Como podemos pretender interpretar o que nos rodeia da mesma maneira se, perante uma mesma coisa, temos reacções tão diferentes?
Às vezes pasmo com comentários que recebo*. Posso estar, em meu entender, a ser obviamente irónica e logo me aparece alguém a interpretar tudo ao contrário e a achar que estou a gozar com maleitas alheias. Fico de boca aberta. Mas como? Não perceberam que o tom era de ironia? Serei tão pouco hábil na escrita? Terei que intercalar smiles para que percebam que é brincadeira? Ou quando ironizo sobre as adivinhas que se fazem em torno do desparecimento de alguém e há quem que se ache mais esperto que outros e, porque leu ou ouviu umas aqui e outras ali, já acha que sabe tudo e aparece como se estivesse a dar-me uma chazada por achar que mostrei não ter compreensão...? Fico de olhos arregalados. Mas como...?
A nível político, então, é o pão nosso de cada dia. Digo uma coisa, interpretam o oposto e aparecem a mandar bocas. Gostam de tresler? Ou não sabem ler? Frequentemente é isto: eu acho que estou a dizer potato e logo alguém aparece a mandar vir porque acha que eu disse tomato.
Coisas assim.
Fazer o quê?
Temos que aceitar que o mundo é diverso e que há lugar para todos. Portanto, aceitemos que, para alguns, falamos uma língua estrangeira ou aceitemos que, porque vivem uma vida diferente da nossa, nos acham, a nós, estrangeiros. Aceitemos.
É como na arte: no outro dia uma conhecida mostrava pinturas que acha excepcionais. E eu, atrapalhada, sem saber o que dizer. A mim parecia-me tudo tão básico, tão horrível. Jamais, mas jamais, seria capaz de pendurar uma coisa daquelas na minha casa. Não que não fosse uma espécie de reprodução realista de paisagens ou de retratos de pessoas a quem tivessem sido aplicados filtros de saturação de cores ou de contraste para ficar tudo absolutamente 'perfeito'... Só que, para mim, uma coisa do mais piroso que existe. Fiz uma ginástica do caraças para não deixar perceber que achava tudo aquilo detestável.
Em contrapartida, se mostro aquilo que a mim me agrada, é inevitável que alguém desate a rir como se aquilo até o filho ou o neto de cinco anos fosse capaz de fazer, e de olhos fechados. Como explicar que não gosto de coisas óbvias, que não gosto de coisas 'perfeitas'?
Mas posso eu achar que o meu gosto é melhor que o gosto de quem gosta de coisas que acho um pavor...? Não posso.
Mesmo aqui nos blogues, há quem os tenha com letras de todo o tamanho e feitio -- umas inclinadas, outras a bold, umas pequenas, outras grandes, umas às cores, outras aos saltos -- e tudo intercalado com bonecada que, a mim, me parece básica e de mau gosto. E, no entanto, para os autores e para os amigos, aquilo deve ser o máximo. E, se calhar, é. Para eles, deve ser. É subjectivo, isto. Nada mais subjectivo que o gosto. Portanto, tudo certo. Não os frequento porque me incomoda o que a mim me parece mau gosto e, naturalmente, não vou lá 'mandar bocas'. Sou civilizada e respeito os outros e, daquilo de que não gosto, faço uma coisa muito simples: afasto-me.
Agora, confesso, faz-me confusão que haja quem viva bem consigo próprio ocupando o seu tempo a ser desagradável para os outros. Mas, enfim, é o que é. Há gente para tudo.
Também por isso é que os resultados das eleições são para mim, por vezes, algo difíceis de perceber. Porque é que há tanta gente que vota em partidos que defendem medidas que lhes vão ser prejudiciais? Ou porque é que, perante a responsabilidade de escolher pessoas que nos representem, haja quem as escolha apenas para desestabilizar e causar ruído? Não percebem o risco?
Tudo um pouco bizarro. Os antropólogos ou os sociólogos -- ou mesmo os filósofos (e, se calhar, também os psicólogos, nomeadamente os especializados em psicologia social) -- que estudem estes fenómenos.
Eu, por mim, limito-me a render-me às evidências.
Agora uma coisa vos conto: gostei imenso de ver este casal aqui abaixo. Fantásticos. O que eles têm escolhido, coisas tão 'fora da caixa', o que eles têm, tantas obras e tão interessantes... E a generosidade deles... E, no entanto, o que não deve faltar deve ser gente que ache que aquelas obras não valem nada... e que os gestos deles pouco valor têm...
Mas é o que é.
Convido-vos a ver. E espero que se maravilhem como eu me maravilhei.
Anderson Art Collection to Open at Stanford
A new Bay Area art museum will open its doors this fall at Stanford University to showcase a who's-who of American post-war greats, including a large sampling of modern California masters. The works are a gift from Bay Area collectors Harry and Mary Anderson. KQED Newsroom visited the Andersons in their home to see what it's like to live in a house full of masterpieces — and why they're sharing their acclaimed collection with the public.
