quinta-feira, outubro 13, 2022

O terror e o desespero que Nina Khrushcheva observa agora no seu país

 

Conheço uma pessoa que tem algumas particularidades e esclareço, desde já, que estou a falar de uma pessoa real. 

Volta e meia, quando quer dizer alguma coisa que, segundo ele, requer mais coragem, dissocia-se de si próprio e começa a falar na terceira pessoa. Por exemplo, diz assim: 'É pa dizer a verdade? É que, se é, atão o Nuno vai dizer a verdade'. E, a seguir, diz uma mão cheia de coisas óbvias. E o ridículo é que as diz com ar de quem está a revelar os planos para deitar abaixo as Torres Gémeas. Depois remata com sorrisinho satisfeito: 'Se calhar, não gostaram de ouvir. Mas, já sabem, o Nuno é assim, se é para falar, o Nuno diz tudo o que tem a dizer.'. E percebemos que, lá no entendimento dele, marcou uma data de pontos. 

No outro dia, depois de mais um chorrilho de banalidades, saiu-se com esta: 'Se calhar não tavam à espera que o Nuno viesse aqui atirar uma bomba pa cima da mesa, mas, desculpem lá, tinha que ser'. Quem o ouve fica sem perceber se o tipo é parvo ou se come alguma porcaria às colheres. É que, para além da atitude quase apatetada, revela sistematicamente que não percebe nada do que se passa. Atira com aquelas grandes verdades com ar de quem atirou uma granada e a gente fica sem saber o que dizer. Não vamos dizer que vá dar banho ao cão. É que nem valeria a pena dizer isso pois não perceberia, iria concluir que não tínhamos aguentado com a força do petardo. Vê-se como um paladino da verdade quando não passa de um asno retardado.

A semana passada contaram-me que, depois de mais uma daquelas suas intervenções tontas em petit comité, veio cá para fora gabar-se que tinha avançado com a artilharia toda e que 'Paciência, se calhar ouviram o que não queriam ouvir... mas teve que ser. Se não gostarem, não comam, mas depois não venham dizer que o Nuno não avisou'. Ouvi isto e nem fui capaz de dizer nada pois a única coisa que me ocorria dizer era imprópria para consumo. Suspirei e fui piedosa. Limitei-me a dizer: 'Ah... foi? Ele fez isso tudo...? Olhe... pois não dei por nada...'

Mas isto para dizer que, perante a chacina que a Rússia tem vindo a levar a cabo na invasão da Ucrânia, perante a malvadez que Putin tem demonstrado, perante o banho de sangue e perante a destruição de pessoas e bens que tem provocado, perante os brutais atentados ao direito internacional e perante a total desumanidade que assassinamente ostenta, ainda por aí há uns quantos Nunos (e Nunas) que não apenas mostram que o seu lado é o dos criminosos como não percebem nada, nada, nada... e, como se não bastasse, gostam de se armar em espertos. Julgam que tiram cartas da manga ou da cartola e exibem-nas com aquele ar ufano que os mentecaptos exibem quando lhes dão palco. Vê-los provoca aquilo que vulgarmente se designa por vergonha alheia. 

A guerra, esta guerra, há-de acabar, Putin há-de ir para o esgoto da História, a Ucrânia há-de levantar-se das cinzas... e estas araras continuarão acantonadas em torno dos ditadores deste mundo -- com o PCP autisticamente ensarilhado ali pelo meio --, caladinhas que nem ratas a propósito do tirano assassino e, pelo contrário, a dizerem mal dos Estados Unidos, a gozarem com a Ursula von der Leyen e a desfiarem brilhantes teorias da conspiração que não lembram ao careca.

A entrevista a Nina Khrushcheva é muito interessante e reveladora e, por isso, permito-me recomendá-la. 

Quer a mentalidade de Putin, um KGB de quinta categoria que se rodeou de outros KGBs e que, inculta, psicopata e narcisicamente, gere um país da dimensão da Rússia, quer o sentimento da maioria dos russos perante o que está a passar-se são abordados de uma forma contida e informada pela professora Nina Khrushcheva.

Hear what professor who just visited Russia noticed

Professor Nina Khrushcheva discusses Russian President Vladimir Putin's mindset and her observations during her recent visit to Russia


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Um dia bom
Saúde. Paz.

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