É a história da minha vida. Peço: que nada nem ninguém me acordem. E ainda eram sete e picos e já eu estava a ser acordada com o animal a ladrar freneticamente. Estava sozinha na cama. Chamei pelo meu marido. Nada. Liguei-lhe, então. Atendeu. Perguntei-lhe por que raio de carga de água tinha saído e deixado a fera dentro de casa. Disse que pensava que ele tinha saído. Pedi que lhe viesse abrir a porta. Passado um bocado, ouvi-o a abrir a porta e a chamar por ele. Só que, com isto, espertei, já não dormi mais.
Cabe talvez aqui dizer que o urso felpudo adora estar in heaven. Aliás, quando queremos vir-nos embora, recusa-se. Deita-se no chão, não se mexe. Tem que quase ser arrastado à força. No entanto, para ele, estar lá é um desassossego. À luz do linguajar de hoje, deveria dizer: um desafio. Não tem parança. Qualquer mota ou carro que sinta na estrada, qualquer cão ao longe ou, pior que tudo, os cães da casa do outro lado da rua que antes entravam e cirandavam por todo o lado como se fosse tudo deles e agora se ficam pelo lado de fora, tudo o tira do sério. Sai a correr, ladra como se estivesse possuído. Com os cães vizinhos, o meu marido teve que pôr uma rede no gradeamento não fossem eles arriscar-se a entrar cá. Seriam estraçalhados. Agora reforçou pois os outros abeiram-se e este salta como um maluco, capaz de lhes arrancar um pedaço.
Não queria eu um cão de guarda...? Pois. Caraças. Melhor que a encomenda.
E, ao mesmo tempo, um fofo, um doce, um querido, um peluchinho, uma coisa mais quentinha e mais linda. Dou-lhe abracinhos bons e ele nem se mexe, meiguinho que só ele.
Mas, portanto, dizia eu que este amiguinho da onça me acordou quando eu queria ficar a dormir e, assim sendo, com uma manhã larga pela frente, aproveitei para aquela never ending task de varrer à volta da casa, debaixo do telheiro e no caminho que vem do portão da rua. Com aquela vassoura pesada de arame e com aquela pá de alumínio de cabo alto.
Varre-se, varre-se e há sempre que varrer. Folhas de plátano, folhas de nespereira, folhinhas de azinheira, montes, montes delas, caruma -- enfim, tudo o que cai das árvores, dos arbustos, das flores. Claro que nunca me chega o tempo para ir varrer nos caminhos mais afastados da casa nem ao pé das mesas lá de baixo. E bem precisado está tudo. É trabalho para tempo inteiro, não para part-time.
Isto é uma coisa que talvez seja estranha para outras pessoas: vou lá, adoro lá estar e, em vez de aproveitar para descansar, só me dá para trabalhar. Por exemplo, não sei se já alguma vez me sentei nos cadeirões novos que estão ao pé da lareira. Estavam lá duas bergeires que não eram especialmente confortáveis. Arranjei dois cadeirões confortáveis, bons para lá se estar a ler ou, simplesmente, a estar, apenas estar. Pois tenho ideia que nunca lá me sentei. Tenho sempre que fazer. Abrir janelas, pôr a casa a arejar, fazer a comida, lavar roupa, limpar a casa, varrer dentro e fora, apanhar ervas, caminhar e fotografar. E o tempo vai passando. Ninguém me obriga. Sou eu que gosto. Há sempre que fazer. Por exemplo, já disse que, na próxima vez, vou começar a apanhar orégãos. Parece-me que já estão bem floridos. Antes que fiquem secos, quero apanhá-los para os deixar, depois, sobre um lençol estendido sobre a mesa grande para ficarem a secar durante a semana. Depois, quando sequinhos, é tempo de separar os tronquinhos das folhinhas, colocar em frasquinhos de vidro.
Também andei a apanhar alfazema. Apanhei um belo ramo. Dobrei os pés e coloquei num copo de vidro que coloquei na cómoda do meu quarto ao pé dos anjinhos. Também apanhei um ramo grande e coloquei numa jarra de vidro na cozinha. Um perfume limpo e fresco que dá gosto.
De regresso, consegui um desvio pela maravilhosa casa dos gelados. Contive-me. Um cone de apenas uma bola. Chocolate com laranja. Buoníssimo.
Quando chegámos a casa já a maltinha do lado da minha filha cá estava. A turminha do lado do meu filho não, está parcialmente encovidada. Três em cinco. Cerca de quatro meses depois, estão outra vez. Felizmente, parece que mais brando do que da primeira vez. E na primeira vez apanhou-os aos cinco e, desta vez, até ver, dois talvez escapem.
E à noite fomos para os santos, arraial a preceito, bailarico e cheiro a bifanas e a caracóis. Música popular a puxar pelo pé. Bem me soube. Não atino é com as coreografias. Parece que toda a gente as sabe, mão na cabecinha, mão na cintura, mão na perninha, mão para cima, mão para baixo. Se tento, atraso-me pois estou a ouvir pela primeira vez e, ao meu lado, toda a gente parece que não faz outra coisa desde que nasceu. Limito-me a fazer como me apetece.
Os meninos não são de danças, foram jogar futebol com outros rapazinhos. Escuso de dizer que o meu marido dispensou. Agora tem a desculpa do cão, que tem que ficar em casa a tomar conta do cão. Está bem, abelha.
A minha mãe, por seu lado, também teve programa. Foi com uma amiga, inserida num grupo, à revista, ao Politeama. Hesitou, que não sabia, que não sei quê, não sei que mais, que a amiga é que queria e patati-patatá. Disse-lhe que se deixasse de coisas, que fosse. Lá foi.
Só consegui falar com ela à noite, Em vez de tirar o som, desligou o telemóvel. Só o ligou quando chegou a casa. Toda feliz da vida, parecia uma adolescente vinda de uma excursão. E assim é que deve ser.
E foi isto. Os dias passam a correr. Tinha a ideia de ler mas não me sobrou um minuto. Estava com vontade de reler um certo livro, em especial as últimas páginas. Cá por coisas. Talvez este domingo.
As ameixas já estão doces: o pior é que caem ou que os pássaros as comem |
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Já agora, numa de natureza e boa onda, deixem que partilhe um vídeo tranquilo e bonito
Não posso deixar de a parabenizar, por essa sua vida sempre cheia, UJM.
ResponderEliminarE faço-o com admiração e sem nenhuma inveja.
Festeje sempre ao São João Baptista...nome de meu Avô materno e o Dia em que nasceu o meu filhote.
Felicidades, muitas e sempre. :)
Olá Janita,
ResponderEliminarMuito obrigada. Mas há quem a tenha bem mais activa que eu. Por exemplo, desde há algum tempo não aceito quase nenhuns convites para eventos por melhores que sejam. A vida social em grandes espaços e em grandes grupos agora cansam-me. Evito sempre que posso. Restrinjo-me, cada vez mais, ao meu núcleo mais restrito. E, mesmo assim, quase não me sobra tempo...
E então, afinal, é São João Baptista...
E, então, Janita, também tem um filho caranguejo. Eu também. O meu é mais tardio mas é caranguejo dos quatro costados: gosta de cozinhar, gosta de receber, gosta de estar em família.
Desejo-lhe também felicidades, boa sorte, saúde. Tudo de bom para si e para os seus, Janita.