quinta-feira, dezembro 16, 2021

And just like that as moçoilas de O sexo e a cidade viraram grisalhas e, imagine-se, uma delas até ficou viúva....

 



Não sei há quantos anos terá sido. Dez? Dez não, devem ter sido mais. Vinte? Se calhar. Ou quinze. Não faço ideia.

Poderia ir informar-me mas, quando aqui aterro, a esta hora e depois de um dia como o de hoje, já estou mais para deixar correr do que para ir à procura de respostas.

Sei que elas eram urbanas, desempoeiradas, irreverentes, bem vestidas, independentes, apaixonadas. O ambiente citadino, as suas casas, os seus amigos, a amizade com um amigo bicha, tudo aquilo me agradava. E depois havia o charmoso Mr. Big com tudo em grande: a elegância, a malícia do sorriso, a desfaçatez, a graça. 

Claro que ali tudo funcionava num daqueles registos light em que, mal a gente acaba de ver, já se esqueceu do que viu. Mas não faz mal: enquanto se vê, estamos bem. Não chateia, não cansa, não requer atenção. 

Não corria para ver o episódio e nem me lembro se dava para por a box a andar para trás. Sei que, de certeza, nunca pus, provavelmente porque nunca tal me passou pela cabeça. Mas, lá está, gostava de ver aquela parte em que ela colhia elementos do seu dia para escrever a crónica para a revista. Esse lado de reportar as insignificantes minudências do dia a dia é-me familiar e agradável. Na altura ainda não deveria ter blog pelo que provavelmente, na altura, não me ocorreu que, anos depois, também eu haveria de chegar à noite, sentar-me ao computador e desatar a escrever. 

Não sei que idade teriam elas na altura. Trintas e tais? Será que já pelos quarentas e poucos? Também não sei. 

Tenho andado a ver publicidade ao regresso das amigas, agora já sem Kim Catrall, a hot girl do grupo. Ao que parece o santo dela e o de Sarah Jessica Parker não cruzavam. 

Como não presto muita atenção a estas coisas, pensava que era uma sequela do filme (que não vi, apenas via a série). Afinal não.

O meu filho colocou-me também na HBO. Vi lá o extraordinário Mare of Easttown mas, de resto, tenho ideia que é mais fraco que o Netflix. Contudo, isto é opinião de fraca utilizadora pelo que não deve ser tomada à letra. 

No outro dia, numa daquelas preguiças que me dão quando não consigo suportar a televisão, fui espreitar. E dei de caras com And just like that. E vi os dois episódios que estavam disponíveis. 

E vi com aquele sentimento de desconforto que não é carne nem é peixe: desconforto pelo que estava a ver, desconforto também pela minha reacção -- os chamados mixed feelings.

Coloquei lá em cima o trailer mas o trailer mostra uma animação que o que vi até agora não tem.

A questão é que o tempo passa. Passou também para elas. E elas não o escondem (ou não conseguem esconder -- não sei...). São agora mulheres com outro corpo, com rugas, cabelo grisalho. 

Claro que Carrie Bradshaw se mantém magra e, portanto, ainda consegue vestir qualquer coisa e claro que Charlotte, a boneca de porcelana do grupo, tem o cabelo ainda todo escuro, assumidamente pintado. Aliás, acho que a boca também foi retocada. Preenchida, como creio que se diz. Mas a Carrie e a Miranda agora estão grisalhas e os rostos não disfarçam a erosão do tempo, a Miranda e a Charlotte têm as ancas mais largas, têm as pernas mais pesadas. 

Mas, lá está, quem sou eu para falar destes aspectos? Não sei eu também, tão bem, que o tempo, ao passar, vai deixando as suas marcas? E que mal têm essas marcas? Faria sentido chegar-se a velha com carinha e corpinho de adolescente? Seria até estranho.

Mas nem é tanto a idade que agora têm: é também todo o enredo. A Charlotte tem filhas adolescentes, uma das quais armada em rebelde, a Miranda também tem um filho adolescente que leva a namorada lá para casa (e para a sua cama) e o marido, sempre tão low profile, está também mais velho e mais low profile. E a Carrie está instalada, casada com o seu Mr. Big. 

E já não há aquele viço, aquela leveza, aquele espírito de brincadeira que as levava a rir mesmo quando falavam de desgostos de amor. Agora os semblantes por vezes ficam fechados e, quando se divertem, é um divertimento algo forçado, coisa de mulheres maduras que ainda wanna be fofas e leves. Falta a Samantha e a sua pimenta que incendiavam as conversas, falta a alegria.

E como se a coisa não fosse já suficientemente desconfortável resolveram matar o Mr. Big, caído no chão com um enfarte -- imagine-se. E, portanto, o segundo episódio foi passado nas cerimónias fúnebres do que era o gostosão da fita. Claro que tentaram polvilhar a coisa com algum humor mas, na realidade, um humor muito relativo. 

