quarta-feira, março 29, 2023

Clarice, a difícil que sabia escrever fácil
[Uma luz a iluminar a minha noite]

 

Mais um dia cheio de atipicidade. Assim têm sido os meus dias desta minha nova era.

Ainda na parte da manhã tantos os telefonemas, tantas as mensagens, tanta a logística a ser improvisada, tanto tudo a ter que ser preparado às pressas que o meu marido, que gosta das coisas mais calmas e mais planeadas, se ia enervando. Queria falar comigo e eu não conseguia deixar de estar ao telefone ou a ler ou a responder a mensagens.

Nada a fazer, as coisas são o que são. Há alturas em que não dá para fazer o que se quer, como se quer, quando se quer, pois a urgência dos factos fala mais alto.

Portanto foi mais um dia em grande parte fora de casa, parte do qual a ter que conviver e fazer conversa com quem não estou nem aí, e a estar de boa cara pois as pessoas genuinamente fazem por bem e há que corresponder.

E esta quarta-feira vai ser outro dia atípico, em grande parte fora de casa. 

E o corpo a pedir descanso, pesado, os olhos a quererem que os feche. Pior é que a noite passada foi noite mal dormida. 

O sono chegou quase de manhã e logo depois chegaram os pesadelos. Não é a primeira vez, um assim. 
Estou num hotel onde decorre um encontro do Grupo e dou por mim e as peças de roupa que trago vestidas e que tinha vestido à pressa e com pouca luz não condizem entre si. É tudo em verde mas tons díspares, um é verde dourado, o que prefiro, outro é verde quase garrafa, as meias ou os sapatos, não me lembro, num tom quase alface. Vejo-me ridícula e decido que tenho que me trocar. Mas as malas já não estão no quarto. Ando aflita a correr sala após sala e não as descubro. Passo pela sala onde se serve o pequeno almoço, e eu cheia de fome e sem tempo para comer. Quando finalmente as descubro, mal consigo abrir a mala de tão ceia que está. Depois consigo tirar a roupa lá de dentro mas o resto vem atrás, depois a mala não fecha. Vejo as horas e vejo que o autocarro está quase a partir. Resolvo mudar-me ali mesmo, em frente às pessoas, e sinto imensa vergonha mas tem que ser. Depois a roupa que visto está húmida ou então sou eu que mão me limpei bem e a roupa não escorrega na minha pele, fica presa. Eu puxo, puxo, o tempo passa e eu naquela aflição.
Acordei. Tentei interiorizar que era um sonho. Ao adormecer, o mesmo sonho, mais refinado, o tempo a esvair-se e eu sem conseguir despachar-me.

Parecia eu que adivinhava o que estava para vir.

Mas, pensando bem, as coisas estão melhores do que estavam faz esta quarta-feira uma semana. Por isso, bola para a frente.

Tenho muitas coisas para fazer e muita vontade de fazê-las. E sou optimista e tenho esperança que as coisas acalmem e normalizem.

Até lá é aquilo que já se sabe: keep calm and carry on

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E, creio que pressentindo que tenho esta vontade de ter tempo para conseguir rever o meu 'livro', mas rever com olhos de ver, com sentido crítico e distanciamento, o meu amigo algoritmo apareceu-me com um vídeos de uma escritora que muito aprecio: a nascida na Ucrânia Clarice Lispector. Não será estreia aqui no pedaço mas é sempre um prazer.

Entrevista com Clarice Lispector 

(feita alguns meses antes de morrer)


Um dia bom
Saúde. Serenidade e esperança. Paz

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