Cara UJM
ResponderEliminarPermita que agradeça ao SNS, a tarefa de ter acabado com horas de fila de espera nas urgências; que as ambulâncias já estejam disponíveis para os doentes, ou os corredores dos hospitais já estejam descongestionados com macas como há (8) dias estavam sobrelotados, e já agora, parece que o Bastonário dos Médicos, está mais calmo nas criticas ao SNS e quem o gere.
Todos os outros sindicatos corporativos também estão mais macios.
Digo isto, porque, nada disto são noticias nas televisões nestes (sete) dias passados das eleições, o país melhorou bastante nesta semana.
Adoro (vou fazer de UJM), viver neste país, com este maravilhoso povo, progressista, solidário, amigo do seu amigo que resolveu dar uma lição de democracia como já antes o tinha feito, com duas maiorias de cavaco, e antes ainda, com (50) de ditadura muitas vezes saudada com manifestações de apoio na capital, enfim, um povo de mão cheia.
Neste povo, só há uma diferença, é que agora, somos um povo, de gerações mais qualificadas, -dizem eles-, e nós, acreditamos, até porque, as nossas universidades especialmente as privadas, são de enorme valor cientifico académico. Já agora, para não aborrecer, fazia uma pergunta, sem resposta, evidentemente, mas lá vai: quanta juventude letrada, nas mais diversas universidades espalhadas neste país, conseguiam acabar a licenciatura em engenharia, por exemplo, no IST?! Pois é, assim se constroem mitos.
A propósito de arte, gostava de partilhar uma definição de um director de museu que, em entrevista, dizia que para ele arte é tudo o que o artista diz que é arte.
ResponderEliminarE exemplificava: se me aparece um artista com uma estante e meia dúzia de livros para serem expostos desta ou daquela forma, só tenho de aceitar que é arte.
Agora, ao ler o seu texto, cara UJM, só espero que ele não estivesse a ser irónico.
Olá Ccastanho!
ResponderEliminarNão é tão bom ser irónico...?
E já viu...? Desde que Marcelo mostrou que, com ele, governo PS nunca mais, parece que entrámos no reino das maravilhas: já não há aquelas desgraças que abriam notociários e faziam manchetes....
É o maravilhoso mundo da manipulação política, das lavagens aos cérebros...
Uma boa semana, Ccastanho.
Olá Anónimo@ da Arte,
ResponderEliminarNão, eu não estava a ser irónica...
E é capaz de ser verdadeira essa definição mas igualmente dúbia... Por exemplo, eu vejo aquelas peças do Cabrita Reis ou mesmo do Croft e fico na dúvida se eles acham mesmo que aquilo é arte ou se estão a gozar com a nossa cara.
Uma tábua no chão, dois tijolos. Ou uma estante pequena na parece com um cope de água lá dentro.... Arte? Caraças...
E continuo a não estar a ser irónica...
Uma boa semana!
Já lá vão umas décadas, quando ainda respirava utopia, meti na cabeça fazer uma galeria de arte nas instalações onde por acaso hoje habito. Então, constitui um processo, desde as instalações com as medidas, até á colocação da luz, etc. E fiz um texto que sustentava a ideia da galeria na sua filosofia de base que levava á realização da mesma, ou seja, o seu propósito.
ResponderEliminarVai daí, numa madrugada pela fresca, com o projeto na mala, acelero a caminho de Lisboa , e desemboco logo de manhã na Av António Augusto de Aguiar(penso ser esta, se não me engano) e ao entrar nas instalações do diretor geral da cultura ou outra coisa qualquer -não sei já a esta distância no tempo-,. Então, pergunto á secretária se o Sr Diretor me podia receber dado não ter entrevista marcada. A Senhora, simpaticamente, informa da impossibilidade de agenda.
Eram 9horas da manhã quando entrei na delegação do Diretor, e aguentei até ás 17h da tarde depois de verem a minha convicção e estoicamente sem virar costas, lá fui recebido.
O Diretor folheou, fingindo que estava a ler o projeto, e no fim, diz-me:-Percebo a sua intenção, é louvável a sua aposta na cultura, mas neste momento, a politica de turismo não é de explorar a sua passagem do turista, mas reter mais tempo no país, se me apresentasse um projeto de camas, provavelmente a resposta era positiva).
Quer dizer, transformar uma sala de alguma dimensão, em quartos, foi o mesmo que me mandar bardamerda com o projeto que apresentei. Só não levou com ele na puta-da-cara porque decidi ser condescendente com a estupidez.
E assim, a propósito de "Arte", contei a minha faceta "frustrada" de curioso de arte.
E, no entanto, o turismo de arte é dos mais sustentados, os que não dependem do clima, os que estão ligados a quem tem poder de compra.
ResponderEliminarNão desista, Ccastanho.