quinta-feira, agosto 03, 2023

Pesadelos que desencantam angústias do passado

 

Quando deixei de fumar nunca recaí. Mas, por várias vezes, sonhei que estava a recair. Eram sonhos muito reais. Sentia o prazer de fumar, sentia o cheiro e o sabor, desfrutava a aspiração profunda e a longa expiração. Depois, sobressaltava-me, irritada por ter recaído e me ter esquecido de que já não fumava. Acordava atarantada, muito aborrecida por ter estado a fumar... e custava-me a perceber que tinha sido um sonho. 

Provavelmente é qualquer coisa de semelhante que me acontece agora ao ter pesadelos horríveis em que tenho reuniões e em que, pelo trânsito que apanho pela frente, por não arranjar lugar para deixar o carro, por não me lembrar onde deixei o carro e não conseguir pôr-me a caminho, seja pelo que for, vejo o tempo a passar e percebo que não vou conseguir chegar a tempo.

Eu, na pontualidade, sou germânica. Se é 9:30 é 9:30, nem 1 minuto a mais nem um minuto a menos. E, portanto, sendo eu assim, imagine-se como fico doente quando sou eu a chegar atrasada. E, pior ainda, quando era eu a convocar a reunião e, afinal, deixar todos plantados à minha espera.

Muitas vezes as pessoas admiravam-se de eu não me stressar com situações que deixavam outros ao rubro -- trabalhos que corriam mal, reivindicações salariais absurdas, reclamações ridículas aquando das avaliações, gente falsa que atira a responsabilidade dos seus erros para cima dos outros ou que quer afirmar-se pisando os outros. Não me stressava com nada disto. Mas ficava doente quando ia atrasar-me e não conseguia evitá-lo.

Presumo que seja isso que me faz ter pesadelos como tive a noite passada. Sonhei que tinha uma reunião às 10:30, que já tinha marcado mais tarde para garantir a pontualidade, e tudo me corria mal. Nos meus pesadelos, em volta disto há ainda outras recorrências: vou com miúdos e com sacos com roupa e comida para eles. E eles depois estão com sono, cansados, arrastam-se, não querem ir e eu tenho que puxá-los. E não consigo levá-los ao colo. E tudo me corre mal, vou dar a sítios que não conheço, não encontro quem saiba dizer-me o caminho, depois perco-me, a seguir apanho escadas, precipícios, tudo. E o tempo a aproximar-se e eu a ver que vou chegar atrasada. E os miúdos têm fome, querem ficar sossegados a brincar e eu puxo-os, preocupo-me que caiam e se magoem, preocupo-me porque devia dar-lhes de lanchar ou vestir-lhes um casaco e, atrasada e exausta como já estou, não consigo.

Acordo, numa angústia. Levanto-me, vou à casa de banho, tento assimilar que foi um sonho. Mas primeiro que o coração volte ao normal é um castigo.

E isto das crianças só pode ter a ver com a angústia que me apertava o coração quando tinha que ir buscar os miúdos à escola e as reuniões não acabavam, ou estava muita chuva e o trânsito não andava, ou havia um acidente que parava o trânsito e já não se conseguia voltar para trás para escolher um caminho alternativo. 

Mas há quanto tempo isso foi... E ainda estou com isto... Deve ter sido tão traumatizante para mim que ainda labuto contra o pesadelo que era para mim saber que os miúdos estavam à minha espera e eu não conseguia ir a correr para chegar cedo como gostaria.

E ultimamente tenho tido vários destes maus sonhos. Quando me deito já vou com receio de os ter. E a chatice é que, quando acordo, estou tão sobressaltada e preocupada que me custa imenso voltar a adormecer.

Ontem tinha visto um vídeo sobre pontes (e eu gosto imenso de apreciar a elegância do seu desenho) mas aquelas eram tão vertiginosas que interrompi a meio com receio de ter pesadelos com elas. Afinal, tive mesmo um pesadelo e nada teve a ver com pontes que dão vertigens.

Portanto, vou arriscar. E vou partilhar convosco. São extraordinárias obras de arquitectura e, sobretudo, de engenharia, obras que, certamente, nasceram do sonho de quem as concebeu.

Here’s The Bridge That Gives Drivers Panic Attacks When They Go Over It

Bridges are marvels that unite people and places, spanning over rivers, canyons, and other formidable barriers. But beware, because there are bridges that defy the very notion of safety, haunting even the boldest heart. Whether it's their towering heights, treacherous narrowness, or the relentless forces of nature they endure, these bridges have earned a notorious reputation as the most bone-chilling spectacles ever witnessed. In this video, we’ll take a look at some of the most mind-boggling and spine-chilling bridges in the world. 

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Uma bela quinta-feira
Saúde. Sonos descansados. Paz.

2 comentários:

  1. UJM

    Falando de pesadelos, e cada um tem os seus. Uns mais ficcionados, outros bem reais.

    O meu maior pesadelo do dia de ontem, foi ver um Presidente da Republica laica, Marcelo Rebelo de Sousa, beijar a mão a um líder religioso.

    Marcelo enquanto Presidente da República de todos os portugueses, ontem, desconsiderou um país de constituição laica.

    Ontem senti repulsa, vergonha até, por ter na Presidência, um eleito democraticamente, vergar os Portugueses enquanto Nação, ao beija mão a um líder religioso.

    Isto é um ultraje, uma falta de respeito. Uma vergonha.

    Só uma coisa me honra: nunca votei nesta pessoa para presidente do país. Nunca me enganou.

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  2. Olá UJM;
    Procure encarar os seus sonhos como "normais" para começar a deixar de lhe dar atenção e atribuir importância.
    Eu já me reformei há 5 anos (devia ter sido há 8, mas "impediram-me" durante 3), e ainda hoje sonho com o trabalho (chefes, subordinados, colegas, clientes, fornecedores, intermináveis reuniões de "serrar presunto", avaliações, prémios, viagens, projetos a correrem bem e outras mal), e é tudo tão "vivo" que às vezes não sei onde acabou a realidade e começou o sonho. Mas nada que me incomode. Habituei-me.
    Um abraço e aguardo pela publicação dos seus livros.

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