Tenho a dizer, e nem é para me desculpar. que a noite passada foi noite de São João. Complicada. Muito mal dormida. Acordada antes de tempo.
Já me custa suportar noites muito mal dormidas. Não apenas tenho muito sono como parece que me dói tudo. A manhã, na continuação da noite, também complicada. A tarde com reuniões e telefonemas de seguida. Telefonemas e mails e confusões até às tantas. Quando, perto das oito da noite, me reclinei no sofá para papar mais um episódio da Segurança Nacional, ligou o meu marido. Queria saber como estava tudo e dizia que não tardava. Depois chegou. E houve várias coisas para fazer. Quando finalmente penso que vou descansar, há sempre mais qualquer coisa.
Estou de calções brancos, de algodão alinhado e havaianas. Estava calor à tarde. Na parte de cima tinha uma camisa de seda em tons de azul. É o que se vê no ecrã. E uns brinquinhos de pérola e um colarzinho também de pérolas. Por cima estou apresentável. Por baixo, podia ir para a praia -- mas para uma praia mal frequentada.
Adormeci, portanto. Mas acordei também com os pés frios. Fui buscar umas meias curtinhas em rosa fúcsia. Nada a ver com nada. Mas agora estou quentinha. Pior é que me dói um ombro, as costas, uma anca e, se me puser de ideia apurada, sou capaz de achar mais bocado de corpo dorido. Por exemplo, acho que também me dói uma perna e um bocado da cabeça. Não sei porquê. Só pode ser de não dormir.
Estive a reler os comentários. Suculentos. Devia costurá-los e apresentá-los à plateia. Mas estou incapaz, lesionada.
Lancei uma vista de olhos às notícias. Não as havendo, as vizinhas inventam intrigas. Entre ministros, entre marinheiros fardados. Vale tudo.
Mas cenas militares não eram com ele. Eu gostava que ele ficasse. Ele nem pensar. Chegou aos dois anos e, em vez de aceitar o convite para um curso nos States, deu as costas. Queriam fidelizá-lo durante oito anos. E ele nem oito meses mais, quanto mais oito anos. Tentaram convencê-lo. Eu também. Nem aí. Nunca gostou do espírito da coisa. Nada a fazer. Ainda temos as fardas, a branca e a azul escura. A marinha é outra louça. E quando o comandante, para me cumprimentar, bateu pala? Que coisa mais engraçada. Eu sem saber se deveria retribuir e a sorrir, atrapalhada, estendendo a mão. Uns rituais do caneco. Gente com muita pinta, eles e as mulheres. Conhecemos algumas. Mas, pronto, não quis, não quis. Cada um é para o que nasce. Hoje, quando penso no primo general, percebo que é mesmo para quem nasceu para elas. O meu marido não nasceu. Mas o Vice-Almirante nasceu e é daqueles que impõe respeito sem ter que levantar a voz, usar dichote ou fazer maledicência. Impõe respeito só por ser como é. Um homem do mar. Os homens do mar têm sempre aquele je ne sais quoi. Que me desculpem os de terra e de ar mas as verdades são para serem ditas.
Conheço ex-fuzileiros e é outra coisa, outra filosofia. Penaram nos treinos e recordam isso com saudade, como se quisessem ainda voltar para lá. Não são de belas fardas, são mais de andar a rastejar na lama, de noite, a rachar de frio. Lá está, cada um é para o que nasce.
Bem, já não sei a que propósito vinha isto. Se calhar de nada, se calhar estou a dormir, a sonhar. Nem imagino o que seja ler isto. Devem estar a pensar que devo estar com os fusíveis todos queimados. E pensam bem.
Vou dormir, senão amanhã ainda estou pior.
Ah! Os Homens de mar! Moby Dick é um dos meus livros preferidos!
ResponderEliminarBom descanso UJM!