Dia muito bom, dia de reunião de família. O menino do meio fez dez anos no outro dia mas, nesse dia, não se podia circular. Reunimo-nos este domingo na praia. Cantámos os parabéns a você com algum vento à mistura. Felizmente a areia não andava demasiado pelos ares.
De manhã fomos buscar a minha mãe. Apesar de estar vacinada, usa máscara: a vacina, tanto quanto sei, evita doença grave mas não evita que uma pessoa vacinada seja contagiada e contagiante. Portanto, usa ela e usamos nós. Em casa, mantivemos as janelas abertas e almoçámos na mesa grande, nós numa ponta, a minha mãe na outra. Por nós e por ela, achámos que deveríamos manter-nos cautelosos.
Depois de almoço fomos, então, para a praia, ter com os mais novos que já brincavam e jogavam uns com os outros, felizes da vida por estarem juntos. Para nós, havia panos grandes para nos sentarmos em cima mas, para a minha mãe, levei uma cadeira destas aqui do jardim, uma meia espreguiçadeira levezinha. Isto merece ser registado porque, quando vamos para a praia, somos todos minimalistas e, desta vez, dia de festa em tempos covid, até uma geleira levámos. A minha mãe, que fez dois bolos, levou também um saco térmico. Portanto, foi um filme. Geleira e cadeira. Só faltou um chapéu de sol. Aliás, quando viu o sol a descobrir, quando estávamos quase a chegar, a minha mãe disse isso: se calhar eles também não trouxeram uma sombrinha. Claro que não. Nem devem ter. O que lhe valeu foi que tinha vindo prevenida com um chapéu de palha de aba larga, uma verdadeira capeline. De resto, concluiu que a ver se as lojas abrem para ver se arranja um chapéu mais apropriado a sol com vento, talvez um de pano.
Quanto, ao repasto: juntámos os salgados, os doces e os sumos e fez-se a festa assim mesmo. Não exactamente um déjeuner sur l'herbe mas um lanche sobre a areia.
A dada altura estava a olhar para eles, para todos, feliz da vida por estarmos juntos, diz o mais pequeno: tira uma foto. Com o vento e a algazarra deles, nem percebi. Ele repetiu: tira uma foto. Imagine-se, pois, o estado de enlevo em que eu estava para ter que ser o mais novo a chamar-me a atenção para que o momento requeria uma fotografia.
Claro que, em condições normais, da praia viríamos todos para cá. Mas não é prudente, os miúdos andam sempre em cima uns dos outros, entrariam em casa. Espaços fechados, ajuntamentos: ainda não é uma boa ideia. Mas foi o que se pôde arranjar: a gente habitua-se às circunstâncias. Estivemos juntos, bem dispostos, animados. Claro que fiz de tudo para matar saudades deles, abracei-os pelas costas, beijei-os na nuca ou na cabeça ou nas costas, mesmo que com a máscara. Limitações, limitações. De vez em quando ouvia chamar por mim. Era algum dos crescidos a chamar-me a atenção, 'Atenção à Covid!'. O meu filho, então, cada vez que me vê agarrada aos seus dois filhos rapazinhos, diz: 'Cuidado, estão cheios de covid'. A menina usa máscara, é mais cuidadosa. Como os mais novos na escola não têm que usar máscara, é verdade: nunca se sabe. Mas, podendo parecer que não, acho que até sou cuidadosa.
Depois de termos estado a tirar ainda mais fotografias no parque de estacionamento, despedimo-nos. A minha mãe veio para minha casa.
Era para fazermos o IRS dela mas, afinal, tinha-se esquecido de trazer as passwords. Estive a tirar dúvidas do mail, de como pesquisar mails, etc. E estive outra vez a ensiná-la a tirar fotografias e a partilhá-las por mensagem ou por mail. Mas, cá para mim, amanhã já vai outra vez estar sem saber bem e com receio de se aventurar. Por mais que lhe diga que ouse, que não tenha medo, está sempre com medo de fazer estrago, seja no telemóvel, no tablet, no correio, nas mensagens. Receia apagar indevidamente, estragar, meter-se em trabalhos. Medos, medos. Por isso as crianças aprendem tudo tão facilmente: não têm medo de nada.
E andámos a ver as rosas: ela também nunca viu isto. Rosas do mesmo pé de rosa que ora nascem amarelas, ora cor-de-rosa, cor-de-salmão ou cor-de-laranja. Escandalosas de tão belas e únicas.
Ao fim do dia, fomos levá-la. Ia feliz da vida, dizia que os dias assim grandes são uma alegria. No carro, fomos falando nos meninos, nos pequenos, nos grandes. Tínhamos ido para a mesma praia para onde ela e o meu pai iam com os meus filhos quando eram pequenos.
Gostou de ter ido. E os meus filhos também ficaram contentes por estar na praia com a avó. Há muitos anos que ela não vinha à praia: se o meu pai não podia ir, ela também não ia, ficava com ele. E agora estava ali, anos depois, já não apenas com os netos mas já com a família que os netos formaram. Uma alegria para todos. Um dia luminoso.
Boa noite, ujm. Venho só para uma vénia que é a seguinte: ao contrário de alguns outros blogues onde por vezes manifesto comentários dissonantes relativamente à chamemos-lhe linha editorial do autor respectivo e aonde os mesmos são sumariamente bloqueados, seja não publicados ou apagados, aqui tenho, até à data, a consideração de ver as minhas balelas expressas. Parecendo que não, faz diferença.
ResponderEliminarBoa semana.
Olá Kina,
ResponderEliminarAqui toda a gente é bem recebida, excepto os que aqui vêm deixar insultos a outros comentadores. Esses comentários não gosto de publicar.
Agora se quem me lê discorda do que digo, acho muito bem que o diga. Até gosto de ser contestada, faz-me acordar.
Quanto à questão da sua visão, se era verdade e não metáfora, acho que deve mesmo vigiar. É uma coisa de que tenho medo pois quer o meu avô paterno quer o meu pai sofriam de glaucoma e acabaram os dois cegos. A minha mãe passa a vida a pedir-me que não me esqueça de vigiar, nomeadamente a tensão ocular. Por isso, há que ter respeito perante esses inimigos silenciosos.
Quanto ao resto, a vida é curta para nos aborrecermos uns com os outros por motivos passageiros.
Por isso, Kina, opine, discorde, mande vir, parta a loiça toda, desabafe com toda a força -- como quiser. E, se quiser apenas vir na boa, também está bem.
E vai daqui um smile com estima.