Portanto, até ver, o que fica é como que um amargo de boca. Já basta a vida de verdade ser tantas vezes uma seca e uma xaropada do piorzinho que há. A ficção, a este nível, numa série supostamente levezinha, não tem que tentar reproduzir a realidade senão vira também um desconsolo.

Pode ser que seja um arranque envolto em desgraça -- cabelos brancos, conversa de quase-velhas, a artista principal caída numa inesperada e triste viuvez --, para depois se lançar na paródia. Mas não sei, não...

Por enquanto estou naquela de que, na volta, aqui também se aplica aquela de que não se deve voltar onde já se foi feliz e que, se calhar, mais valia termos ficado com a recordação daquele grupo divertido numa Nova Iorque vibrante, cheia de eventos e de gente animadíssima. Se isto vai virar uma série de três velhas saudosistas e chatas vou ali e já venho. Mal por mal, antes a Candice Bergen toda descadeirada, a Jane Fonda toda emperiquitada ou a Diane Keaton, essa sim, sempre uma intemporal crazy girl.

O que vale, para nosso consolo, é que isto não interessa para nada. Importante, importante é que o jeitoso Vice-almirante voltou a ser chamado -- desta vez para coordenar as detenções. Boa. Estamos safos. A coisa vai correr bem.

E o resto é conversa.

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Desejo-vos um dia feliz

E cuidado com a bicha má, Ómicron de seu nome. 

Evitem espaços fechados, usem máscara... essas coisas.

4 comentários:

  1. Vê-se bem que a Sarah tem pele seca e vai ter o rosto crivado de rugas em breve, como o Auden, que dizia a sua cara parecia um bolo de noiva, depois de apanhar chuva. É bem feito, porque também era a pior actriz, e a mais estridente da série.
    Bom Natal!

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  2. Parece, pelo que escreveu, não gostar lá grande coisa da HBO. Tem muito menos que a Netflix, tem coisas já com uns bons anos, tem pouca produção própria. Mas atrevo-me, mesmo arriscando o "atrevimento" (!), a perguntar-lhe se já foi ver, por acaso, uma série chamada Terapia, também já não novinha em folha, mas cujas 3 primeiras temporadas, com o "terapeuta" Gabriel Byrne, foram, para mim do melhor em formato TV. Nos antípodas da série que comenta, é claro. Há por lá outras coisas boas, como as duas temporadas da Amiga Genial. Enfim, sei que gostos são gostos, mas... assim vai o descaramento.

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  3. Olá APS,

    Ela não é lá muito bonita de cara mas tem um bom cabelo e um corpo miúdo que aguenta qualquer roupa. Só que, na verdade, concordo consigo, não está a envelhecer bem. Se o enredo não desenvolver e se se mantiver naquele misto de pseudo-modernismo, uma coisa metida a 'moderninho', e de conversa de velhas, vai ser uma pepineira.

    E depois, quer a gente queira ou não, é impossível não reparar na cara. Um bocado como a Cinha Jardim. No outro dia, num zapping, passei por ela a comentar o Big Brother. A cara dela, senhores... Quis esticar-se e eliminar as rugas e parece uma máscara. Não que ela seja conhecida por dizer coisas importantes mas quer crer que nem sei de que ela falou tão absorta fiquei a olhar-lhe para a cara a tentar perceber o que é que ali teria corrido mal...?

    Enfim. Nem sempre se sabe o que fazer para se estar bem, se é não fazer nada e deixar a natureza seguir o seu curso, se é tentar travar os efeitos do tempo. E isto seja a nível estético seja a nível da saúde. O curioso é que parece que vai tudo dar ao mesmo...

    Um belo domingo e, sim, se não nos falarmos antes, um bom Natal também para si.

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  4. Olá António,

    Como lhe disse, sou fraca utilizadora pelo que falo do pouco que conheço. Mas fui à procura da Terapia e vi o 1º episódio. Só depois percebi que vi a temporada 4. Mas gostei e acho que vou seguir. Contudo, fiquei curiosa com o Gabriel Byrne de quem gosto muito. Mas não sei como escolho a temporada pois, por defeito, aparece-me logo na 4 sem que tenha sido eu a escolher. Vou ver se descubro.

    Também fiquei curiosa com a Amiga Genial, presumo que inspirada na obra homónima da Elena Ferrante. Nunca li nada dela. Comecei a ler e pareceu-me uma coisa banal, sem grande história e sem ser grande literatura. Mas, como sou avessa a ir por onde quase toda a gente vai, pode ser que seja sobretudo preconceito e pode ser que, vendo o filme, me sinta com vontade de ir ler o livro.

    E, ouça uma coisa, falar-me nestas duas séries não foi descaramento, foi um gesto simpático que agradeço.

    Um belo domingo para si.

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