segunda-feira, abril 24, 2023

As vacas e os bois correm para a ouvir cantar

 

Na caminhada da manhã apanhei um ramo de rosmaninho. Coloquei-o num vasinho com água dentro de outro vaso não furado, portanto, como se pusesse as flores dentro de água.

De tarde, estive a transcrever folhas na mesa que está debaixo do jasmim amarelo e da buganvília fúcsia e que tem a dita rosemary, na pseudo-jarra, em cima. O perfume de tudo é uma maravilha mas o perfume da rosa maria sobrepõe-se agradavelmente.

O cabeludo estava deitado aos meus pés. Um pássaro andava por ali a saltitar mas, como era pequeno, o cabeludo tomou-o por inofensivo e, portanto, nem se dignou mexer um pêlo.

Quando o meu marido veio lá de dentro, queixei-me que já me doía o braço, se calhar porque a mesa é alta demais para eu estar a escrever ao computador em cima dela. Para atenuar, sugeri que me preparasse uma bebida boa. Cavalheiro como é (e, certamente, com um certo peso na consciência por ter desistido de me ajudar na minha esforçada empreitada) veio de lá com um copo apetitoso só de olhar: sumo de laranja, um bongo, rum, nêsperas aos bocados e um bombom de gelado de chocolate preto e frutos vermelhos. Estava delicioso mas a única coisa que fez parar a dor no braço foi parar de escrever.

Tirando isso, posso dizer que hoje lavei as forras de almofadas aqui da sala e, por isso, agora que estou sentada no sofá, no meio delas, envolvem-me com um cheirinho fresco a sabão de marselha. 

Poderia ainda dizer que, ao fim deste tempo todo, eu e o meu marido continuamos sempre com vontade de dormir mas isso seria, para vocês, um déjà-lu. Mas, ainda assim digo: levantamo-nos com vontade de continuar a dormir, a seguir ao almoço, se pudermos, encostamo-nos onde calhar e dá-nos o sono e, mal nos sentamos aqui à noite, se não tivermos nada que nos impeça, fechamos os olhos e, passado um bocado, estamos a dormir. Tirando isso, parecemos normais.

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E talvez seja esta indolência que me faz desinteressar-me das tricas-laricas diárias. Ou, então, a covid não me trouxe apenas sono, trouxe-me também um filtro que criva as tretas e só deixa passar coisas como esta aqui abaixo que, sinceramente, acho o máximo. 

As vacas correm para ouvir a senhora a cantar. E canta bem, ela. Agora o que leva os animais a quererem tanto ouvi-la e a a ficarem, encostadas aos muros, para melhor a ouvirem? Bom ouvido? Sensibilidade apurada? Não sei e gostava de saber.

No meio das proezas e riscos da Inteligência Artificial, mudo de rota e deixo-me encantar com coisas assim.


Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boas vibes. Paz.

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