segunda-feira, outubro 18, 2021

Longe das crises do orçamento e do petróleo.
Em família, entre insectos azuis, rolas no acasalanço e com um pequeno urso que não dá tréguas aos meninos (nem vice-versa...)

 


O fim de semana passou, tranquilo e outonal. Bom.

No sábado de tarde fomos a casa da minha mãe. Derrete-se com o ursinho mas acabou com dois pequenos ferimentos nas mãos. A brincadeira dele passa por mordiscar. Põe-se de pé para brincar mas ainda não aprendeu a dar beijinhos. Mordisca. E com aqueles dentinhos afiados faz das suas.

Por mais coisas que lhe arranjemos para ele mordiscar, passado algum tempo desinteressa-se: é connosco que quer brincar. Não sei se são reminiscências genéticas de quando os seus antecessores guardam rebanhos, se andam sempre encostados a eles e os levam ao seu destino a toque de dentadinhas. A verdade é que anda enleado às nossas pernas, mordiscando-nos os pés, as pernas. Se nos sentamos, põe-se de pé e mordisca o que apanha de nós: roupa, braços, mãos.

Ossinhos de roer, objectos de borracha, um ténis velho, um koala de peluche, uma corda de puxar e morder, uma bolinha. Tudo coisas de que gosta mas que passam para segundo plano quando tem alguém de carne e osso por perto.

No sábado ao fim da tarde vieram os três manos. Dormiram cá. Teste covid feito, tudo nos conformes. Felizes da vida. Já de si gostam de cá pernoitar. Fará, então, agora com um pequeno urso para poderem brincar. E o pequeno urso não lhes deu tréguas. Nem eles ao pequeno urso. Perseguiam-se mutuamente pela casa toda, uns a gritarem, outro a dar pequenos latidos. 

Quando a pequena fera finalmente sossegava, percebia-se que tinha ido roubar um ténis ou uma meia aos meninos e estava a roê-las algures na sala.

Outras vezes desaprecia mesmo, nada dele, tudo à procura. Íamos dar com o little baby, exausto, estendido a dormir num qualquer lugar recôndito da casa. 

Com a brincadeira pouco comeu.

Ao jantar sucedeu uma coisa. De repente, a minha meninininha mais linda disse: 'Tenho um dente preso por um fio'. Olhei e não queria acreditar. Parecia o dente da minha filha, uns anos antes. Eu incapaz de puxar. O dente ali pendurado. Um horror. Disse-lhe: 'Puxa-o...' e ela, atrapalhada, com a mão, com a língua a ver se ele caía. 'Não sai, está preso...'. O irmão do meio, todo decidido, dizia: 'Deixa que eu puxo'. E ela, assustada, 'Não puxas nada'. O irmão dizia: 'Roda o dente e puxa'. E ela já com lágrimas nos olhos: 'Não...' Depois ele fez questão de ligar aos pais. Ela não queria, eu não queria. Mas ele tanto insistiu que lá ligou. Queria permissão para ser ele a arrancar o dente á irmão. Os pais, naturalmente, não o deixaram. 

Resumindo: a pobrezinha não conseguiu jantar. Fiz-lhe um batido. Depois fomos para a sala. Ela mal conseguia falar, com o estupor do dente todo pendurado, literalmente suspenso por um fio de carne. Nestas situações não consigo ajudar, tenho medo de magoar. O irmão dizia: 'Aposto que vai cair quando estiveres a dormir'. Ela, inquieta: 'Cala-te!'. E ele: 'Não faz mal. Engoles.' E ela outra vez com lágrimas nos olhos, a perguntar-me: 'O que é que acontece se cair quando estou a dormir...?'. E eu, preocupada mas a disfarçar, 'Se calhar cai antes.... roda um bocadinho...'. 

O meu marido não se mete, não diz nada, só dizia para o mano do meio parar de chatear a irmã. Mas ele dizia que não era chatear, era querer resolver. O meu marido, nestas coisas, acha que as coisas se resolvem por si. O mais novo também não liga muito. Deve achar tudo natural.

Depois penteei-a, fiz massagens aos três, eles pentearam-me. Até que ela anunciou: 'Caiu'. E apanhou o dente da boca. Um alívio. Odeio estas cenas. Falta-me a coragem para resolver coisas assim, tenho medo de magoá-los. 

À hora de irem para a cama, ela foi buscar os pijamas dos irmãos. É ela que arranja as malas de cada um, que lhes escolhe a roupa. É ela que os manda lavar os dentes.

