A partir de certo ponto, a carga fiscal é sentida como um esbulho. Taxar como se fossem milionários pessoas que são classe média -- e, em vários países europeus, classe média baixa -- é dissuasor para quem pode ir trabalhar para outro país ou para quem pode fugir ao impostos.
A cena do IRS jovem é falaciosa, creio que até absurda. Qual é o jovem que opta por Portugal porque até aos 35 anos tem IRS baixo, sabendo que, quando fizer 36, o fisco lhe vai cair em cima? Nenhum. Se o tema for impostos, ele vai olhar para o que vai descontar à medida que progredir profissionalmente e aí vai ver que em Portugal se impede que alguém ganhe um pouco mais, pois metade do que ganha vai direitinha para impostos e contribuições.
Isto do lado do que é preciso fazer na redução de impostos como arma de combate à evasão fiscal.
Mas depois há os casos especiais que igualmente carecem de combate.
O caso de que já aqui falei inúmeras vezes das personalidade coletiva (pseudoempresas unipessoais ou familiares) como expediente de fuga ao fisco, em que incorre um bom número de profissionais liberais (advogados, médicos, etc.) é para mim chocante e, num primeiro momento, eu incidiria muito claramente nesta vertente. Claro que muitos deputados, provavelmente muitos governantes (antes de estarem no Governo -- espera-se) recorrem a essa habilidade pelo que terão o rabo mais que preso e, portanto, motivação nula para irem atrás disso.
Mas, reconheça-se que, se a legislação o permite e se a alternativa é deixar ficar uma parcela enorme de rendimentos na mão do Estado, a tentação pode ser quase inescapável.
Por isso, ao mesmo tempo que se vá atrás disso, volto a dizer: baixem-se os impostos, baixem-se de forma palpável, reduzam-se os escalões, torne-se tudo mais aceitável.
Já aqui falei que tenho muitos amigos médicos e os que já atingiram a idade da reforma e têm gosto por continuar a exercer apenas trabalham um ou dois dias por semana pois dizem que mais que isso é para ser comido pelos impostos. Portanto, os que não têm a dita empresazinha para ser encharcada de custos e para fugir ao fisco, fazem a optimização fiscal não trabalhando. Isto, numa altura em que a escassez de médicos é brutal. E isto é um exemplo pois cada um tem os seus motivos e argumentos para estar revoltado com o esbulho fiscal a que é sujeito.
Outra situação é a dos senhorios e da "enorme percentagem de arrendamentos não declarados". O que não falta são as situações de arrendamentos 'por fora' ou 'por baixo da mesa'. Só não digo que conheço vários casos em que assim é para não me virem pedir que os denuncie. Os senhorios põem as suas casas ao dispor de pessoas que não conhecem, pessoas que lhes podem trazer problemas, os senhorios têm que fazer a manutenção das casas, têm que pagar IMI, têm que pagar o seguro da casa, têm que pagar o condomínio, e, no fim, têm que pagar um imposto que é francamente dissuasor. Conheço pessoas que preferem ter uma trabalheira a manter casas antigas a que não dão uso apenas porque acham que não lhes 'compensa' se forem pagar os impostos mas não querem entrar numa situação irregular. Por isso, optam por não arrendar as casas. Com a falta de casas que há, para além de serem precisas mais casas, em especial casas para os muito pobres e para os 'remediados', habitação social, portanto, da responsabilidade do Estado, há que conseguir pôr no mercado mais casas para a classe média. E a maneira sensata será baixar os impostos sobre as rendas, mas baixá-los consideravelmente, e, em simultâneo, criar incentivos fiscais para os inquilinos que declarem as rendas através de contratos registados nas Finanças. Só assim se incentivará os senhorios a arrendarem casas a que hoje pouco ou nenhum uso deem e, ao mesmo tempo, se incentivará a que declarem fiscalmente os contratos.
O caso "do setor dos restaurantes, bares e estabelecimentos similares, onde é percetivel uma elevada evasão", também referido por Vital Moreira, é outro que merece destaque. O número de vezes em que vou a uma churrasqueira buscar frango assado ou a uma pizzaria ou a um qualquer restaurante em que, ao pagar, me dão o ticket do pagamento e o ticket da 'registadora' (no qual está escrito que é para conferência e não substitui a fatura) é impossível de quantificar. Quanto peço a fatura, até ficam a olhar para mim como se fosse uma excêntrica: 'Ah quer...?'. Confesso que nos locais de maior afluência em que, mal me despacham, se viram para atender o seguinte, até para não atrapalhar a cadência, acabo por deixar passar. Mas é indecente, é escandaloso. Impunidade total. Isto já para não falar que em muitos destes sítios só aceitam pagamento em dinheiro, ou seja, nem fica rasto. A AT não deveria regularmente andar em cima destes estabelecimentos? Deveria, deveria. Muitos impostos deveriam ser colectados se houvesse auditorias ad hoc, ie, de surpresa.
É que por haver tanta, tanta, tanta gente a não pagar impostos ou a pagar muito menos do que devia, andam outros, os que gostam de fazer as coisas by the book, a pagar muito mais do que seria razoável.
Portanto, apoio completamente que o Governo crie medidas efectivas, fáceis de implementar e de controlar para combater a evasão fiscal. E apoio que se simplifiquem as regras fiscais e se baixem os impostos. No caso do IRS, defendo que se reduza, pelo menos para metade, o número de escalões e que se reduza significativamente as respectivas taxas.
No caso da habitação, como forma de alavancar a oferta de casas para arrendamento, que se baixem capazmente os impostos na tributação autónoma e se criem incentivos aos inquilinos que tenham recibos emitidos pelas Finanças.
