Claro que o dia foi pessimamente escolhido. Chuva e um impossível frio antártico, dentro e fora de casa.
Mas, nas actuais circunstâncias -- antes, antevendo o que estava por vir, depois, os exames e consultas, depois as idas aos hospital e, em cima disso, sempre temendo que alguma coisa aconteça --, já não íamos ao campo talvez há um mês. Tempo demais.
Como a minha mãe felizmente está francamente melhor e esta segunda-feira a minha filha lá ia, resolvemos tirar, nós os dois, o dia de folga e, depois da visita no domingo, seguimos para o campo.
Chegámos de noite. Não vos digo nem vos conto... Um gelo. Mal abrimos a porta sentimos logo: parecia que estávamos a entrar numa câmara frigorífica. A casa gelada, gelada, gelada.
Ainda por cima, como há algum tempo, creio que no verão, estiveram a colocar tubagem nova na salamandra, agora, ao acendê-la, desatou a sair uma fumarada. Portanto, noite gelada, tivemos que abrir as portas para limpar o ar. Ou seja, mais frio entrou.
Afinal, hoje, de dia, o meu marido esteve a inspeccionar a situação, voltou a colocar lenha e a deitar-lhe fogo e percebeu o que se passava. Quem lá esteve, instalou um registo no tubo. Pelo menos foi o nome que ele deu a uma coisinha que roda que, se bem percebi, ou deixa ou não sair o fumo. Portanto, rodou aquilo e imediatamente o fumo deixou de sair e a sala ficou quentinha.
Só que hoje, para além do gelo cá fora, choveu todo o dia. Portanto, não esteve agradável. Se fosse para estarmos mais dias, ao segundo ou terceiro dia já a casa se teria climatizado e já se estaria bem. Além disso parece que esta terça-feira já nem vai chover. Mas querendo vir esta segunda-feira, mal deu para usufruir. Chegámos no domingo à noite e saímos esta segunda, por volta das seis e meia. Não deu para nada. Ou melhor, para quase nada. Quase.
É que, seja como for, vá lá eu saber porquê, tal como sempre acontece quando lá estou, dormi que me fartei. E só isso já é bom. E dormi sem acordar a meio, sem sonhos maus. Dormi que foi um regalo. Acordei descansada.
E ainda consegui dar uma esticadinha pelo campo. De sombrinha aberta, com frio. Mas que se lixem as condições atmosféricas adversas quando se está in heaven.
A terra está verde, atapetada de musgo, há zonas cobertas de etéreos líquenes, o feto que nasce todos os anos de sob uma pedra está viçoso, pujante de vida, um tronco caído de uma pequena árvore, descarnado, parece uma espada esperando o momento de ser garbosamente empunhada, há cogumelos carnudos, húmidos, de um rubro antigo, e encontrei um, imagine-se, lilás, irreal.
Fascino-me.
Não preciso afastar-me da minha casa para descobrir maravilhas do outro do mundo.
E depois confirma-se o milagre pelo qual eu tanto esperava: os esquilos voltaram. Sob alguns pinheiros voltaram a aparecer as pinhas roídas. Que alegria. Espero que nunca mais tenhamos que fazer alguma coisa que os assuste e afugente. Gosto de sabê-los por lá, confiantes, livres, como se aquele fosse o seu heaven.
Agora que tenho estado cara a cara com os mistérios da finitude da vida, com a fragilidade e, ao mesmo tempo, a força dos fios que unem os corpos à vida, gostei imenso de ver o vídeo que abaixo partilho. Também eu me tenho interrogado sobre muitas coisas e me tenho imposto a necessidade de degustar com prazer os pequenos prazeres: olhar o céu, deixar-me estar a ver o voo de um pássaro, encantar-me com a perfeição de uma flor efémera e campestre, contemplar os muitos tons de verde, ouvir uma música de olhos fechados, pensar naqueles que mais amo, sentir e agradecer a paz à minha volta.
The beauty of living
Wrinkles, lines, scars - there are many ways that time leaves its mark on our bodies. Yet mainstream culture dreads getting older - we are urged to fight the ageing process, and many feel pressure to lie about their age. But as Betty Friedan famously said: "Ageing is not 'lost youth' but a new stage of opportunity and strength."
With age can come confidence, and freedom to realize who we really are. As we age, we grow into a deeper kind of beauty, one which works its way from the inside out. It’s a more authentic beauty because it radiates from within. So let’s celebrate lives well lived. And feel lucky to wake each morning to appreciate what the new day has to offer.
Filmed in McGregor, South Africa.
Featuring Annie Norgarb.
A "Sábado" tem uma reportagem sobre esquilos. Não o consigo ler por não ser assinante desta revista, mas, para a eventualidade da UJM o conseguir, aqui vai o link:
ResponderEliminarhttps://www.sabado.pt/vida/detalhe/o-regresso-do-esquilo-vermelho