sexta-feira, janeiro 20, 2012

João Proença, a UGT e a CGTP, a concertação social, os trabalhadores e os desempregados em Portugal, Alberto João Jardim e o acordo impossível da Madeira - e Francesco Schettino, comandante do cruzeiro Costa Cruzeiro, um homem irresponsável, cobarde e indigno


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Francesco Schettino, comandante do cruzeiro Costa Cruzeiro, aparentemente para agradar a alguém, cometeu um erro que colocou em risco a vida das pessoas que estavam à sua responsabilidade. Ao ter cometido esse erro e ao perceber as consequências, cobardemente abandonou o navio. Mais tarde, disse que tinha caído para dentro do salva-vidas e que já não tinha conseguido regressar ao navio. Cobarde, indigno.

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João Proença, secretário geral da UGT, assinou um acordo que em nada beneficia a economia e que basicamente se limita a prejudicar os trabalhadores, quer os que têm a sorte de ter trabalho (e que vão trabalhar mais por menos dinheiro) quer, sobretudo, os que vão ter a infelicidade de ficar desempregados (vai ser mais fácil despedir, os desempregados vão receber uma indemnização inferior, e vão receber um subsídio inferior e por menos tempo). Depois de ter assinado esse acordo, João Proença disse que, se não tivesse assinado o documento, seria pior (se calhar os trabalhadores seriam degolados no acto do despedimento para a poupança ser ainda maior). E agora, ao sentir a censura social, vem alegar que o fez também por sugestão da CGTP.

Soa-me a cobardia, a indignidade.

Mas vamos supor que algures no tempo, perante o que estava em cima da mesa, alguém da CGTP tenha dito a João Proença ‘Nós não alinhamos nisto. Se querem, assinem vocês’.  Foi por isto, então, que João Proença assinou o acordo? Mas é o quê? Um invertebrado? Uma maria vai com as outras? Faz o que lhe mandam e depois vem atirar as culpas para os outros? Também caíu para o salva vidas?

Ao que chegámos. A fraqueza da natureza humana a vir acima, até onde menos se suspeitava. Não era esta a ideia que eu tinha de João Proença.

  • Tal como já disse aqui tantas vezes, nunca fui sindicalizada, nem tenho especial simpatia por estes sindicatos, sempre muito instrumentalizados pelas forças partidárias e sempre com actuações muito pouco evoluídas. Defender os interesses dos trabalhadores é muito mais do que estes sindicatos fazem. Ser trabalhador não é ser inimigo do chefe ou do patrão e uma economia só progride se progredirem todos e se puxarem todos para o mesmo lado. Fazer greves, como tantas vezes tenho visto, em que fazem greve prejudicando as empresas e a economia apenas para cumprir uma agenda política, é péssimo e é muito isto que os sindicatos têm feito em Portugal. 
  • Parece-me importante que haja concertação social mas para se coordenarem todos no sentido de um objectivo comum para o país, num objectivo de crescimento, de progresso, de valorização humana. Não para isto de que agora se anda a falar.


Mas, à parte o que acabo de referir e apesar das limitações, achava João Proença um sujeito sensato, civilizado, digno.

Depois disto fico ainda mais preocupada com a situação dos trabalhadores portugueses e do país em geral. Assim não vamos lá.

Acho de um tremendo mau gosto e um desatino que as centrais sindicais andem à bulha uma com a outra numa altura destas. Mas acho que João Proença - que acabou de assinar um documento lesivo para os trabalhadores e que vem agora dar como desculpa que, se não o fizesse, era pior e que seguiu sugestões da CGTP - está a ter uma atitude que moralmente me parecem indigente e isso deixa-me incomodada. E também me parece excessiva a reacção da CGTP, dizendo que vai interpor uma acção. Absurdo.

Por estas e por muitas outras é que uma parte tão significativa dos portugueses não está feliz com a democracia. E isto, sim, é muito preocupante.

