Estou numa fase da minha vida em que leio pouco. O tempo anda-me tão curto que não me reserva espaço para a leitura. Hoje de tarde, mal acabei de almoçar deu-me uma pancada de sono. Deitei-me no sofá e adormeci. Quando acordei, peguei num livro e fui para o jardim. Mas apeteceu-me estar na conversa em vez de estar isolada com o livro.
Rejeito em absoluto a banalidade. Não percebo o que leva alguém a escrever banalidades e muito menos percebo quem as consome.
E, no entanto, quantas vezes aqui escrevo eu banalidades...? Tantas, tantas...
Quando aqui escrevo, raramente sei sobre o que vou escrever. Escrevo o que, no momento de começar a escrever me ocorre. Pode ter a ver com o que acabei de ler ou de ouvir ou posso não ter nada para dizer e, por isso, escrevo sobre o que se passou nesse dia ou sobre alguma coisa que me ocorre. Outras vezes tenho vontade de escrever sobre algumas coisas mas prefiro não, deixo-as para mais tarde ou para outro contexto. Espanta-me que tenha sempre tantas visualizações, em média mais de duas mil e quinhentas por dia. Recebo mails de pessoas que se sentem próximas e querem conversar comigo mas, logicamente, desconheço a maioria dos que me leem. Acredito que, por vezes, os desaponto. Talvez, por vezes, pensem que, afinal, não me conhecem. Outras, se calhar, acreditam que me conhecem bem de mais.
Como já referi algumas vezes, alimento a secreta esperança de ainda vir a ter tempo, espaço e vontade de escrever mais a sério. Gosto muito de escrever. Mas gostava de ter tempo para reler, para burilar a escrita, para encontrar as ligações musicais que tornam a escrita mais próxima das emoções, ou para descer mais fundo na procura da verdade intrínseca. Gostava de ser capaz de escrever bem, pausadamente, pensadamente, não apenas à pressa, descuidadamente, superficialmente. Gostava de ser capaz de bordar com palavras e que o avesso ficasse tão perfeito quanto o direito. Gostava de conseguir encontrar o gume sobre o qual a escrita se equilibraria.
Quando penso nos livros que mais me marcaram hesito. Um livro é lido diferentemente por quem o lê e nós próprios vamos mudando ao longo da nossa existência. O livro e a sua circunstância.
Quando li A Selva fiquei fascinada. Teria talvez dezoito anos e o meu namorado da altura ofereceu-mo. Mas já antes tinha ficado fascinada com Liza, a pecadora. Aí teria uns quinze e trouxe-o da biblioteca do liceu. Ou com As sete partidas do mundo. Teria uns catorze e trouxe-o de uma amiga e vizinha cujo marido era médico e, na altura, estava em África. Ou, depois disso, com A Bastarda. Ou com A virgem e o cigano. Ou com Por quem os sinos dobram. Ou com O Arco do Triunfo. Ou com A montanha mágica. Ou com A insustentável leveza do ser. Ou com o Amor nos tempos de Cólera. Ou com o Ensaio sobre a Cegueira. Ou com Carne de cão. Ou com o Stoner. Ou com As oito montanhas.
Com tantos fiquei fascinada, tantos, tantos.
Se os relesse agora sentiria o mesmo? Ou o que na altura me pareceu novo, único, agora saber-me-ia a déjà-vu? Não sei, não arrisco a desilusão, prefiro mantê-los intocáveis na minha memória. Não os releio.
E sou incapaz de dizer qual prefiro. Não coloco livros num pódio. Tal como com todos os amores. Aquilo que amamos e respeitamos não é sujeito a comparações.
Mas há quem tenha feito uma lista dos livros preferidos em todo o mundo. Não sei se resulta de uma pesquisa rigorosa mas, ainda assim, estive a espreitar.
Deixo o link, caso queiram verificar: Os Livros Favoritos do Mundo — lista completa em português
Supostamente em Portugal é o Memorial do Convento.
Também não sei se o livro preferido de um país é sinónimo de o melhor livro publicado nesse país ou se o melhor livro escrito na língua desse país. Seja o que for. Nestas coisas, as estatísticas são o que são: uma abstração.
E, no entanto, ao pensar em colocar aqui um poema lido é, uma vez mais, num poema que não é português e que nem sei dizer porque gosto tanto dele. Mas gosto. Já aqui o partilhei muitas vezes e frequentemente ando com ele a bailar-me na mente. Não sei porquê. Tal como ao escolher uma música para aqui se identificar comigo de uma forma muito próxima escolho uma vez mais a mesma que já aqui tantas vezes esteve. Ou ao escolher um pintor escolho aquele cuja obra é o mais despretensiosa possível, a simplicidade mais extrema, e que, apesar disso (ou talvez por isso), me toca quase comoventemente.
É assim. São coisas que não se explicam.
Italiano: Cesare Pavese: A lua e as Fogueiras, A Praia.
ResponderEliminar.,
PortuguÊs:A Cidade e as Serras, quando os lobos uivam de Aquilino Ribeiro.
Madame Bovary de Flaubert
A.Gama Vieira
Pois é... Tantos que não referi. E Alberto Moravia. E o Eça, claro! Mas também José Rodrigues Miguéis. Aquilino, claro, aquela escrita telúrica e intensa. E Agustina, de outro mundo. Flaubert, claro. E Tolstoi. E Dostoiévski. Não se pode fazer uma selecção pois acabamos por deixar de fora nomes que são presenças imprescindíveis na nossa vida.
ResponderEliminarObrigada!