Um encontro de cães introvertidos (e um cãobeludo muito mal comportado)
Creio que já toda a gente, alguma vez na vida, experimentou a incómoda sensação de chegar a um lugar onde não se vê ninguém conhecido e onde parece que toda a gente está na mesma situação. Estou a lembrar-me, por exemplo, de um convite que recebi para um pequeno-almoço para discutir um tema de interesse supostamente emergente. Foi no Carlton que, se não estou em erro, é agora o Pestana Palace ali à Ajuda. Iria estar presente um guru da matéria. Sou muito avessa a estas coisas. Não tenho pachorra. Acho que se dizem muitas banalidades. E há pessoas que as dizem pensando que estão a dizer coisas de jeito o que se torna cansativo e desconfortável. Mas naquele caso, já não me lembro bem porquê, talvez por ter pensado que talvez se aproveitasse alguma coisa, acabei por aceitar. Quando estava a ir, a pessoa que tanto tinha insistido para eu ir, ligou-me para pedir muitas desculpas mas, por um qualquer imprevisto, ia chegar mais tarde.
Portanto, cheguei lá, não conhecia ninguém, era um grupo para aí de dez pessoas, talvez nem tanto. Todos a olharem disfarçadamente uns para outros, alguns a tentarem disfarçar a atrapalhação olhando para o telemóvel. O guru falava em inglês pelo que, por cortesia, as poucas palavras que se ouviam eram em inglês. Até que entrámos para a salinha onde o encontro se ia dar foi uma coisa meio constrangedora.
Detesto situações assim. Detesto meter conversa com quem não me interessa para falar de assuntos que também não me interessam.
Claro que há o oposto que é chegar a um lugar em que se conhece meio mundo, em que toda a gente fala com toda a gente, um fervilhar de cumprimentos e abraços e tudo meio fugidio pois há sempre alguém a chegar e a cumprimentar e a interromper qualquer esboço de conversa. Os grandes encontros do Grupo são assim: uma festa de superficialidade. Pelo meio reencontram-se pessoas que a gente tem mesmo gosto em rever e com quem gostaria de pôr a conversa em dia mas também há pouca ocasião para isso.
Pior ainda, quando numa situação destas aparece um chato que resolve pôr-se a querer tratar ali de assuntos que não são para ali chamados, assuntos que são uma maçada, que requerem atenção. Deslocados ali, portanto. Mas os chatos acham sempre que tudo é importante e não se calam.
Mas o tema hoje tem a ver justamente com um encontro de seres introvertidos. Todos a evitarem contacto visual, todos a ver se passam despercebidos, todos a ver se podem ir para casa, sossegados da vida, ninguém a querer interagir.
E hoje fico-me por aqui mesmo. O dia foi uma maravilha, felizmente já sem aqueles calores excessivos, até com uma amena aragem. Dia de churrascada, e oh que bela churrascada com o meu filho em tronco nu e com um avental preto a preceito aos comandos da operação. Como bom caranguejo que é, gosta de cozinhar para os outros. Carnes variadas que, em especial a maltinha miúda, devorou com voracidade. Dia de festa, cantoria, brincadeira, a família toda reunida, as crianças (algumas já francamente com o pé na adolescência) felizes da vida, amigas que dá gosto vê-los. O mais velho aproxima-se a passos largos dos catorze, o mais novo tem cinco. O tempo passa e é uma felicidade ver como crescem, como afirmam a sua personalidade, e como se mantêm tão amigos.
Quem se portou mal -- e foi posto de castigo -- foi o urso cabeludo que, fofo e meiguinho como é, quando lhe queremos tirar alguma coisa vira uma fera.
Rosnou e tentou mesmo atacar ao querer tirar-lhe uns óculos de sol do menino mais novo. É possessivo até dizer chega e comigo, com a minha filha e com a minha mãe a querermos tirar-lhe aquilo, a cercá-lo, e comigo a zangar-me e a aproximar-me demais, a coisa ficou preta. Dentinhos à vista, rosnar e mesmo saltar para ver se me afastava. Não me mordeu mas assustou-me. O meu marido, quando viu, correu, agarrou-o pela coleira e levou-o à força para casa onde foi posto de castigo, ficando fechado num quarto. Bicho danado. Nunca a nossa meiga boxer fez alguma coisa que se parecesse.
