sábado, setembro 25, 2021

Serra de Aires, 2 meses, lindo e fofo que só visto

 

Já o conhecem, pois. Não resisti a mostrá-lo mal liguei o computador.

Tínhamos resolvido que queríamos adoptar. Mas, já numa tentativa anterior, tínhamos tido uma má experiência. Pensámos que uma vez não são vezes e reincidimos.

Agora, num dos casos, a minha filha viu uma ninhada de fofuras. Informou-se e já estávamos para lá ir quando, no meio da conversa, a gerente lá daquilo perguntou se não era para ela. Quando disse que era para os pais, veio de lá a resposta que, nesse caso, não podia ser. Cachorros só para gente sem o fim à vista. Quando ela, indignada, me contou fiz contas de cabeça: a criatura estava a decretar-me um remanescente de esperança de vida inferior à do cão....? Pensei que a dita criatura não deve conhecer as estatísticas relativas à esperança de vida. Mas mesmo que não estivesse a decretar-me uma morte prematura, estava, no mínimo, a decretar a minha incapacidade para tomar conta de um cão daqui por meia dúzia de anos. Fiz às contas à idade da minha mãe. Vai a caminho dos oitenta e nove, anda na ginástica, na universidade sénior, faz caminhada, trata da casa e está fresca e pronta para tratar de meia dúzia de cães.

Mandámos bugiar a matrafona do canil (que é daqueles canis com página de facebook e muito apoio e muita divulgação) e virámo-nos para um muito conhecido, muito amplo, com muito boas condições e largas centenas de cães para adoção.

Consultei numa noite e vi um Serra de Aires que me encantou. Quando, no dia seguinte, fui confirmar e marcar uma visita, já lá não o vi no site. Tentei perceber o que se tinha passado mas não me explicaram. Vi um outro, rafeiro, com meia dúzia de meses, que me pareceu vivo e bonito. Quando lá chegámos, disseram que estava reservado e que iam umas pessoas vê-lo nesse dia. Vimos, então, uma outra, já com mais de um ano, mas doce e linda. Veio ter connosco, dócil. Gostámos muito dela. De notar que nem a gerente nem a funcionária que começou por nos acompanhar mostrou qualquer interesse em que adoptássemos um cão. Ou não nos ligavam nenhuma e nós que andássemos por ali, sozinhos, no meio de dezenas de cães à solta, ou respindiam laconica e algo displicentemente. De cada vez que pedíamos informação, respondiam de forma desinteressada. O meu marido, numa de ir conversando enquanto andávamos, perguntou se havia muita gente a querer adoptar. A gerente respondeu secamente que ela é que não dava os cães a qualquer pessoa. Uma resposta algo intrigante. O meu marido explicou que queríamos um cão minimamente de guarda, que desse alerta caso algum intruso entrasse no terreno mas que, ao mesmo tempo, fosse meigo e cuidadoso com as crianças. A gerente disse que aquela de que tínhamos gostado não era nem um pouco de guarda, que se entrasse um ladrão, ela iria acompanhá-lo só para receber festas.

Face a isso, dissemos que íamos pensar, que a reservassem e que, no dia seguinte, também veríamos se o outro cachorro sempre tinha sido adoptado; e resolveríamos.

No dia seguinte, enviei mail a saber do cachorro.

Não responderam e, em contrapartida, disseram que déssemos o contacto para que viessem cá inspeccionar a casa. Outra vez. Essa tinha sido a razão pela qual há uns meses tínhamos desistido. Achei aquilo um abuso. Falei com o meu marido que disse para eu dizer que em casa não entravam. Como estava mesmo resolvida a adoptar um cão, fui cuidadosa na resposta. Disse que, por causa da pandemia, não recebíamos estranhos à família dentro de casa mas que poderiam ver por fora e ver o jardim já que o cão iria ficar numa casota no jardim. E voltei a perguntar se o outro cachorro sempre tinha sido adoptado.

De volta recebi um mail espantoso: diziam que não dariam o cachorro se era para ficar numa casota na rua, exigiriam que ficasse dentro de casa, e se um cão poderia ficar dentro, não achavam bem que a cadela ficasse na rua. E que, por isso, para evitar perder tempo, cancelavam o processo de adopção.

Fiquei vesga a olhar para aquilo. Vesga e de olhos em bico, sem conseguir alcançar a lógica do que estava a passar-se. Encaminhei o mail para o meu marido. Respondeu: 'manda-as à m...', com todas as letras.

E os meus filhos e a minha mãe disseram o mesmo (por outras palavras). Gente doida. Com centenas de cães supostamente por adoptar e depois impedem a adopção.

A minha filha falou com uma cunhada que é veterinária que lhe disse que a malta destas associações é gente passada, que é para esquecer. E que o melhor seria os canis municipais. 

Virámo-nos para aí. Mas a maior parte dos cães já têm alguma idade e, com crianças pequenas que, na brincadeira, volta e meia andam engalfinhadas, receamos que os cães interpretem mal e se assanhem e os magoem.

Então, virámo-nos para o olx. O meu filho viu um pointer muito bonito mas puxou para o lado dos boxers. Já os conhecemos, sabemos que é gente boa. O meu marido na dúvida. Mas eu não queria pensar em ter um cão igual à minha cãzinha linda. Iria fazer-me impressão. Parecer-me-ia uma reencarnação. E o pointer parece ser meigo, inteligente, leal, territorial. Focámo-nos, pois, no pointer e marcámos uma ida até ao criador.

