segunda-feira, abril 18, 2022

Um grande homem

 

Fala como um homem normal mas o que diz é sábio, inspirador e comovente. Há nele uma coragem enorme. Mas não é uma coragem feita de bravatas, é uma coragem alicerçada no amor aos outros e no respeito pelo amor do povo do seu país à liberdade. E não se vê ali prosápia. Face a tudo o que se passa, face aos riscos que tem corrido, face à incrível resistência que tem surpreendido o mundo, poderia haver nas suas palavras alguma jactância. Mas não. Não há ostentação. Pelo contrário, todas as palavras são muito terrenas e humildes. Sente-se que são palavras que sofrem com a tragédia, com o sofrimento. Mas as palavras não vergam e a coragem também não.

Ouço-o e, uma vez mais, penso que estava, antes, tão estupidamente errada, tão indesculpavelmente mal informada. Também preconceito. Pouco ou nada sabia mas, na minha ignorância, era alguém com um curriculum feito exclusivamente na televisão, um cómico armado em político, alguém na base do tiririca. 

Também andava desatenta quanto à Crimeia. Lembro-me de alguns desencontros de ideias, uns a dizerem que os russos tinham ido buscar o que era deles e eu, sem perceber bem, 'mas era deles porquê?' mas, ao mesmo tempo, um bocado desinteressada. A gente, às vezes, tem tamanhos problemas ou redemoinhos na nossa vida que parece que algumas coisas nos passam ao lado. Talvez tenha sido isso. 

Agora fico perplexa como não me apercebi do mau prenúncio que foi aquilo da Crimeia nem das sérias ameaças afinal tão evidentes que vinham dos lados do Putin. Quando me penitencio, o meu marido diz: não era a ti que competia aperceberes-te, era aos serviços secretos.

Mas mesmo quando, recentemente, os americanos alertavam para o risco iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia, eu achava um exagero, um nonsense, uma conversa da treta a que as televisões, que gostam de drama, andavam a alimentar. Não sei onde tinha eu a cabeça. Estava tão longe de que uma alarvidade destas fosse possível -- que um país invadisse outro, que um mitómano psicopata ousasse destruir cidades, matar pessoas e querer impor a sua rendição -- que não prestava atenção.

E que um tiririca desta vida se elevasse e fizesse um valente manguito a Putin e não vergasse perante as suas ameaças terroristas, que soubesse estar à altura da vontade do povo que dá a vida pela liberdade do seu país, foi coisa que não apenas me surpreendeu como, desde o primeiro minuto, me comove.

Sabendo do risco de vida que corre, com uma ímpar coragem física e anímica, Zelenskyy consegue manter-se informado, consegue falar todos os dias aos ucranianos e ao mundo, consegue ter o discernimento para falar perante os parlamentos deste mundo, consegue dar entrevistas, consegue sorrir, consegue manter a esperança e a coragem. Vê-se que está cansado, mal dormido. Mas a vontade de manter a honra ucraniana é inabalável.

Está a lutar pela sua Ucrânia mas está a lutar por todos os que amam a democracia e a liberdade. Devemos-lhe -- a ele e a todos os que perderam tudo o que tinham e estão determinados a continuar a lutar, a todos os que perderam filhos, irmãos, maridos, pais e que, apesar disso, continuam firmes, a todos os que perderam a vida -- o nosso agradecimento. Lutam por nós, por todos os que amam a democracia, o humanismo, a liberdade.

No vídeo abaixo, Zelenskyy fala dos filhos e fala do que o move. Uma trecho muito interessante --- e muito humano -- da entrevista.

Zelenskyy speaks about his children

Desejo-vos uma boa semana

Agradecimento. Respeito pela liberdade.

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