caminho que esta sociedade global, onde nós estamos, seja cada vez mais igual e pateta e imbecil. "Amigos" da treta, redes sociais, os ultimos gadjets da tecnologia, o carrito ultimo modelo, o raio que os parta. Uma chatice. Aindo a ficar aborrecido com tudo isto. A sério. Um dia pisgo-me para uma ilha deserta, ou alto da montanha e ali fico longe desta malucada toda! Ou faço um partido, uma revolução, sei lá, para ver se por cá isto entra nos eixos, de principios, valores, económicos, sociais, de etica politica, etc.
    E mandava uma data destes patifes, que nos têm destruido este país, para o Polo Sul (que ao que dizem ainda é pior que o do Norte).
    E reformava, a 1 euro por mês, toda aquela maralha parlamentar.
    Em frente minha cara, vá continuando a escrever assim, pois um tipo ao ler ganha energias para continuar a sobreviver neste atoleiro.
    P.Rufino

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  10. Pôr do Soljaneiro 14, 2012

    Muitas vezes leio e recomendo este blogue, embora nunca o tenha comentado.

    Mas hoje estes dois ultimos posts,levam-me a dar-lhe os parabens e dizer-lhe que como mãe e avó sinto uma dor tamanha, mas certamente mais pequena que a das maes gregas.

    O desprezo absoluto que sinto por presidentes e ministros que propagandeiam os seus facebooks como se outras ocupações/preocupações não lhes tomassem o tempo, leva-me a ignora-los.

    Eu fui ensinada a cumprimentar as pessoas quando se chega a uma sala de espera, loja ou entrada de prédio, a escrever um postal ilustrado aos amigos estando de férias, a mandar as Boas Festas por cartões com imagens de fantasia. E como é bom (NAO É SAUDOSISMO) passados anos relermos ou vermos como era a praia tal em 1960! Hoje tudo se faz quase incognico, por SMS ou Facebook.

    O drama das crianças abandonadas na Grecia, já o temos cá. Numa semana duas mães desesperadas suicidam-se tentando que também as suas filhas não fiquem a sofrer neste mundo que as não merece.

    Será que o presidente deste País continua a não ler jornais? Será que as secretárias dos ministros só lhes seleccionam as noticias boas?

    Os palácios/ rodomas em que vivem têm tantas janelas...

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  11. Caro Rufino,

    Fiquei, portanto, a saber que cumpre mais um doa 10 mandamentos - desta feita o da culinária. Uma mais-valia.

    Quando ao afastamento de todo o atoleiro que é a presente situação política, económica e financeira também sinto muitas a necessidade de me isolar (os fins de semana e férias no meio do campo, são dos melhores momentos que tenho). Também balanço entre a vontade de me isolar como uma eremita ou partir para a luta.

    E também quase concordo na apreciação dos deputados: são demais, muitos são fracos demais, muitos pouco fazem e, no final de cada legislatura, interrogo-me: mas o que andou aquela gente ali a fazer? Bastaria um quinto deles, gente bem prepara e dedicada.

    Uma treta.

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  12. Cara Pôr do Sol,

    Fico sempre muito contente quando 'conheço' as pessoas que me lêem. Vejo nas estatísticas diárias que são mais do que eu alguma vez esperaria (agora, em média, são cerca de 400 ou um pouco mais), mas não lhes conheço o rosto, não sei se concordam, se gostam, se ficam aborrecidas com alguns destemperos meus. Obrigada, portanto, por aqui por deixar este postalinho.

    Eu também gosto de escrever (dá para ver, não é) e gosto de falar com as pessoas, cumprimentá-las, ouvi-las.

    E gosto de responder aos comentários e aos mails, é como se estivesse a conversar com as pessoas que fazem a gentileza de se me dirigir.

    Pois, quanto ao que disse, escuso de frisar que concordo. Há um tal distanciamento entre os que ocupam cargos políticos e a população, que acabam por não sentir o que custam os sacrifícios na alma e no corpo de quem os sofre.

    E que sofrimento maior o das pessoas que põem termo à vida ou entregam um filho?

    Pergunto-me muitas vezes: que mundo é este que andamos a fazer?

    Um abraço, Pôr do Sol, e volte sempre, a casa é sua.

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