sábado, novembro 06, 2021

O amor num campo de flores, um solitário entre lobos, um comboio nocturno, uma amiguinha alien, uma Mary Poppins com um saco cheio de alegrias

 



Já não moro no centro da cidade. Mudei-me para os bairros da periferia onde o apelo ao consumo não existe. Por isso, não sei se, nos centros urbanos, já começaram as instalações de Natal. Sempre que as via a despontar sentia um misto de contrariedade e de quase angústia. O acelerar do tempo, o consumo e o fútil a dominar as nossas existências. Agora que já não vivo dentro delas parece que sinto uma espécie de nostalgia. É uma ficção e um apelo ao consumo mas é também o pretexto para iluminar e embelezar as ruas e isso é uma coisa boa.

No outro dia, quando fui às compras com a minha mãe, reparámos que algumas lojas já estavam convertidas ao espírito natalício. Mas ainda não desceu em mim o apelo da época. Não prestei atenção.

Pela parte que me toca, resisto sempre e, se cedo, é sobretudo pelas crianças que enfeito a casa. O ano passado até bolas pendurámos nas árvores e nos arbustos do jardim. Gosto de uma pequena árvore dourada com luzinhas nas pontas que, quando acesa, dá um aspecto muito confortável à sala. Gosto tanto dela que está na pedra da lareira ao longo de todo o ano.

Mas se a euforia consumista não me seduz, em contrapartida aprecio a publicidade de qualidade que, nesta altura, mostra como a criatividade faz toda a diferença na divulgação de um produto. 

Por vezes, os criativos embalam, o anúncio ganha vida própria e dificilmente se percebe o que tem a ver com o produto ou serviço que pretende promover. Pode até haver um excesso que faça pender a balança para o quase kitch. Não interessa. Se está bem feita, gosto de ver. 

Tenho ideia que a melhor publicidade é a dos perfumes franceses. Excedem-se.

O anúncio da nova fragância do Miss Dior com Natalie Portman é uma maravilha. Dá vontade de ir a correr colocar uns esguinchinhos nos pulsos, no pescoço e, ao de leve, na linha dos seios. Dá vontade de ir correr para o meio de campos de flores ou de tirar a roupa e apanhar sol sob o olhar interessado daquele que o nosso coração ama. Quando estamos apaixonados e felizes, o que não fazemos por amor?
A publicidade é isto: em vez de apregoar o produto, induz-se o sonho, a ilusão de que, se usarmos o produto, poderemos habitar o mais belo romance.

Mas há outros anúncios: uns que pretendem enternecer-nos com imagens de crianças ou com a recordação do ET ou da Mary Poppins. E há outros que têm a ver com a moda outono/inverno, não especialmente dirigidos ao natal mas que não podem ser dissociados do facto de a saison coincidir com a época dos píncaros consumistas.

Tudo isto pode parecer frívolo (e até é) mas, não nos esqueçamos, é também o motor de toda uma série de máquinas produtivas que estão por trás, o motor de várias indústrias, o motor de uma economia que, se equilibrada, não poluente e sustentável* é vital ao bom desenvolvimento dos países. E, quando comparadas com outras máquinas -- como a dos vídeos ou jogos em que a violência e a banalização do mal são omnipresentes --, são até o menor dos males.

Portanto, para nossa momentânea paz de espírito, esqueçamo-nos um pouco do lado negativo destas coisas e deixemo-nos encantar com a graça ou a beleza que que sempre é possível encontrar nestas coisas.


 











* Sobre isto da sustentabilidade, conceito meritório e, na verdade, indispensável devo dizer que se banalizou a abandalhou de tal maneira que, de cada vez que o ouço, só me apetece fazer dahhhh. Mas lá está, não é por um rio ter sido poluído, que deixa de ser um rio que existe enquanto rio e que, uma vez despoluído, voltará a ser uma fonte de vida e beleza.

-----------------------------

Um sábado bom
E ho-ho-ho...!

2 comentários:

  1. Francisco de Sousa Rodriguesnovembro 06, 2021

    Muito interessante a reflexão publicitária e os belos exemplos.

    Um rico fim de semana.

    ResponderEliminar
  2. UJM - "O que não fazemos por amor?" DM - Exemplo: "Eu transferi-me de Coimbra para Évora."

    ResponderEliminar