Mas, então, o meu marido foi ler melhor as características: enérgico, precisa de muito exercício, de desafios, que não lhe bastaria brincar no jardim, quereria ter missões, correr muito, corresponder aos reptos. E que, se não tivesse isso, poderia provocar desmandos e ser algo destruidor. E seria um cão muito grande. Então ele pensou que, na volta, estaríamos a meter-nos em trabalhos. Desistimos do pointer.

Então, fui eu para o olx. E eis senão quando dou com um cachorrinho Serra de Aires. Voltei a sentir aquela coisa. Há também coup de foudre com animais. Pelo menos comigo há. Enviei mensagem. Passado um bocado, do Alentejo alto e profundo, recebi uma chamada. Por entre o som de badalos, o senhor elucidou-me. Quando o meu marido chegou, falou com ele. Fez perguntas. E combinou que esta sexta-feira, ao fim da tarde, lá estaríamos. Ele avisou que, quando anda com os rebanhos, em muitos sítios não tem rede mas que a gente esperasse ou fosse tentando.

De notar que eu, como premissa, tinha só uma. Ou melhor: duas. Não queria boxer e não queria cães com pêlo.

Acontece-me isto às vezes: parto de um pressuposto, tudo menos isto. No entanto, não sei como, dou voltas e voltas e vou acabar rompendo o que era o único pressuposto. Cão mais cabeludo que o Serra de Aires não pode haver. 

E, então, lá fomos. Quando vimos o cachorrinho imediatamente, por instinto, peguei nele ao colo. O meu marido é que é entendido em cães mas nem teve hipótese pois nem pensei nem por um segundo, agarrei-me logo a ele. O meu marido viu aquele amor súbito e converteu-se. Além do mais, também achou que o cão é lindo. Entretanto, tinha lido as características e tinha concluído que assentava como uma luva nas características pretendidas.

Para o trazermos, o meu marido arranjou uma caixa de cartão que tínhamos na garagem e, pelo caminho, comprámos um colchãozinho. Foi assim que veio.

Entretanto, pedimos ao meu filho que fizesse o favor de lhe ir comprar uma casota. Temos a casa do cão, de cimento, mas fica mais longe e é muito grande. Além do mais não é espaço vedado e ele ainda é muito pequeno. E, de noite, algum bicho poderia fazer-lhe mal. Esta casota é mais pequena e fica no terraço, debaixo do toldo da cozinha, num pequeno recinto fechado.

Quando viemos do Alentejo, fomos buscar a casota e o meu marido já a montou.

Cão de campo e de rebanho não é cão amaricado, que chora se está sozinho. Este, coisa mais fofa, quando apagámos a luz, ficou a dormir sossegadinho. Antes comeu um bocadinho de ração, bebeu água, brincou, deu ao rabinho, esteve ao meu colo.

Este sábado a ver se vamos ao veterinário: não tem vacinas nem está desparasitado nem nada. É bebé, bebé. Supostamente é um puro mas não interessa. Interessa é que é uma doçura e que os miúdos vão adorar.

Pelo caminho íamos falando em nomes. O meu marido dizia Beat (de beatle, pelo cabelo e pela franja). Gostei mas achei que deveria ser o nome do cão da princesa Margaret das histórias que invento pois seria a materialização de um velho conhecido. O meu marido achou bem. Os meninos também. E acho que ele, o bebé mais fofo, também. Chamo-o e ele olha e dá ao rabinho. Coisa mais, mais fofa.

Amanhã já vou ter, com certeza, mais fotografias. Hoje ainda não tenho.

E agora vou dormir. São duas da manhã e o dia foi para lá de puxado. E este sábado o programa vai ser animado. Tenho que descansar. 

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Tenham, por favor, um belo sábado

4 comentários:

  1. Vai ser uma loucura com os netinhos ( e os donos...). Mas que fofo, tão lindo! Puxa, não sabia que as associações eram assim, até me indignei só de ler. Incrível! Bom fim de semana, certo que vai ser fantástico. Maria

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  2. Um cão muda a nossa vida mais do que pensamos, é a experiência do amor incondicional.
    Quando o Argos entrou na nossa vida há quinze anos, nunca pensei no potencial de ternura, amizade e devoção que aquelas quatro patas de puro vira lata transportavam. Hoje, velhote mas activo, continua a ser da família, e nem quero pensar ....

    Parabéns pela escolha

    José Manuel Morais

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  3. O cachorrinho é adorável. Tal como um comentador anterior disse, um cão muda a nossa vida - para muito melhor.
    Quanto à inspeção de casas como condição de adopção creio que, entre outras condições, faz parte dos regulamentos a que as associações estão obrigadas em muitos países.
    Faz bem em não deixar o seu cachorrinho dormir num espaço aberto no jardim. É muito cedo, por duas razões: os cachorrinhos não têm a capacidade de regular a temperatura como os cães adultos e são mais vulneráveis a doenças e parasitas, sobretudo antes de completarem as vacinações. Por isso faz bem em deixá-lo num espaço fechado anexo à casa.
    Desejo-lhe anos muito felizes com o seu cão. Eu tive muitos com o meu.

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  4. PS - esqueci-me de acrescentar que nessa idade é bom tê-los em casa, mas acho que estava implícito.

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