A vida é uma coisa múltipla. Nela misturam-se passado, presente e expectivas para o futuro, misturam-se grandes crises mundiais com ínfimos problemas pessoais, misturam-se questões profissionais com questões pessoais, grandes alegrias e imensas tristezas, interesses e desinteresses, ficção e realidade, o bem e o mal, a aventura e o tédio, a intimidade e a indiferença, a morte e o nascimento, o amor e o ódio. E tudo o mais.
Enquanto Londres transborda com gente vinda de todos os lados para a ilusão de participar na despedida à Rainha e todos os Royals se desdobram numa cuidada e bem encenada coreografia e todas as forças de autoridade se multiplicam na execução de um exigente plano de segurança e enquanto a economia britânica se regozija com o inesperado afluxo de turistas e de consumo, dentro do caixão em torno do qual familiares e multidões circulam em passo lento o corpo de Sua Majestade segue o seu inexorável caminho rumo à inexistência.
E enquanto uns se prostram em silêncio e outros festejam e outros choram e uns ameaçam e outros acusam e uns matam e outros cuidam de mortos e feridos... as nossas praias enchem-se de gente que aproveita o belo sol de um longo verão e as esplanadas vibram com gente que confraterniza e se diverte ou, simplesmente, desfruta a paz.
É assim mesmo. É normal e bom que assim seja.
A vida alimenta-se dos impulsos entre polos de sinal contrário e se, por um lado, o The Guardian mostra transactas fotografias da Rainha com outras celebridades como, por exemplo, Sua Majestade a não conseguir impedir-se de deixar cair o seu curioso olhar sobre os atrevidos seios de Jayne Mansfield, por outro mostra o terror levado a extremos de que a malavita russa é capaz como mais uma grande vala na qual centenas de corpos jazem demonstrando o horror a que foram sujeitos.
E se a Monarquia é daquelas instituições que nada acrescenta e que pelo menos tem o mérito de ter um lado cinéfilo, ficcional, em que existem sempre imagens reais e afins nas quais há com o que entreter o pagode e estimular o consumo através da imprensa da moda, da decoração, da jardinagem, dos mexericos, dos amores e desamores já o mesmo não se pode dizer de regimes ditatoriais em que se cerceia a liberdade, em que se ignoram os direitos humanos, em que se desprezam todos os valores e princípios essenciais que devem reger o comportamento de sociedades que respeitem as pessoas.
Por isso, se podemos sorrir com alguma bonomia ou, mesmo, simpatia para as gaffes do novo Rei ou para a forma carinhosa como a sua Consorte de longa data o acompanha ou com admiração para os banhos de carinho que as multidões demonstram a tudo o que lhes cheire a realeza... estou em crer que ninguém com um mínimo de bons sentimentos consegue olhar para os corpos que estão a ser desenterrados em Izium sem sentir compaixão para os que sofrem as agressões e revolta contra quem as pratica. Nem se consegue imaginar o que estas pessoas sofreram antes de serem enterradas. Ao contrário daqueles de quem se diz que 'morreram tranquilamente' estes não tiveram certamente essa sorte. A sua vida foi-lhes ceifada prematuramente e, do que tem estado a descobrir-se, depois de terem sido torturados. Quantos não terão sido enterrados depois de humilhados, violentados, ou de assistirem à morte de outros ou, mesmo, enterrados ainda com vida?
E o que eu penso é que, por muito bom que esteja a ser o nosso dia, por muito quentinho ou dourado que esteja o sol, por muita alegria que sintamos com os nossos ou com o que quer que seja, devemos sempre guardar um bocadinho da nossa atenção para o que de mau se passa à nossa volta.
Claro que coisas más acontecem por todo o lado e, La Palice confirmá-lo-ia, não há coisas más que sejam boas. Mas, a par dos desastres naturais resultantes das alterações climáticas, não há na actualidade um drama de maior gravidade do que o a Ucrânia atravessa. A barbaridade do regime de Putin é miserável, inaceitável. Felizmente a contestação interna na Rússia começa a fazer o seu caminho e os seus potenciais aliados, Índia e China, começam a mostrar a Putin o beco sem saída em que se meteu, dizendo-lhe que a guerra tem que acabar.
Espero que o mundo ainda exista quando Putin passar à história como um medíocre agente do KGP que, depois de se alapar no Kremlin e distribuir riqueza pela família e por um punhado de oligarcas, virou um psicopata com aspirações imperialistas, congregando sobre si a repulsa generalizada do mundo civilizado pelos hediondos crimes de guerra que está a levar a cabo (sendo apenas apoiado, ainda que disfarçadamente, pelo PCP e por um punhado de palermas, alguns dos quais com presença na blogosfera portuguesa) e que, com o destamanho da barbárie de que mostrou ser capaz, sujou a Rússia de vergonha.
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Entretanto:
Ex-CIA director predicts ‘terrible, painful retreat’ for Russia
Retired US Army general and former CIA Director David Petraeus tells CNN’s Jim Sciutto that he thinks Ukraine’s counteroffensive has placed Russia in a “disastrous situation.”
See Russians react to Ukraine's dramatic territory gains
As Kyiv pushes on with its counteroffensive, Russian troops are retreating from the occupied territory in Ukraine in one of the biggest defeats of the invasion. CNN's Matthew Chance reports on how Russians are reacting to the battlefield losses
Officials from 18 Russian districts call for Putin to resign
Deputies from 18 municipal districts in Moscow, St. Petersburg and Kolpino have called for Russian President Vladimir Putin’s resignation, according to a petition with a list of signatures posted on Twitter
Putin makes concession about Ukraine war in meeting with China
President Vladimir Putin addressed China's questions and concerns about the war in Ukraine during a regional summit. This is the first time Putin and Chinese President Xi Jinping have met since Russia's invasion over six months ago.
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* Caleidoscópio como o Arménio Pereira costuma dizer
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