O menino mais crescido falou numa coisa que ouviu para casos assim, uma coleira com comando que emite um som ou vibra para que passem a associar o receio disso a algum comportamento impróprio. Mas, ao pesquisar, vi que pode ser contraproducente. Pode assustar-se e ficar ainda mais agressivo.
Temos que ver o que fazer. Ou aceitamos não nos metermos com ele mesmo que o vejamos a fazer o que não deve ou temos que descobrir maneira de lidar com a situação.
Aceito conselhos.
Enfim.
Com isto, pouco tive que fazer mas a verdade é que sinto que estou a precisar de ir descansar. Acresce que estou com um joelho a dar de si. Não sei se é de alguns sacos mais pesados com que carreguei, se é de muita reunião e muitas horas sentada, se é de alguma falta de descanso, se é de ter feito ontem uma caminhada grandinha quando ele já estava a querer dar sinal. Tenho esperança que, com uma noite bem dormida, a coisa vá ao sítio. Portanto, inté.
Olá UJM. Fiz um comentário que fugiu, ora, faço outro. Peço desculpa se aparecer a dobrar. Dizia que o meu cão que é pastor alemão, também um mimalhão, às vezes leva nos dentes o que não deve: brinquedos dos miúdos, peças de roupa etc. O meu marido não consegue lidar com isso, ralha e ele mais foge e não deixa tirar. Eu , faço de conta que aquilo não interessa, ofereço lhe algo de comer, ou mesmo outro objeto para brincar e ele logo deita ao chão o que leva e vem ter comigo. Faço isto por intuição, não deve ser pedagógico, mas é como resulta! Bom domingo e descanso nesse joelho Maria
Quanto ao seu cão, creio que é a mesma onda que o meu. Mas não sou tão paciente. Em especial quando receio que ele estrague alguma coisa que não deve, arrelio-me por ele não obedecer. E ainda mais quando fica intimidatório quando se vê confrontado. Gostava que se tornasse um cão obediente e civilizado.
O meu filho diz que não deveríamos querer tratá-lo como uma criança desobediente. Acha que um cão é um cão e que, se não vai a bem, deve ser ensinado a ir a mal. Mas eu acho que com o cãobeludo não vai resultar.
O seu nunca mostra os dentes e não se põe a rosnar baixinho quando 'apertam' com ele? É que isso é que é enervante. Dá ideia que fica pronto para atacar. E isso acho que também não devemos permitir, não é?
Olá UJM. Fiz um comentário que fugiu, ora, faço outro. Peço desculpa se aparecer a dobrar.
ResponderEliminarDizia que o meu cão que é pastor alemão, também um mimalhão, às vezes leva nos dentes o que não deve: brinquedos dos miúdos, peças de roupa etc. O meu marido não consegue lidar com isso, ralha e ele mais foge e não deixa tirar.
Eu , faço de conta que aquilo não interessa, ofereço lhe algo de comer, ou mesmo outro objeto para brincar e ele logo deita ao chão o que leva e vem ter comigo.
Faço isto por intuição, não deve ser pedagógico, mas é como resulta!
Bom domingo e descanso nesse joelho
Maria
Olá Maria
ResponderEliminarO domingo foi bom e o joelho remoçou...
Quanto ao seu cão, creio que é a mesma onda que o meu. Mas não sou tão paciente. Em especial quando receio que ele estrague alguma coisa que não deve, arrelio-me por ele não obedecer. E ainda mais quando fica intimidatório quando se vê confrontado. Gostava que se tornasse um cão obediente e civilizado.
O meu filho diz que não deveríamos querer tratá-lo como uma criança desobediente. Acha que um cão é um cão e que, se não vai a bem, deve ser ensinado a ir a mal. Mas eu acho que com o cãobeludo não vai resultar.
O seu nunca mostra os dentes e não se põe a rosnar baixinho quando 'apertam' com ele? É que isso é que é enervante. Dá ideia que fica pronto para atacar. E isso acho que também não devemos permitir, não é?
E uma boa semana, Maria!