Eu não sabia mas agora já sei. Claro que não descobri por mim, não tenho minimamente conhecimentos para isso. Mas, agora que sei, parece-me óbvio. Claro que sim. Claro, claro que sim, que é aquele o supercomputador da natureza.
Quando estamos no campo, ele anda feliz, anda por onde quer. No entanto, pastor que é pastor não abandona o rebanho. Mal vem de dar os seus passeios ou mal acaba de ladrar a quem passa na estrada, logo vem para casa. Gosta muito dos cadeirões ao pé da lareira. Tudo naqueles cadeirões é fofo: o assento, o encosto, os braços. Aconchega-se, aninha-se.
Mas, quando estamos em meio mais urbano, só vai a passeios pela trela. E aí cheira tudo: os passeios, as vedações das outras casas, os troncos das árvores, a relva, a erva dos baldios. Cheira, cheira, com um interesse que não atingimos. Como, ao mesmo tempo, queremos fazer a nossa caminhada, puxamo-lo e ele, contrariado, lá vem. Por vezes, alguma coisa o deixa agarrado. A gente não vê nada mas ele não quer arredar pata. O dono às vezes passa-se pois quer andar e ele, de facto, tem dias em que tudo o desinquieta, a tudo se prende. Não sabemos o que tanto interesse lhe desperta mas percebemos que ali há coisa.
Quando vamos passear para a beira da praia e nos cruzamos com outros cães com donos pela trela, aí a conversa é outra: aproxima-se, cheira-os, andam em volta um do outro. Fica animado, dá ao rabo. Outras vezes quase salta de alegria. No outro dia, um deitou-se no chão (não sei se um, se uma) e aí ele ficou admirado e parece que perdeu o interesse. Se calhar, ficou apenas desconcertado. Ainda é jovem, sabe pouco da vida.
Mas presta muita atenção a tudo. E quando digo tudo é mesmo tudo. Não sei o que é que percebe ou o que é que pensa. Mas presta atenção. Esta terça-feira, à hora de almoço, caiu um dilúvio, água e mais água. As portadas de vidro estavam fechadas, uma delas basculando. Não estava frio e gosto de sentir o ar da rua e de ouvir bem o cantar da chuva. E ele sentado, encostado a elas, ouvindo e vendo, não sei se intrigado, se encantado. Eu sentada, ele sentado, os dois vendo a chuva que caía copiosamente. Se calhar, ele via mais do que eu, se calhar ele sentia todos os perfumes, decompunha cada um nas partículas mais elementares: o cheiro da água que caía do céu, do telhado, das árvores, o cheiro das folhas das árvores, o cheiro dos pássaros que costumam passear no telhado, o cheiro da terra molhada, o cheiro do musgo, o cheiro das ervinhas e dos caracóis que por lá deslizam. Foi o José Duarte que me explicou isto e eu acredito.
Antes da grande chuvada, tínhamos andado a apanhar cogumelos. Ele olha-os, olha o nosso afã nesta colheita apressada. Antes eu gostava de os deixar na terra. Agora olhamo-los com receio que ele os queira provar, queremos chegar antes dele.
Em poucos dias, da terra brotaram muito mais dezenas deles, grandes, gigantes, pequenos, minúsculos, castanhos, brancos, dourados, amarelos. Não sei que o que há debaixo desta terra tão fértil, tão materna. Mas, tal o milagre, deve ser um ventre húmido e generoso que se esconde aqui debaixo.
E a unir o ventre e todos os outros órgãos que existem debaixo da terra há certamente uma rede inteligente que faz nascer e viver a vida.
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Nature’s supercomputer lives on your dog | Ed Yong
Many animals, from sharks to elephants, are champions of olfaction (smelling).
Dogs are the most famous. Through their sense of smell, dogs can tell which direction a person traveled and even can distinguish between identical twins.
Dogs can be trained to detect just about anything, including electronic devices.
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E queiram continuar a descer. Um momento inesquecível com o Bono cantor e diseur.
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Gostei, mais uma vez, muito do que nos descreve.
ResponderEliminarNão há nada que pague o abanar de cauda de um cão.
Digo isto muitas vezes, ao fim de um dia de trabalho ninguem me recebia com a alegria do meu cachorro. Não sofria do que agora chamam de ansiedade do abandono, mas ficava tão contente, corria a buscar um brinquedo ou a trela para um passeio, mesmo que já o tivesse dado.
Acrescentam tanto à nossa vida, que tenho pena não voltar a ter um. Mas sofri tanto com o desaparecimento do ultimo, que não me sinto com coragem de repetir.
Que o vosso ursinho tenha muita saude e vós para gozarem da sua companhia.
Olá Pôr do Sol,
ResponderEliminarQuando a nossa boxer, companheira de quase 13 anos, morreu também eu pensei que não queria voltar a sentir tamanha perda.
Anos.
Até que senti muita falta de um amigo integral, de corpo e alma. Este não é como a nossa cãzinha, obediente, doce. Este é irrequieto, teimoso, maluco. Mas é tão inteligente, tão meigo, tão alegre... É uma companhia tão boa, tão amigo...
Talvez a querida Sol Nascente um dia volte a encher-se de coragem para voltar a ter em casa um bichinho amigo assim...
Um bom sábado!