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Dizem pessoas que pouco sabem do mundo do trabalho que as condições para despedir em Portugal eram, antes disto, muito favoráveis aos trabalhadores. Penoso ouvir isto. Quem vai para o desemprego não é um nenhum felizardo. Mas quem pensa isso, devia saber como é despedir alguém em Espanha, por exemplo. Quase impossível. Os trabalhadores portugueses e os sindicatos portugueses ao pé dos da Catalunha, por exemplo, são meninos do coro.

E sabem os grandes entusiastas desta concertação, as diferenças de salários entre Portugal e os outros países? 

Receber uns meses de salário em Portugal, como indemnização é tão, tão diferente do que é receber noutro país...!

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Numa altura em que o grave é haver tanto desemprego, tanto desemprego de longa duração, tanto desemprego jovem, é a economia estar a definhar tão gravemente, é o País não gerar riqueza suficiente para amortizar a dívida, o que menos faz falta é legislação que penalize ainda mais as pessoas que tenham a infelicidade de cair no desemprego. Dizer que isto é uma vitória é de uma estupidez inacreditável. 

Nenhum país floresce em cima do desemprego e da miséria. O país precisa é do contrário. Pobreza gera pobreza. Estamos a percorrer o caminho ao contrário. 

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Uma palavra para a situação na Madeira. Pouco se fala disto. Não aprecio, mas nem um pouco, o estilo de gestão de Alberto João Jardim. Despesista, pouco leal, escamoteou gastos, desobedeceu às leis do país, faz o que quer, porta-se como um cacique. Mas uma coisa é certa: esquecendo-se que é português e sendo de um bairrismo bacoco, defende o que ele pensa serem os interesses da Madeira (à maneira dele). Mas penso que é inegável que desenvolveu aquela parcela de território.

E compreendo que, agora, neste momento de aperto, ele, habituado à abundância, esteja desorientado. Mas percebo também que lhe custe assinar um acordo que acha inexequível. Tal como o contrato da Troika, da maneira como tudo isto está a ser conduzido, é inexequível. Não vai ser possível amortizar a dívida toda no prazo estabelecido. Portanto, Alberto João Jardim tem razão quando não quer assinar uma coisa assim, um acordo impossível que vai dificultar tanto a vida das 'suas' pessoas. Infelizmente para ele, tal como para todos nós, sem dinheiro, com a corda na garganta, vamos aceitando tudo o que nos impingem, o que faz sentido e o que não faz qualquer sentido. Vai ter que assinar, que remédio tem, mas percebo a sua angústia. 

Tenho pena dos madeirenses. Tenho pena dos portugueses.

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Lily Cole por Bettina Rheims

E, pronto, meus amigos, já desabafei. Agora vou descansar que estas ralações dão cabo da minha beleza.

O que vale é que já é outra vez sexta-feira. (Que coisa, o tempo passa a correr: outra vez sexta-feira?)

Depois de vos ter maçado tanto, até tenho vergonha de vos dizer que se divirtam. Mas, enfim, tentem - apesar de tudo. E lembrem-se: há mais marés que marinheiros. Tenham um bom dia.

  

2 comentários:

  1. Pois é, Jeito Manso...Cada dia que passa espero que chegue uma maré daquelas que lave, que afogue, ou pelo menos,leve daqui, tanto marinheiro de água doce. Este país parece o interior do navio de cruzeiro Costa, com os passageiros e a mobília aos trambolhões e este naufrágio já dura há demasiado tempo. E o pior é que os comandantes, caiem sempre num bote salva-vidas... E nós, dentro do barco, sem salvação.
    tbm

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  2. Pois é...Cara TBM, aqui estamos nós neste navio aos baldões, encalhados, com tão fracos timoneiros, a meter água por todo o lado...

    Mas pode ser que um dia destes a gente se organize como deve ser e que consigamos endireitar esta coisa para a levarmos a bom porto. A mim, pelo menos, apetece-me sonhar com isso.

    Um beijinho, TBM.

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