Às dez e tal da noite, fui contar uma história. Como sempre quiseram um episódio da Princesa Margaret. O mais pequeno deu o mote: 'A Princesa Margaret está doente e foi para hospital'. Lá inventei a história que, como sempre, tem o seu ponto alto quando se descobre que o seu cão aparece onde não deve, terrível, imprevisível, mas tudo só porque não quer separar-se da sua amiga Margaret. Também estava doentinho mas não quis deixar a sua amiguinha sozinha no hospital. À medida que vou contando, eles vão sugerindo o que vai acontecer, fazem perguntas. Tenho que lhes dosear a curiosidade. O mais pequeno, então, vibra. 

História acabada, beijinhos e até amanhã, uma noite descansada. Os dois rapazes adormeceram instantaneamente. Ela, sozinha noutro quarto, quis ainda ler um pouco. Mas devem ter sido uns cinco minutos. Apagou a luz e adormeceu.

O little baby bear dormiu ferrado até de manhã. 

O meu marido é que o foi acordar para ir ao jardim fazer as necessidades. Depois voltou a dormir (refiro-me ao cachorro, ao peludinho).

Acordei cedo e sentir uma presença perto de mim. Era a minha menina mais linda. Veio meter-se na cama comigo, a contar-me coisas. O mais novo estava a dormir, o do meio a ver futebol na televisão.

Quando fui tomar banho, ela disse-me que ia organizar a minha roupa e que depois íamos escolher brincos e outros adereços. Disse-lhe que em casa, quanto muito uns brincos. Quando acabei de tomar banho disse-me que tinha arrumado a minha roupa e a do avô e feito a nossa cama. É super despachada e super decididida.

Depois foram eles vestir-se. Apareceu-me furiosa a dizer que o mano do meio não queria vestir roupa lavada. Fui impor-me. Estava furioso a mostrar-me as cuecas que a irmã lhe tinha trazido. ' Olha para isto' e exibia, na mão, ao alto, as cuecas. Pareceram-me umas cuecas normais. Diz ele: 'Fez de propósito. Sabe que só uso boxers!'. Ela fez um sorriso sacaninha. Ele bateu-lhe com as cuecas e chamou-lhe estúpida. Ela sorriu discretamente mas com ar  vitorioso. Enquanto isso, ia vestindo o mais novo.  Depois pediu-me para eu a pentear.

Enquanto isso, o avô estava a preparar o pequeno almoço. E, pelo meio, o pequeno urso fugia com umas cuecas, uma meia, perseguia-os, causava baderna, confusão e correria.

Depois do pequeno almoço, para evitar as permanentes perseguições, fomos para o piso de cima. Uma vez mais quiseram brincar às empresas. 

Entretanto, chegaram os pais e, como sempre, ela e o mano do meio desataram a discutir um com o outro. Mas nada de mais. Ela estava a fazer um desenho e o irmão queria tirar-lhe o caderno. 

O pequeno urso, delira com estas movimentações. Ou corre e faz disparates ou deita-se de barriga para cima para receber festas na barria. Ou anda ao colo a receber mimo, como um bonequinho de peluche, embora colo seja coisa já só quase para eleitos e enlevo de pouca duração.

Depois de terem ido, a pequena fera KO, a dormir a sono solto, fomos nós dois fazer uma caminhada. Depois resolvemos ir comprar petiscos para o almoço. 

Como sabíamos que a receber mais pessoalzinho seria mais para o meio da tarde, depois de almoço deixámo-nos cair a dormir, nós e o pequeno urso.

Afinal o outro pessoalzinho não se despachou a tempo de vir. Por isso, de tarde, depois da sesta,  preguiçámos, vimos séries, estivemos no jardim a curtir o outono e a fugir à pequena fera ou a ameaçá-lo, coisa que o deixa deveras sentido.

E é isto.

Quando liguei o computador vinha para falar num casal de rolas que vi no maior arrulhanço, acasalando no maior descaramento. 

Também vimos um grande insecto azul que fotografei sem saber que bicho curioso era aquele. E pensei que a natureza avança ao seu ritmo, indiferente à crise do aprova ou não aprova o orçamento com ou sem acordo escrito, ou à crise do petróleo ou à da escassez de componentes para automóveis ou computadores ou a toda a espécie de crises que por aí se vão sucedendo e que parecem frívolas quando vistas pela perspectiva de quem como eu, durante todo este santo fim de semana, me estive nas tintas para os grandes acontecimentos do país e do mundo (como diz o outro).

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Calma. Esperança. Ânimo.

3 comentários:

  1. O insecto é a abelha carpinteira
    https://www.wilder.pt/especies/que-especie-e-esta-abelha-carpinteira-3/

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  2. E não há abelha serralheira ?

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  3. Obrigada Anónimo e António

    Desconhecia que existisse uma abelha carpinteira.... Mas é mesmo. Quem diria que tenho uma no meu jardim. Amanhã vou ver se ainda por ali está.

    Serralheira, se existir, dava-me jeito, tenho um gradeamento para arranjar. Se souber de alguma avise-me, ok, António?

    Dias felizes!

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