terça-feira, janeiro 17, 2012

Consta que o braço hacker das Produções Fictícias está a entrar nos computadores dos ministérios e que o que estamos a presenciar é fruto disso - o que é quase tão mau como apanhar com um gato na cabeça.


Existe em matemática, mais concretamente no ramo que se ocupa do estudo das probabilidades, uma ‘lei’ que rege os acontecimentos improváveis. Designa-se Distribuição de Poisson e aplica-se a fenómenos raros. Por essa razão, a esta distribuição chama-se também a lei da morte por coice de burro. Já aqui falei dela uma vez. Tem este nome porque foi demonstrada pela primeira vez com o número anual de mortes por coice nos regimentos prussianos de cavalaria.

Vou exemplificar um caso de aplicação: qual a probabilidade de, numa discussão conjugal, o marido agredir a mulher pegando no gato de estimação e atirando-lhe à cabeça?

Probabilidade ínfima, diria eu.

E qual a probabilidade de, vendo o gato a vir pelos ares na sua direcção, a mulher ter reflexos suficientemente rápidos para se desviar a tempo, seguindo, pois, o gato a sua trajectória que, por sinal, é na direcção de uma janela? 



E qual a probabilidade de a janela estar aberta e, de facto, sem obstáculos pela frente, o gato voar pela janela? Ínfima, diria eu.



E qual a probabilidade de uma senhora de 85 anos ir a passar na rua justamente no momento em que o gato voou e apanhar com ele na cabeça? Ainda mais ínfima, diria eu.



Resumindo: qual a probabilidade de uma senhora de 85 anos ir parar ao hospital e ter que ser posta com respiração assistida não por maleitas próprias da idade mas sim devido a um traumatismo craniano resultante de levar com um gato em voo picado desde um 4º andar? Ínfima.

Pois é… mas aconteceu em Belgrano na Argentina. História absolutamente verídica.

É o caso em que se aplicam aqueles irritantes ditados populares, ‘para morrer basta estar vivo’, etc, etc.

Mas que às vezes acontecem destas coisas improváveis, lá isso é. Certamente aqui aplicar-se-ia na perfeição a distribuição de Poisson se quisessemos prever quantas pessoas têm que passar na rua até que novo gato aterre a cabeça de uma delas.

{...}

Mas às vezes os matemáticos enganam-se. 

Então não é que por cá aconteceu uma coisa igualmente bizarra e improvável? A ser verdade, é uma coisa rara, de pasmar. Ora ouçam.

Sabem os meus amigos que ‘eles andem aí’… os hackers… aquelas diabólicas criaturas que invadem as redes informáticas, pirateiam sites, alteram os conteúdos? A comunicação social deu-nos conta de que entraram nos sites de autarquias, soube-se de um ataque ao Banco de  Portugal, a ministérios, etc. Pouco destaque foi dado a estas notícias porque convém não alarmar as populações e, supostamente, os departamentos de segurança informática destes organismos teriam controlado a situação.

Teriam… digo bem.

Pois a questão é que parece que há fundadas suspeitas que eles continuam a entrar e sair das redes informáticas, especialmente nas dos ministérios.


Várias improbabilidades se juntam nesta história. Consta que não se tratam dos Anonymous, mas sim do braço hacker das Produções Fictícias (consta - que eu não sou do SIED nem da maçonaria, nem sequer da Ongoing, limito-me a segredar-vos rumores que correm por aí). Consta que se partem a rir, dobrados com dores no estômago de tanto rirem, lágrimas cara baixo. Consta que o ministério preferido é o da Economia. Mas também o do Relvas, o do Gaspar e, claro, o próprio gabinete do nosso Primeiro Ministro.

E, ao que consta, que fazem estes foliões?

Pois bem. Alteram os discursos. E quando algum deles, mais cuidadoso, diz: 'Ó pá, 'pera lá, essa ele vai logo dar por ela, desconfia que isto é no gozo, vão desconfiar que a malta anda aqui, ele não vai dizer isso', logo os outros o tranquilizam: 'Qual quê, pá... ele é um totó do caraças, não dá por nada, papa tudo, vais ver como o gajo vai dizer isso com o ar mais tecnocrático deste mundo...'.

E, na maior risota, lá vão trocando tudo. Vão ao discurso do Relvas e onde o da agência de comunicação tinha escrito: 'andámos a investir nos jovens, queremo-los cá, a desenvolver o país' vão os malandrecos e trocam por: 'devem emigrar, e nem ter saudades, nem saber de que pátria são'.
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Vão ao discurso do Álvaro e onde era suposto ele falar de indústria, de clusters de desenvolvimento económico a sério, é vê-lo todo professoral, quase erudito, como se interrogasse uma turma inteira: 'Qual é a diferença entre um frango no churrasco e um pastel de nata?' - e, ao vê-lo na televisão a dizer aquilo, os hackers rebolam-se a rir: é demais!!!
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Depois, vendo que estão à vontade, vão ao discurso do Passos Coelho que ia falar nessa mesma conferência organizada pelo Diário de Notícias, com o tema 'Made in Portugal', e viram-lhe o discurso do avesso. Em vez de falar de produção nacional, põem-no a falar, a despropósito, de nomeações, com números ao calhas, tudo trocado - e quando o vêem na televisão, patético, os hackers nem querem acreditar, ali está ele, a mostrar os bonecos que eles fizeram no gozo, ar muito convencido. E no momento em que eles escreveram entre parêntesis rectos [fazer ar triste, compungido e bater com a mão no peito] os hackers juram que viram Passos Coelho a simular uma lágrima no canto do olho e a fazer uma ginástica para não deixar cair o papel, enquanto tentava bater com a mão no peito.

