segunda-feira, abril 22, 2024

Um milhão de sonhos

 

É precisa muita coragem para ter uma deficiência incapacitante ou deformadora e seguir adiante, arranjar energia e motivação para viver no mundo 'dos outros'. Em situações assim, não se sentir inferior, não adoptar a atitude da vítima, não querer saber dos olhares de viés, não recear encarar o espelho, é sinal de valentia e de uma personalidade forte.

A minha mãe, enquanto viveu, manifestou sempre a sua surpresa por eu não ter nascido com paralisia cerebral ou outra lesão grave. Nasci mais tarde do que devia, o trabalho de parto durou dias, deixando a minha mãe exausta, bastante mal. Não fizeram cesariana nem me arrancaram a ferros. Não sei porquê. Se calhar não tinham meios. Não faço ideia. A minha mãe sempre disse que se assustou muito quando me viu: nasci roxa, quase negra,  coberta de limos verdes, sem respirar, praticamente morta. E, de imediato, tive que levar uma injecção de coramina. 

Em situações assim, de prolongada falta de oxigénio, não é incomum que os que sobrevivem sofram lesões, muitas vezes irreversíveis.

Quando a minha mãe contava isto e dizia que não sabia como é que eu tinha ficado normal, na brincadeira, o meu marido perguntava: 'Mas quem é que disse que ficou...? Acha mesmo que ela é normal...?'. A minha mãe respondia: 'Ah... não diga isso... não brinque...'.

E eu sempre achei alguma graça pois, na verdade, considero-me uma improbabilidade que correu bem, Sinto-me agradecida por tudo, a começar logo no facto de ter sobrevivido e, aparentemente, sem lesões.

Tive um colega na faculdade que sofria de paralisia cerebral. Dizia que era fruto de problemas no parto. Para ele tudo era muito difícil: andar, falar, escrever. Uma luta tremenda. Inteligente mas a ter que suar as estopinhas para que os outros o conseguissem perceber.

O caso de Ravi não tem a ver com isto. Teve um tumor benigno no cérebro mas tão grande e em zonas tão nevrálgicas que, na cirurgia, não conseguiram tirar tudo e, portanto, vive com os efeitos da pressão que o tumor provoca em zonas que afectam a sua expressão e a sua vida.

A sua actuação ao lado da irmã pequenina, dos pais, dos amigos, da equipa médica, de outras crianças com problemas, é uma actuação emocionante.

Não devemos ficar indiferentes ao que é a vida de crianças com problemas e a vida dos pais que veem a sua vida condicionada e que travam uma luta em quartel para que os filhos tenham uma vida tão normal quanto possível num mundo formatado para a 'perfeição'.

Brave 8-year-old, Ravi gets Alesha's Golden Buzzer with POWERFUL performance | Auditions | BGT 2024


A história de Ravi



Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Compaixão. Amor. Paz.

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