sexta-feira, julho 11, 2025

O 'mistério' dos muitos ricos e dos amigos deles

 

Já aqui falei disso algumas vezes: conheço um homem muito rico, diria que verdadeiramente muito rico. E também conheço dois amigos desse homem deveras ultra rico. Esses dois amigos dele não são muito ricos -- diria que, à luz dos nossos níveis, talvez média alta.

Ao longo de anos assisti às mordomias que o muito rico proporcionava àqueles seus amigos. E, quando falo em mordomias, falo apenas no que é visível a olho nu. Vão de férias para locais longínquos e muito caros, passam férias na vasta herdade do muito rico, fazem vida de ricos. E, quando falo dos amigos do homem muito rico, falo também das respectivas mulheres (e, até dado ponto, isto é, enquanto eram adolescentes e viviam com os pais, presumo que também os filhos). Ouvi falar em empréstimos e em empregos para filhos e noras mas disso não sei de nada em concreto, apenas sei pelo que se falava. 

Não o escondiam. Pelo contrário, quando estávamos juntos, era normal que viessem à baila situações em que se percebia que tinham ido e estado juntos aqui e ali e acolá. Não era explicitado que o muito rico pagava tudo, viagens, estadias, almoços e jantares, mas não era difícil adivinhar pois não era possível ser de outra maneira. 

Nunca vi nos amigos que aceitavam esses mimos qualquer pudor ou reserva. Nem nunca vi o muito rico fazer qualquer referência a nada disso. 

Quando eu me questionava junto de amigos comuns como era possível que os outros andassem sempre à pendura e vivessem à babugem do amigo outro, diziam-me: 'Não pense segundo os parâmetros comuns. Para eles é normal. São amigos. Para o X (chamemos assim ao muito rico) é a única maneira de viajar ou passar férias na companhia dos outros. Ele sabe que os outros não têm como serem eles a bancar aqueles luxos. E a ele não lhe faz qualquer diferença. Provavelmente muito disso vai a custos das empresas, está a ver, não está?, deve ser contabilizado nas empresas como deslocações em serviço, despesas de representação etc. E para os os outros também já passou a ser normal. As mulheres também são amigas umas das outras. Se o outro faz questão de que passeiem e passem férias juntos, para eles também é agradável. Também lhe são úteis pois, em muitas matérias, têm conhecimentos que o outro não tem.'

Um outro que também os conhecia bem, dizia-me: 'É uma relação fraternal. O X é muito mais rico que os outros. Para ele, mais uns milhares, menos uns milhares não fazem qualquer diferença. Já é um hábito. E não se esqueça: isto é o que a gente sabe, o que se vê...'

Um dos ditos beneficiados com a amizade generosa do X tem uma casa maravilhosa, numa zona que se não é protegida anda por lá perto. Um projecto de um conceituado arquitecto. Nunca lá estive mas vi muitas fotografias. Por vezes, comentava-se: 'Alguma vez ele tinha dinheiro para uma tal obra de arte?' Acha...?'. Isto, sobre essa tal casa, pois a casa habitual é uma moradia numa das mais privilegiadas e caras zonas da cidade. Com o que se conhece dos seus rendimentos de trabalho e não trabalhando a mulher, tudo aquilo é curioso. 

Mas não há festa social, de família ou de comemoração em que as três famílias não estejam juntas, divertidas: o homem muito rico e a mulher, e os dois amigos e respectivas mulheres. Uma amizade forte, um coeso inner circle.

Não faço ideia -- mas não faço mesmo -- se alguma vez o muito rico emprestou dinheiro aos amigos. Talvez tenha sido ele a pagar algumas obras ou projectos ou decorações (embora não possa afirmar se sim, se não) mas admito que talvez não tenha rolado. Admito. Mas não sei. Mas, se isso aconteceu, quase apostaria que teria rolado em dinheiro vivo não fosse, de outra forma, deixar rasto e ainda terem que pagar imposto de selo (é que doações sem que haja vínculo familiar directo obrigam a que se declare à AT e se pague imposto de selo, e se há coisa que são é 'poupadinhos'). Mas isto, que fique bem claro, são especulações minhas.

Poderia referir mais alguns pormenores desta relação fraternal em que, com toda a naturalidade, todos, incluindo as mulheres e os filhos, usufruíam da amizade do amigo ultra-rico mas não vale a pena pois são apenas isso, pormenores de uma relação que vista de fora pode parecer estranha, incompreensível mas que, para os próprios e para os próximos, parece ser completamente normal.

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7 comentários:

  1. Recordar é viver, ou no caso lembrar. E este post fez-me lembrar o que segue.
    Um colega meu tinha um -ou tem ainda não sei- primo que não seria talvez como o X, mas mesmo assim bastante abonado e tinha pelo menos uma casa avantajada. Um dia numa tertulia de amigos, - sem as caras metades - veio á conversa a questão de qual o melhor sitio para comer marisco. As tantas o primo, ou para tentar ter graça ou armar-se aos cucos, - como se usa dizer, com a verdade me enganas - saiu-se com esta. O melhor sitio para comer marisco é em minha casa. E passou a clarificar. < mando a malta nova para casa dos meus pais um fim de semana, compro umas garrafas de champanhe marca xpto, encomendo uma lagostas, ostras, sapateiras, carabineiros e lavagantes ao fornecedor vip xpto, depois convido 3 ou 4 casais amigos para ir lá a casa brincar ás escondidas < . O meu colega contou isto, acrescentando que o primo nunca o tinha convidado . Familia é uma coisa, amigos ou brincadeiras ás escondidas são outra.

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  2. Acredito que o muito rico devia ter empresas ou fortuna de família, não acredito naquele em que acredita, com papas e bolos só engana os tolos.

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    1. Não percebi o que disse.
      E creio que V. Também não percebeu o que eu escrevi.
      Eu disse alguma coisa sobre a origem dos bens do muito rico? Não. Não disse se ele é que ganhou para ter o que tem ou se herdou. Não me pronunciei. Nem vou agora pronunciar pois não vem ao caso. Digo que é muito, muito rico.
      Referi, isso sim, que, para além de património, tem empresas.
      O que é que não percebeu do que eu disse?
      E que tolo é que eu estou a querer enganar?
      Não percebo. Quer desenvolver melhor o seu raciocínio?

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  3. Pode ser só coincidencia, mas esta estória faz lembrar um sujeito que também recebe empréstimos ou doações de um amigo, e a quem agora querem julgar por várias coisas, depois de já o terem condenado publicamente, e preso sem acusação formal. Os amigos são para as ocasiões.

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    1. Um santo. Podem elevá-lo já ao altar. A coisa fica por 400 mil euros, uma pechincha, e teria o inédito de ser em vida.

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  4. Anónimo das Santidades,
    Refere-se a quem? Ao meu amigo rico? E que história é essa dos 400 mil? Não estou a perceber nada.

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