quarta-feira, julho 27, 2022

Merceeira...? Cabeleireira...? Ou nem por isso...?

[Post com dicas relevantes]

 



Chego ao verão a precisar de intervalar e, se calhar, também deveria intervalar aqui. Mas já me faz parte. Antes de me deitar, chego aqui e escrevo. Passa da meia noite e sobre o que me ocorre não quero falar e o que sobra é tema já falado.

Por isso vou-me deixar ir indo, escrevendo sem pensar, sem saber ao que vou. Tenham, V., por favor, alguma indulgência.

Recordo a primeira vocação. Ser merceeira. Ia com a minha mãe fazer compras. Gostava de quando ela comprava azeite. Havia um reservatório cilíndrico, de vidro, com uma alavanca. Pelo menos é assim que recordo. O azeite subia, para ser medido, e depois descia para a garrafa que a minha mãe levava. Também gostava do grão ou feijão que estava numas cubas de madeira. Havia umas medidas, também de madeira, com umas pegas. Depois era despejado para uns cartuchos de papel. Tudo aquilo era sistemático, preciso. E havia a caixa registadora, a gavetinha que se abria, o troco. Um mundo que me parecia recheado de magia. Do lado de fora do balcão de madeira, observava tudo com interesse e uma curiosidade que não se saciava.

Quando comecei a ser mais crescida, ia eu fazer os mandados. Adorava. 

Gostava de poder lá ficar a trabalhar mas a minha mãe nunca levou a sério.

Em casa, nas escadas, fazia uma lojinha em que vendia pedrinhas, ervinhas. Tinha uma balança pequenina. E com um papel cortadinho em pequenos bocadinhos fazia o dinheiro. A minha prima, mais nova que eu uns quatro ou cinco anos, era a minha cliente. Era ainda tão pequenina que alinhava em tudo. Ela preferia brincar aos médicos, fazer-me curativos. Eu não me importava de ser a doente. Afinal andava com as pernas sempre esfoladas. Ela veio a seguir a sua vocação de sempre. Eu não cheguei a ser merceeira.

A seguir a minha vocação mudou. 

Passei a querer ser cabeleireira. Penteava as bonecas, penteava a minha prima mas, sobretudo, penteava a minha mãe. Fazia verdadeiras mises. Punha-lhe rolos, punha-lhe laca, secava-lhe o cabelo e fazia elevações artísticas. Gostava mesmo. Ela confiava na minha perícia.

Embora gostasse de me pôr nas mãos das cabeleireiras (porque gosto que me mexam na cabeça), a verdade é que nunca gostei do resultado. Não gosto de me ver muito penteada. A primeira coisa que sempre faço quando de lá saio é enfiar os dedos no cabelo, abanar a cabeça, despenteá-lo. 

Agora há mais de dois anos que não vou. Mas não faz mal. Também nunca lá fui muito. Ia mais para fazer um corte mais acertado, para aí umas duas vezes por ano.

Habitualmente corto o cabelo a mim mesma. E seco o cabelo ao ar, sem o pentear. Fica como ficar. No verão apanho-o mais pois faz-me calor. No inverno uso-o geralmente caído. 

Dantes, quando era mais nova, por vezes fazia-me penteados artísticos mas, ao olhar-me ao espelho, achava que era coisa para mulheres mais velhas. Desfazia. Outras vezes fazia penteados meio soltos que é como me sinto melhor mas na altura não era habitual andar-se com ar despenteado. 

Agora só me ocorre fazer coisas meio loucas mas, claro, estando a trabalhar, não quero passar por maluca. Cabelo louro platinado é uma ideia antiga. Ou cor-de-rosa clarinho. Ou o azul como o que a minha menina mais linda prefere. Ou alfazema raiado de rosa e de turquesa. Verde pistachio todo acho que não, acho que seria muito óbvio. Mas parte em verde dourado, parte em louro veneziano, parte em louro clarinho, isso já me parece que talvez fique engraçado. Penso que um dia que deixe de trabalhar talvez me arrisque. Não sei onde se vendem tintas assim destas cores mas é uma questão de pesquisar. Depois vou experimentando.

Quando os meus filhos eram pequenos cortava-lhes eu o cabelo. Adorava. Mas era um desafio... Ela tinha sete camadas de cabelo, nunca mais acabava. Ele tinha cabelo forte e cada tesourada incerta evidenciava o passo em falso.

Depois entraram naquela idade em que receavam que a coisa não ficasse muito bem e faziam questão de recorrer a profissionais. 

Ao meu marido sempre fui eu que cortei o cabelo. 

Agora consolo-me com a minha menininha que também gosta de ser penteada e que é descontraída, não tem cá receios das opiniões dos outros. Posso fazer-lhe os penteados mais insólitos que por ela está sempre bem.

E agora que estou neste estado de espírito, a pensar que preciso de férias, a pensar que seria bom não ter qualquer compromisso no prazo de duas ou três semanas, chego aqui à noite e estou preguiçosa, meio inerte. Para falar verdade, só me dá para seguir acefalamente o que o algoritmo do Youtube tem para me mostrar. Ainda estive tentada a falar sobre reflorestações ou arquitectura biofilíca que estive a ver com interesse. Mas estou sem pedalada nos dedos para me atirar a tal. Só coisas simples. Mas simples-simples, planas (isto para não dizer rasteirinhas). 

Ontem bolos. Hoje penteados. Não há dúvida que o algoritmo sabe compreender o meu estado de espírito e a minha energia. Ou seja, agarra-me, o patife.


E aqui ficam, pois, algumas sugestões 


Até para quem tem pouco cabelo


Desejo-vos uma boa quarta-feira
Saúde. Sorrisos. Paz.

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