sexta-feira, dezembro 09, 2022

Olha quem ele é...

 

Só para dizer. O que aqui se vê junto ao ex-cãobeludo é a carpete que costuma estar sob os meus pés. No canto superior esquerdo da fotografia acima está o ossinho que levou a isto (abaixo, em grande plano).

Quando se sentou para descansar um pouco, chamei-o para o fotografar e ele, obedientemente, virou a cabeça na minha direcção e olhou até eu dizer 'já está'.

Quando nos acomodamos na sala, o meu marido costuma dar-lhe um ossinho para ver se ele está entretido a roê-lo. Sim, sim... era bom... Entretém-se é a escondê-lo, dá grandes saltos quando o reencontra, depois volta a escondê-lo e, no acto, certamente simulando os movimentos de escavação, enrola e puxa a carpete, volta a esconder o ossinho, salta, vem ter comigo para eu ver a proeza. Eu digo 'o ossinho é muito maroto' e ele volta à luta. 

[Às vezes vem da rua com um destes ossinhos já meio moles, sujo de terra. Ou seja, leva os ossinhos lá para fora e enterra-os.]

E eu acho graça. Não me zango. Está entretido e feliz a brincar, não estraga nada. Daqui a nada irá deitar-se sozinho, na sua caminha. Longe vão os tempos em que se recusava a deitar-se. Mas ontem fez uma coisa curiosa. Quando fui deitar-me, não estava na sua cama nem em nenhum dos spots que costuma eleger para se recolher. Chovia que deus a dava, um ruído incessante de vento e chuva. Pois bem, tinha ido para o piso de cima, encostado ao vidro de onde se vê o jardim, a rua e as causas de todo aquele fuzuê. Cão de guarda não descura a vigilância em situação de crise.

Entretanto, agora anda a comer à maluca. Talvez seja para armazenar calorias para resistir melhor ao frio. Não sei. É apenas uma suposição. Come, come, come. Depois arrota como um abade. Ouve-se de longe. A seguir vem ter connosco, a lamber-se. Eu digo: 'Muito bem, esteve a comer a papa'.

[O meu filho diz que eu falo com ele como com um bebé, diz que parece que é o meu sexto neto. É involuntário. Creio que com a nossa cãzinha mais fofa era a mesma coisa. Sai-me, sou assim].

Mas isto para dizer que, com tanto salto e de barriga tão cheia, deu uns puns malcheirosos. Ora esse é um tema ao qual o meu marido é assaz sensível. Ou seja, embora contrariado, resolveu ir com o urso à rua. Achou que tinha que ser. Tentei dissuadi-lo, mas em vão. De noite, tão tarde, a chover, para o cão vir todo molhado, que disparate... Mas lá foram.

Já regressaram, o cão mais parecendo um pinto. E não fez cocó. 

Portanto, agora está o meu marido a limpá-lo. Mas já sei que acabarei por ter que ir completar a secagem pois fartam-se ambos muito rapidamente. Ora, se o bicho fica húmido, não apenas não deve ser nada confortável como a caminha ficará a cheirar a lã molhada e a cão malcheiroso.

Enquanto agora estava a olhar para a televisão, depois de o limpar, mal o meu marido se levantou do sofá para ir dormir, o marquês saltou ele para lá. Para tudo é preciso sorte. Podia estar num monte alentejano a guardar ovelhas e, em vez disso, pode refastelar-se em sofás e receber tratamento de princesa.


Mas deve ter sido apenas para ir sentir o calor do dono pois, entretanto, levantou-se, espreguiçou-se e foi para o seu cantinho, para a sua cama. Cão mais fofo.

De resto, tenho a dizer que o jardim está coberto de folhas, um outono molhado, com cores lindas. E eu fotografo, encantada.



Enquanto ando nestes números bucólicos, o artista desafia o cão da casa ao lado, ladra com convicção, atira-se contra a vedação que os separa, dá grandes saltos e faz piruetas no ar. Já conseguiu arrancar a relva naquele sítio, tal a maluqueira dos saltos. O outro quase não lhe liga mas ele não descansa enquanto o outro não se abeira, do outro lado, e não alimenta este picanço. Aí é a fúria total: parece ele que tem o diabo do lado de lá da vedação. Fica possuído. O meu marido já pôs uma rede de ocultação naquele sítio para ver se não se verem -- olhos que não veem, coração que não sente. Mas não serviu de nada.

Uma vez, um entendido que aqui esteve disse-nos que um cão assim precisa de outro com quem brincar e, se calhar, é.

[Dúvida: devo dizer "com quem brincar" ou, dado que se trata de um cão, "com que brincar"?]


E é isto. Continua a chover a rodos. Não sei como andam as barragens mas presumo que já estejam com os níveis regularizados. A chuva é uma bênção dos céus. É uma pena que não saibamos lidar bem com ela. 

Deveríamos meter na cabeça que deveríamos ser capazes de viver em harmonia com os elementos da natureza: bichos, pedras, árvores, rios, mares, luz, nuvens, ventos, palavras.

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Desejo-vos uma boa sexta-feira

Saúde. Boas notícias. Boa sorte. Paz.

2 comentários:

  1. Maria do Carmodezembro 09, 2022

    Gosto muito de a ler. Sim devíamos saber viver bem com os elementos da natureza. Eu gosto de chuva, não gosto de tempestades. Sou uma pessoa de campo, de outono mais que verão talvez por viver em zona turística .No verão levanto-me ao nascer do sol simplesmente por ver começar um dia novo. Apreciar tudo o que a natureza nos dá vem da maturidade ou da idade, sei lá. Gosto da forma como fala com o Peludinho. Eu também falo assim com os meus animais. Mas não digo vem à mãe ou ao pai, sinto que não é natura . Natural é tratarmos tudo e todos com respeito. Um bom dia para si. Abraço

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  2. Olá Maria do Carmo,

    Embora a manhã me encante, eu sou mais da noite. Gosto de estar a pé quando a casa dorme. Gosto muito do silêncio e dos mistérios da noite. Gosto muito de ver as árvores (e o mar) à noite, em especial quando o luar os ilumina.

    E encanto-me com os animais. Mas também não me passa pela cabeça tratá-los como se fosse mãe deles... Concordo que é contranatura. O meu instinto maternal é forte mas não chega a esse ponto... Agora até me lembrei de uma bebé filha de uma nossa amiga, por sinal nada maternal, que se agarrava a mim e me chamava 'mãe'. Aquilo fazia-me tanta impressão... Por um lado imaginava o choque que deveria ser para a minha amiga e, por outro, parece que estou formatada para que apenas os meus filhos me considerem sua mãe.

    E espero que as tempestades passem ao largo...

    Um bom fim de semana, Maria do Carmo. E muito obrigada pelas suas palavras.

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