Tal como nos malfadados tempos da troika ataquei ferozmente a política de austeridade porque asfixiou a economia e empobreceu as pessoas e o País, agora continuo a defender que a economia precisa de liquidez para se movimentar e para crescer. Libertar mais rendimento (por redução da carga fiscal) só aparentemente empobrece os cofres do Estado pois, havendo mais liquidez circulante, há mais consumo, há mais investimento, há mais emprego, há mais poupança. E, em qualquer dessas vertentes, incidirão os impostos, fazendo com que a colecta se fortaleça (não por via das taxas mas da base sobre a qual se aplicam).
Sei bem que haverá quem diga que lá está a minha costela liberal a manifestar-se. É verdade. Tenho uma costela liberal, já o disse muitas vezes. Liberal (qb) na economia e liberal (qb) nos costumes sociais. Quando disse há tempos que se o Partido Socialista não souber reinventar-se e trazer de novo para os seus valores os da social-democracia que estão na sua origem, há lugar para um partido novo, progressista, democrático, humanista, moderno, venerando a cultura e o planeta, liberal.
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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira
---A economia precisa de liquidez e de crescer.---
ResponderEliminarATÉ AO DIA QUE O HOMEM PERCEBER QUE NÃO PODE COMER O DINHEIRO
Qual o futuro dos nossos vindouros que jamais terão a possibilidade de usufruir, na sua plenitude, dos nossos recursos naturais?
Os nossos rios e riachos são gravemente manchados pela promiscuidade do homem, em grande parte das vezes, em silêncio sobre o sossego da noite.
Exemplos como o Ave, o Selho, que apesar de todas as tentativas para a sua requalificação, são alvo constantes de agressões poluentes que dizimam toda a sua fauna, e provocam espaços de lazer em autenticas lixeiras.
Este pretérito mas presente tema surge à baila porque em pleno século XXI os atentados aos nossos recursos são sucessivos e teimam em reincidir sobres os mesmos caudais e sobre as mesmas suspeitas.
Se já não estivemos pior? Já! Mas não podemos aceitar que esta premissa, por si só, seja suficiente para que se continue a permitir e legitimar a depravação daquilo que não é renovável, que é limitado, que esgota.
Como podemos por ventura aceitar que se continue a desprezar aquilo que nos garante a sobrevivência? Que nos assegura a utilidade? Que nos confirma a existência? Que nos viabiliza a evolução?
Como podemos erguer as tintas, as lavagens, os pós de pedreiras, as lamas industriais, os plásticos e os dejectos em prol das águas com as quais a natureza nos brindou?
Como podemos manter uma relação desimpedida, irresponsável e descomprometida com o nosso ecossistema? Como podemos inviabilizar a vida da Terra? Como podemos quebrar a sinergia dos meios?
Está na altura de educar, informar, condenar e prosseguir. Está na altura de garantirmos o nosso lugar, assegurar o nosso espaço e respeitar o ambiente. Penalize-se quem polui e castigue-se quem pactua! É altura de abrir os olhos e de perceber que no reverso da moeda estamos nós, aqueles que vão carregar com as consequências.
Está na altura de acabar com os interesses instalados num sistema de destruição massiva.
É agora hora de envolver, preservar e defender aquilo que outrora foi pão para matar a fome e foi água para matar a sede. Esta é uma responsabilidade de todos.
Vamos criar laços e construir pilares. Vamos ser racionais e conscientes. Vamos ser parte integrante do meio ambiente. Porque “quando a última árvore cair, o último rio secar e o último peixe for pescado, o homem vai perceber que não pode comer o dinheiro”. M. Linho
Com que entäo o sr Boaventura também opina?!
EliminarM. Linho,
EliminarPenso que há aí uma confusão. A economia para si parece ser uma coisa má. Dá ideia que, para si, a defesa do ambiente é oposta a uma economia saudável. Ora não é, a economia é o motor de tudo. Se a economia afrouxar, pára o desenvolvimento, pára a defesa do ambiente, pára tudo o que 'é bom'. Por isso, não percebo bem o seu comentário.
Fugas ao fisco dos outros.
ResponderEliminar1. Na sua referida entrevista ao Observador, o PGR anunciou querer a conclusão da investigação ao caso Spinumviva (a célebre "empresa familiar" de Montenegro) até 15 de julho, início das férias judiciais.
2. Spinumviva: Montenegro recusou esclarecer Entidade da Transparência sobre atividades da empresa
https://x.com/expresso/status/1938524125271593030
Faz como eu digo, não como eu faço. O mundo é dos espertos, como diz o ZÉ pateta, na falsa esperança de um dia poder ser esperto também.
Pois... A ver como vai acabar o folhetim Spinumviva.
EliminarSEMPRE NIF NAS FATURAS.
ResponderEliminarExacto. Concordo.
EliminarUJM, VIVA.
ResponderEliminarNeste burgo, nada é o que diz ser. O BE são os idiotas úteis da direita. O PCP são os lacaios do Putin. O PS são sociais democratas (os que são!) a dizerem-se socialistas. Os da IL são uns descerebrados inconsequentes onde para eles tudo se resume a cada um por si e fé em Deus que depois este manda uns apóstolos querubins controlar o desmando ,autocrático de cada um. O PSD é o Chega nos seus princípios e concepções políticas mas por vergonha lá se têm ajeitado na democracia como democratas a contra gosto. O Chega, é a versão mais requintada do Salazarismo. Não sei se falta algum...Áh, o CDS, pois, mas já foi, agora engraxa os sapatos do Montenegro. Pois bem , UJM, mais partidos?! Que esquecido que estou. Falta o livre que se especializou a explorar a cor das pessoas, e até, a gaguez, e o PAN , aquele que quer "humanizar" os animais, (disse, humanizar, não tratar mal, certo?!) portanto , siga a festa que está calor ♨️.
Que visão tão desencantada...
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