Penso muitas vezes, se calhar quase todos os dias, que não quero ocupar o meu tempo com situações que não me agradam e que podem ser evitadas. Tento ser rigorosa nisso pois de grande parte das desagradáveis não posso fugir. Por isso, ao menos das que não me interessam e que estão nas minhas mãos, tento fugir.
Desejei tanto reformar-me, desejando imenso usufruir do meu tempo em plena liberdade. Tive que protelar esse momento sobretudo por amizade e solidariedade para com uma pessoa por quem nutro grande estima e a quem não ia abandonar numa altura em que estava a passar por uma delicada situação de saúde. Por ele mas também pelos trabalhadores que poderiam sentir-se também abandonados se viesse a verificar-se um vazio na gestão da empresa caso eu saísse, pois ele estava com algumas limitações (que não queria que ninguém soubesse, contando comigo para o ajudar a gerir esse momento). Portanto, aguentei-me para além do que tinham sido as minhas expectativas.
Quando finalmente o consegui, arranjei uma inflamação num joelho que quase me impedia de andar e que me obrigou a exames. A seguir tive covid. A seguir à covid não conseguia parar de dormir.
Por essa altura a situação clínica da minha mãe teve um surpreendente agravamento, tendo sido internada. Quando teve alta, julgando eu que tudo se apaziguaria, não. Todos os dias a minha mãe tinha sintomas que a angustiavam e para os quais nem eu nem os médicos encontrávamos explicação.
Por sua vontade, quis recentemente ir para um local com corpo clínico residente, julgando-se sentir aí medicamente mais apoiada. Pensei que, nessa altura, poderia eu descansar pois alguém haveria de conseguir lidar com a situação. Contudo, sem que ninguém conseguisse perceber porquê, aconteceu o contrário, a situação agravou-se.
Está há já quase duas semanas internada e todos os dias há razões de preocupação. Chego, pois, ao fim deste ano que não me tem sido nada fácil, submersa em apreensão.
Isto faz-me lembrar o que aconteceu com os meus pais. A minha mãe reformou-se mais cedo, o meu pai um pouco depois. Nessa altura, o pai do meu pai e a mãe da minha mãe estavam vivos mas de vez em quando estavam doentes e os meus pais, por um motivo ou por outro, nunca queriam ir de férias para longe pois primeiro pelo meu avô e depois pela minha avó, temiam sempre que houvesse algum problema mais grave, algum desenlace, e queriam estar por perto.
Quando a minha avó morreu, a última, pensei que talvez nessa altura os meus pais conseguissem usufruir em tranquilidade da sua reforma. Mas não. Algum tempo depois o meu pai teve um AVC, responsável pelo seu progressivo declínio ao longo de cerca de doze anos.
Pensei eu que a minha mãe, que tinha acompanhado o sofrimento do meu pai, quando ele partiu, faz três anos e meio, iria poder usufruir da sua liberdade. Ainda andou na universidade sénior, estava connosco, ainda foi de férias connosco para o Algarve e ainda foi a uma excursão com uma amiga. Mas foi sol de pouca dura. De há cerca de ano e meio a esta parte começaram os problemas com ela.
E eu acompanhando todas estas evoluções, ou seja, na prática, também sofrendo eu estes problemas.
É a vida. Nada a fazer. Quando se vivem vidas longas acontece isto.
Tive um colega que, pelo telefone, tinha longas e audíveis discussões com a mulher. Eu estava no gabinete ao lado e não podia deixar de me rir com o despautério dos temas que os levavam a pegar-se daquela forma inflamada. Contudo era inseparável dela, a quem tratava por 'a minha namorada'. Reformou-se, todo feliz por poder ver-se livre de chatices e poder gozar a vida em liberdade com a sua namorada, ir com ela para uma casa de família no norte. Pois, imagine-se, ao fim de poucos meses, sem qualquer aviso prévio, um dia, na sala, julgando ele que ela tinha adormecido no sofá, percebeu que afinal tinha tranquilamente morrido, sem um ai. Foi um choque, claro, sobretudo para ele e para as filhas. Mas também para todos nós que não conseguimos ver como vai ele poder viver sem a sua eterna e fogosa namorada.
Enfim. É o que é. Não se escolhe. Todos gostaríamos que não houvesse sofrimento envolvido mas, quando não há, também custa pois as partidas são inesperadas, uma amputação precoce.
Enfim. Uma conversa meio triste, esta. Que chatice, estar a maçar-vos com estes assuntos. Preferia estar aqui na brincadeira. Mas não consigo.