Entretanto, a gente vai rindo com as cenas divertidas que os nossos ministros nos andam a proporcionar e até já consta que se prepara para breve uma rábula ao estilo dos Monty Python. Estejam atentos.


...

Parece-vos improvável? Pois, a mim também. Nem sei se acredite, se não. Que a malta das Produções Fictícias se conseguisse infiltrar nos computadores dos ministérios já me pareceria improvável, mas que os ministros papagueassem tudo o que lhes põem à frente sem perceber que não estão a dizer coisa com coisa, ainda me parece mais improvável.

Mas enfim, pode ser mais um caso raro, uma improbabilidade, tão raro como sofrer um traumatismo causado por um gato atirado de um 4º andar.


Tenham, meus amigos, uma bela terça feira e, pelo sim, pelo não, tenham muito cuidado quando passarem debaixo de janelas abertas...! 
  

10 comentários:

  1. Um post cheio de humor (what else?), criatividade (what else, what else?) e estatística (a distribuição de Poisson não valoriza apenas fenómenos raros, mas ocorrências aleatórias independentes entre si - o que me foi lembrar...).

    Céus, isto é o que se chama engenho e arte!

    Um sorriso para si.
    Paulo

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  2. Cara Amiga:
    Gostei das analogias. No entanto, em tom ligeiro, talvez preferisse "coice de cavalo" em vez de "coice de burro", que coice de "burro" é capaz de ser bem mais "normal"...
    J. Rodrigues Dias

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  3. Muito bom, só rir! Estavas inspirada... bjs

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  4. Depois de uma boa risada, lembrei-me de outra probabilidade: a de sermos atingidos por um detrito de meteorito. Aconteceu, recordo-me disso, a uma idosa no Egipto aqui há uns anos. O chamado azar dos cabrais! Por mim, só peço ao Criador que me descubram aqui no meu terreno umas ossadas de dinossauro (como sucedeu ao Galinha), ou umas quaisquer ruínas antigas para me dar algum conforto na velhice!
    P.Rufino

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  5. Mas, ó Sr. Apicultor e Agricultor e tal e coisa Paulo de Abreu e Lima,

    Você surpreende-me mesmo.

    Na volta ainda me aparece aqui a falar-me de Kolmogorov, Qui-Quadrado, grafos, e outras gracinhas do género.

    Que vem a ser lá isso...?

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  6. Caro J. Rodrigues Dias,

    O que eu hoje me tenho rido de cada vez que me lembrava deste seu divertido comentário.

    E olhe que tem mesmo razão: com tanto burro por aí, a probabilidade de levarmos algum coice não é coisa assim tão remota, é mesmo capaz de ser coisa 'normal'.

    Ah, e há ainda quem diga que a matemática é 'quadrada'...!

    E obrigada pelo que hoje me fez rir.

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  7. Historinhas,

    Pois, mas a verdade é que a realidade ultrapassa a ficção em bizarria e graça.

    Agora o que eu me divirto a escrever coisas destas... (e o que eu corto... porque quando ganho embalagem, sai-me com cada uma... passa da uma da manhã e eu aqui a rir a bom rir).

    Beijinhos.


    PS: E então não sai uma história à volta dos pastéis de nata do Álvaro?

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  8. Olá, P. Rufino,

    Também penso sempre se não devo sair para a rua de capacete quando dizem que vem aí mais um bocado de sonda russa.

    Quanto a isso das pegadas ou das ruínas, pense o meu amigo muito bem. Acha que ganharia dinheiro com isso ou meter-se-ia numa carga de trabalhos...? Não seria património, não lhe expropriariam a terra e coisa e tal...?

    Não sei, não. Quer o Caríssimo conforto na velhice...? Pois não sei se será por aí... Veja se arranja mais lucrativa ideia...

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  9. não percebo porque fala de hackers neste texto e, logo a seguir, descreve pessoas que são tudo menos hackers. não sei se será desconhecimento, ignorância ou apenas estupidez. use o google, aprenda o que é um hacker. use a cabeça, não coma tudo o que a comunicação (normalmente ignorante) lhe diz.
    além disso, os anonymous não são hackers, são apenas um monte de putos alarves e pouco letrados, principalmente os anonymous portugueses.

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  10. Caro Anónimo de dia 26 de Maio,

    Então não dava para perceber que o texto é irónico de uma ponta a outra?

    Se me permite, da próxima, antes de chamar ignorante ou estúpida a uma pessoa, leia bem e, se necessário, leia de novo. A sério: passou-lhe pela cabeça que eu achasse que os talentosos comediantes das Produções Fictícias fossem hackers...?

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