.1.
Francesco Schettino, comandante do cruzeiro Costa Cruzeiro, aparentemente para agradar a alguém, cometeu um erro que colocou em risco a
vida das pessoas que estavam à sua responsabilidade. Ao ter cometido esse erro
e ao perceber as consequências, cobardemente abandonou o navio. Mais tarde, disse que tinha
caído para dentro do salva-vidas e que já não tinha conseguido regressar ao navio. Cobarde, indigno.
João Proença, secretário geral da UGT, assinou um acordo que em nada beneficia a
economia e que basicamente se limita a prejudicar os trabalhadores, quer os que têm a
sorte de ter trabalho (e que vão trabalhar mais por menos dinheiro) quer, sobretudo,
os que vão ter a infelicidade de ficar desempregados (vai ser mais fácil
despedir, os desempregados vão receber uma indemnização inferior, e vão receber um subsídio
inferior e por menos tempo). Depois de ter assinado esse acordo, João Proença
disse que, se não tivesse assinado o documento, seria pior (se calhar os
trabalhadores seriam degolados no acto do despedimento para a poupança ser
ainda maior). E agora, ao sentir a censura social, vem alegar que o fez também por
sugestão da CGTP.
Soa-me a cobardia, a indignidade.
Mas vamos supor que algures no tempo, perante o que
estava em cima da mesa, alguém da CGTP tenha dito a João Proença ‘Nós não
alinhamos nisto. Se querem, assinem vocês’.
Foi por isto, então, que João Proença assinou o acordo? Mas é o quê?
Um invertebrado? Uma maria vai com as outras? Faz o que lhe mandam e depois vem
atirar as culpas para os outros? Também caíu para o salva vidas?
Ao que chegámos. A fraqueza da natureza humana a vir acima, até onde menos se suspeitava. Não era esta a ideia que eu tinha de João Proença.
- Tal como já disse aqui tantas vezes, nunca fui sindicalizada, nem tenho especial simpatia por estes sindicatos, sempre muito instrumentalizados pelas forças partidárias e sempre com actuações muito pouco evoluídas. Defender os interesses dos trabalhadores é muito mais do que estes sindicatos fazem. Ser trabalhador não é ser inimigo do chefe ou do patrão e uma economia só progride se progredirem todos e se puxarem todos para o mesmo lado. Fazer greves, como tantas vezes tenho visto, em que fazem greve prejudicando as empresas e a economia apenas para cumprir uma agenda política, é péssimo e é muito isto que os sindicatos têm feito em Portugal.
- Parece-me importante que haja concertação social mas para se coordenarem todos no sentido de um objectivo comum para o país, num objectivo de crescimento, de progresso, de valorização humana. Não para isto de que agora se anda a falar.
Mas, à parte o que acabo de referir e apesar das limitações, achava João Proença um sujeito sensato,
civilizado, digno.
Depois disto fico ainda mais preocupada com a situação
dos trabalhadores portugueses e do país em geral. Assim não vamos lá.
Acho de um tremendo mau gosto e um desatino que as centrais sindicais andem à bulha uma com a outra numa altura destas. Mas acho que João Proença - que acabou de assinar um documento lesivo para os trabalhadores e que vem agora dar como desculpa que, se não o fizesse, era pior e que seguiu sugestões da CGTP - está a ter uma atitude que moralmente me parecem indigente e isso deixa-me incomodada. E também me parece excessiva a reacção da CGTP, dizendo que vai interpor uma acção. Absurdo.
Por estas e por muitas outras é que uma parte tão significativa dos portugueses não está feliz com a democracia. E isto, sim, é muito preocupante.
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.3.
Dizem pessoas que pouco sabem do mundo do trabalho que as condições para despedir em Portugal eram, antes disto, muito favoráveis aos trabalhadores. Penoso ouvir isto. Quem vai para o desemprego não é um nenhum felizardo. Mas quem pensa isso, devia saber como é despedir alguém em Espanha, por exemplo. Quase impossível. Os trabalhadores portugueses e os sindicatos portugueses ao pé dos da Catalunha, por exemplo, são meninos do coro.
E sabem os grandes entusiastas desta concertação, as diferenças de salários entre Portugal e os outros países?
Receber uns meses de salário em Portugal, como indemnização é tão, tão diferente do que é receber noutro país...!
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.4.
Numa altura em que o grave é haver tanto desemprego, tanto desemprego de longa duração, tanto desemprego jovem, é a economia estar a definhar tão gravemente, é o País não gerar riqueza suficiente para amortizar a dívida, o que menos faz falta é legislação que penalize ainda mais as pessoas que tenham a infelicidade de cair no desemprego. Dizer que isto é uma vitória é de uma estupidez inacreditável.
Nenhum país floresce em cima do desemprego e da miséria. O país precisa é do contrário. Pobreza gera pobreza. Estamos a percorrer o caminho ao contrário.
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.5.
Uma palavra para a situação na Madeira. Pouco se fala disto. Não aprecio, mas nem um pouco, o estilo de gestão de Alberto João Jardim. Despesista, pouco leal, escamoteou gastos, desobedeceu às leis do país, faz o que quer, porta-se como um cacique. Mas uma coisa é certa: esquecendo-se que é português e sendo de um bairrismo bacoco, defende o que ele pensa serem os interesses da Madeira (à maneira dele). Mas penso que é inegável que desenvolveu aquela parcela de território.
E compreendo que, agora, neste momento de aperto, ele, habituado à abundância, esteja desorientado. Mas percebo também que lhe custe assinar um acordo que acha inexequível. Tal como o contrato da Troika, da maneira como tudo isto está a ser conduzido, é inexequível. Não vai ser possível amortizar a dívida toda no prazo estabelecido. Portanto, Alberto João Jardim tem razão quando não quer assinar uma coisa assim, um acordo impossível que vai dificultar tanto a vida das 'suas' pessoas. Infelizmente para ele, tal como para todos nós, sem dinheiro, com a corda na garganta, vamos aceitando tudo o que nos impingem, o que faz sentido e o que não faz qualquer sentido. Vai ter que assinar, que remédio tem, mas percebo a sua angústia.
Tenho pena dos madeirenses. Tenho pena dos portugueses.
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Lily Cole por Bettina Rheims |
E, pronto, meus amigos, já desabafei. Agora vou descansar que estas ralações dão cabo da minha beleza.
O que vale é que já é outra vez sexta-feira. (Que coisa, o tempo passa a correr: outra vez sexta-feira?)
Depois de vos ter maçado tanto, até tenho vergonha de vos dizer que se divirtam. Mas, enfim, tentem - apesar de tudo. E lembrem-se: há mais marés que marinheiros. Tenham um bom dia.
Pois é, Jeito Manso...Cada dia que passa espero que chegue uma maré daquelas que lave, que afogue, ou pelo menos,leve daqui, tanto marinheiro de água doce. Este país parece o interior do navio de cruzeiro Costa, com os passageiros e a mobília aos trambolhões e este naufrágio já dura há demasiado tempo. E o pior é que os comandantes, caiem sempre num bote salva-vidas... E nós, dentro do barco, sem salvação.
ResponderEliminartbm
Pois é...Cara TBM, aqui estamos nós neste navio aos baldões, encalhados, com tão fracos timoneiros, a meter água por todo o lado...
ResponderEliminarMas pode ser que um dia destes a gente se organize como deve ser e que consigamos endireitar esta coisa para a levarmos a bom porto. A mim, pelo menos, apetece-me sonhar com isso.
Um beijinho, TBM.