segunda-feira, julho 01, 2024

O que é que a Mariana Mortágua e a Penélope (do Aspirina B) têm em comum?

 

Quando li que a Mariana Mortágua veio com a conversa do passado racista de Portugal e com a condenação do seu papel histórico no tráfico de escravos, passei adiante sentindo o que sinto com este tipo de conversas: desprezo. Parece que é gentinha que vive de desenterrar causas, desligando-as do contexto, esquecendo as circunstâncias históricas, fazendo leituras desenquadradas nem sei com que objectivo. Para que serve, em concreto, isso? Culpabilizar quem em concreto? Antepassados que já estão feitos em pó há séculos para quê? O que é que nós, hoje, temos a ver com o que se passava naquela altura? Pois se eu não sinto que possa ser minimamente responsabilizada pelo que os meus avós ou bisavós fizeram, o que direi em relação a gente de séculos passados?

Mariana Mortágua, com aquele seu ar de intelectualmente superior, gosta muito de jogar conversa fora e eu, muito sinceramente, se nunca tive paciência para aturá-la, agora já nem pachorra tenho para me pronunciar sobre o que ela diz.

Mas, ao ler o texto da Penélope, percebi que a atitude dela, de sair a terreiro denunciando a hipocrisia, a ignorância e o papel populista do Bloco de Esquerda,  é a atitude inteligente. A minha foi apenas comodista.

E mesmo agora estava com vontade de mostrar os figuinhos que rebentam, numa exuberância, ainda não escorrendo pingos de mel mas, sim, por enquanto apenas pingos de chuva, ou de mostrar a graça da serra ao longe apenas com o cocuruto a descoberto, toda envolta em espessas nuvens que nos trouxeram uma abençoada chuva (chuva essa que mal me deixou fotografar...) e de juntar um vídeo com uma bela música e uma grande interpretação e pouco mais. Estava confortável em ser uma preguiçosa acomodada na sua zonazinha de conforto.

Mas o texto da Penélope ficou a martelar-me: boa, assim é que é, muito bem, tal e qual; e há que falar, há que não deixar passar.

Portanto, aqui estou (até porque, bem vistas as coisas, às tantas, a minha zonazinha de conforto é mesmo capaz de ser a partir um ou outro pratito...)

Desde há muito que aqui venho dizendo que considero que o Bloco de Esquerda não apenas não é um partido confiável como é um partido populista que, com um bacoco radicalismo de esquerda, tem repelido muita gente para o extremo oposto, isto é para o populismo igualmente bacoco mas de direita ultramontana como é o caso do Chega.

Não é só cá que a esquerda mais esquerda, face a um permanente exercício de tiros nos pés, caminha rapidamente para a auto-extinção. E, de carrinho, deixando parte da população descontente e indignada, em grande parte desiludida com o que pensavam ser o papel redentor dessa esquerda, consegue que a extrema direita vá engrossando.

O Bloco convencido que eles é que são os bons, os justiceiros, os bem informados, os fracturantes -- mas escolhendo temas que são marginais para a população em geral --, e o PCP convencido que o seu passado de resistência é salvo-conduto para um comportamento acéfalo e cego agrilhoado a causas de há cinquenta anos e em que já só têm como amigos os países em que impera a ditadura, a tirania e a estupidez mais encartada, estão cada vez mais reduzidos a uma minoria que tende, paulatinamente, para a irrelevância.

Ser de esquerda hoje não pode ser desenterrar fantasmas de há séculos nem travar lutas para as quais já não há quorum. Ser de esquerda hoje tem que ser outra coisa. Em Portugal deveria ser fácil encontrar o seu lugar: o lugar da democracia civilizada, evoluída, o lugar da liberdade, do desenvolvimento, da cultura, da qualidade de vida, da procura da felicidade e do bem estar, o lugar de um futuro auspicioso em que a gente acredite. 

Pode parecer um conjunto de lugares comuns e não digo que não sejam mas a questão é que é isto que as pessoas querem. E é a isto que a esquerda moderna tem que saber dar corpo. Vão ver os modelos das democracias da Europa escandinava, temperem com condimentos mediterrânicos ou mesmo tropicais. Não sei. Desenhe-se um espaço de esperança, de liberdade, de acolhimento, de tolerância, construa-se um porvir que se anuncie feliz. 

Enquanto não se descolar deste Bloco e deste PCP, que já eram, já não contam para nada, enquanto não se perceber que o PSD não tem nada disto para oferecer porque cheira a bafio e a naftalina que tresanda, enquanto não se perceber que o Chega é um balão à espera de ser rebentado, não se construirá uma alternativa viável. Perceba-se o que há no Livre e na Iniciativa Liberal de novo e que tem atraído tantos jovens, e jovens com formação superior, abram-se as portas do PS para que saia o sarro aparelhista e a velhada saudosista e revanchista, reconstrua-se uma nova esquerda, uma esquerda descomplexada, ambiciosa, pujante.

E faça-se isso antes que nos vejamos numa situação como a que se vive agora em França (ou na Itália, ou na Hungria ou por toda essa Europa em que parece que saem ratos debaixo de tudo o que é pedra no caminho).

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Mas porque não juntar a tal musiquinha que tinha em mente?

É uma graça. Ouçam-na, está bem?

MIKA - Over My Shoulder ft. Jakub Józef Orliński 

LIVE at Versailles Royal Opera (2020)


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Se quiserem responder à pergunta do título estejam à vontade, ok...?

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Desejo-vos uma boa semana

3 comentários:

  1. quem não deve não teme. que há muitos brasões que desde a mineração passando pela fundição e molde foram feitos à conta dessa tortura, sofrimento e morte. há, há, há. e ostentonos como fruto de muito trabalho, heroismo, sangue, suor e lágrimas.... dos pretos.

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  2. O tráfico de escravos só foi possível com a colaboração activa dos nativos.
    Muitos negros também ganharam muito dinheiro com a escravatura dos negros.
    Eram estes que os capturavam para quando viesse o barco os vender.
    Isto está documentado.
    Ainda recentemente, num documentário sobre escravatura, uma negra que investigava este assunto descobriu que os seus antepassados vendiam negros.

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  3. UJM,tens toda a razão, e só espero de irmos a tempo de salvar a verdadeira esquerda , existe muita esquerda falsa.

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