Foi um choque.
Era uma escrita visceral. Alguém escrevia como a gente pensa e sente mas não diz. Lia aquelas palavras sem conseguir compreender como era possível uma escrita assim. Era tudo muito íntimo, muito drástico, muito cru e, ao mesmo tempo, muito vital. E muito espiritual.
Não sei o que diz dela quem sabe o que diz quando se fala de um escritor como Clarice. Não sei, pois, sei se estou a ser correcta no que digo. Posso estar a ser parcial, imprecisa, a ver apenas uma ínfima parte do que há para ver, posso estar a exprimir-me mal. Mas, sinceramente, não sei como melhor dizer o que acho da escrita desta escritora que situo acima do comum dos mortais. Dá ideia que levita, que a banalidade do mundo não a interessa, que ignora a superficialidade, que paira num outro mundo, tão ausente depois de morta do que era quando viva.
Para se gostar dela tem que se ter o coração e a mente disponíveis. Tem que se ter vivido. Tem que se ter conhecido qualquer coisa do mundo. Tem que se ter tempo para a acolher.
Gostava de a ter conhecido. Gostava de ter podido estar na sua presença, conversar com ela. Gostava tanto.
Por isso, gosto de ler e ouvir sobre ela. A palavra a quem a conheceu: alguns que encontrei. Espero que gostem. E, para quem ainda não leu nada dela, espero que fiquem com vontade de ler.
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A Lispector assusta-me por boas e más razões; mas começo a associá-la às más. Então? Ela conhecia perfeitamente as entranhas do Mal, e, se o posso dizer, amava essa inquietude maligna. Amava espíritos tortuosos, espinhosos. Na escrita dela, creio que isso bate no leitor de uma forma, pois sim, visceral, quase num sentimento alienígena.
ResponderEliminar(e só concordará comigo quem conhece essas veredas)
A rapariga também tem coisas solares, calma!!!
Devo acrescentar que o único espírito humano que me assustou tanto como Clarice foi/é Nietzsche. Mas a Clarice é superior, porque coloca essa liberdade selvagem ao sabor de história literária, é preciso empenho do outro lado - são encontros; enquanto o Shôr Nietzsche é mais dado a profetizar, lançar confusão, ralhar e mandar bocas/panfletos foleiros.
ResponderEliminarRica UJM,
ResponderEliminarMuito interessante a sua partilha.
Hoje fui a Lisboa, cheguei há pouco, apanhei boas chuvadas pelo caminho na volta, mais aqui para a minha zona espreitou um belo sol por entre as nuvens e formaram-se dois arco-íris.
Um belo fim-de-semana.
A escritora Lygia Fagundes Telles é da minhas escritoras preferidas sobretudo pelo seu livro As Meninas, mas também por Ciranda de Pedra e pelos contos.
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