Há muitas situações que não dominamos, que nos condicionam, que nos obrigam a ocupar o nosso tempo com elas e não com o que queríamos. E a que a nossa consciência não permite que nos soneguemos a elas. Ainda hoje a minha tarde foi passada com uma tarefa que me custou bastante, quer física quer, sobretudo, psicologicamente. Vim esgotada. E, quando fico fisicamente esgotada, parece que fico desidratada e com a tensão baixa de mais. Mesmo em baixo. Não conto porque não me apetece estar a falar de coisas que me custam. Um dia contarei.
Vou entrar no ano novo e, para mim, nem sei bem o que deseje. Claro que quero saúde, vida longa e boa, alegria, boa sorte e felicidade para mim, para a minha família, para os meus amigos. Penso sobretudo nos meus queridos filhos e nas famílias que constituíram, e, muito em especial, nos meus tão amados netos. Para eles, do mais fundo do meu coração, desejo tudo, tudo, tudo de bom.
Mas, dada a situação da minha mãe, sei que os meus votos, no caso dela, devem ser adaptados mas, sinceramente, nem sei como adaptá-los. Ainda há pouco uma das minhas primas me lembrava que a complexidade do quadro não permite optimismos. Bem sei. E isso é uma sombra que me acompanha, uma sombra muito escura, muito pesada, quase esmagadora, nesta recta final do ano, nesta entrada num ano novo.
Mas tenho que relativizar. Obrigo-me a isso. Na minha situação deve haver muito mais gente, pessoas com familiares doentes e relativamente aos quais manda o bom senso que não se alimente a esperança em aparatosos milagres. Para quem me lê e que esteja nessa situação desejo ânimo, força, coragem, aceitação.
E o que dizer, então, dos que vivem em cenários de guerra, gente corajosa que não tem culpa de ter nascido num local onde caem mísseis, onde há fome, falta de apoio na doença, onde a esperança é um conceito muito abstracto...? Nestes casos, só posso desejar que alguém consiga apear os bandidos, os assassinos, os facínoras, e que a paz seja possível. E para os que sofrem os horrores da guerra desejo que acreditem que melhores dias virão. Devaneio meu, certamente, este desejo por justiça e por paz. Mas é o que desejo.
Desejo também que a democracia e a liberdade sejam respeitadas e amadas em todas as partes do mundo em que as há e que possam ser uma realidade onde as não há. Desejo lírico também este, bem sei. Mas é também o que desejo.
Cá em Portugal, desejo que o Partido Socialista ganhe as eleições legislativas e consiga formar um Governo estável e forte que saiba honrar os votos que receber dos eleitores e que saiba desenvolver e modernizar o País, levando melhorias a todos os portugueses e a todos os imigrantes que queiram trabalhar, viver e contribuir para o crescimento sustentável do País. Gosto muito do meu país. Para ele quero o melhor.
E agora, descendo à realidade aqui deste cantinho, do blog onde nos encontramos à fala, quero agradecer a vossa presença aí desse lado, uma presença que me acompanha e anima. Espero que compreendam a minha ausência de resposta a comentários e mails mas, ainda assim, aceitem as minhas desculpas. Para todos vão os meus votos de um feliz 2024. Desejo-vos tudo de bom. Tudo o que desejo para mim e para os meus desejo-vos também, meus queridos Leitores. Que continuemos a encontrar-nos por aqui ao longo de 2024.
Muito obrigada, querida UJM, por este texto feito
ResponderEliminarcom amizade e sinceridade, dando-nos conta das
suas preocupações e tristezas.
As suas palavras servirão de lenitivo a todos
aqueles que sofrem situações semelhantes e que
não conseguem gerir.
Desejo-lhe tudo de bom neste Ano de 2024.
Que a Saúde bafeje a sua Mãe e toda a sua
Família.
Que a Alegria e a Boa disposição estejam
sempre presentes.
Grata por estar deste lado.
Beijinhos
Olinda
Desejo tudo do melhor para si e sua família em 2024, a começar pela saúde.
ResponderEliminarSó existe uma vida.
Alexandre Gama Vieira
Querida U J MANSO, Obrigada pelos seus votos . Desejo -lhe que o novo ano venha recheado das melhores coisas da vida, a paz, a saúde ,o carinho e respeito. Pela minha parte só peço saúde e amor já nem peço dinheiro pois cada vez mais me contento com pouco.Um chá e um pãozinho com manteiga por vezes é um manjar. Um abraço e obrigada pela companhia. Bom ano para si e todos os seus Pôr do sol
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ResponderEliminarcorrigindo:
...desse lado.
Bj
A Todos
ResponderEliminarO meu sincero agradecimento.
Votos de um bom 2024. Um grande abraço. E vamo-nos encontrando por aqui, não é?