terça-feira, março 16, 2021

Como as andorinhas na Primavera, os meus meninos começam a regressar

 



Esta semana começou especial, como ontem contei. Como é sabido, a semana começa ao domingo, dia de descanso. E dia de encontros. Vieram buscar as bicicletas para darem um passeio por aqui. E, mal chegaram, desataram a brincar, a andar de balouço, o mais novo foi logo buscar os carrinhos ao baú, a menina já tão crescidinha, o mano do meio cheio de força, num ápice a subir pela corda até ao cimo da árvore. Mas foi visita rápida, confinamento oblige. Fechados durante tanto tempo, hoje dois deles retomaram a escola e, portanto, a véspera foi para desopilar. 

E assim, boa, está a continuar esta minha semana. Tenho hóspedes. Têm a casa em obras, mudaram-se para cá. Como têm estado confinados e nós também, acreditamos que não vamos contagiar-nos uns aos outros.

Chegaram maiores, cabelos grandes, bem dispostos. Agarrei-me logo a eles. De dentro, o meu marido gritou por mim, com ar zangado. A minha filha adivinhou logo: 'ouviu'. Quando estou cheia de saudades, os meus beijos viram beijocas, efusivas e ruidosas. Quando entrei em casa, estava aborrecido: 'não tens cuidados nenhuns, a primeira coisa que fazes é agarrares-te a eles aos beijos'. Expliquei que acredito que estão desinfectados e, ademais, foi no pescoço, mais concretamente na nuca. Mas abracei-os, bem juntinhos a mim, e vá de beijocas. Não há-de ser nada. As saudades já eram muitas.

Mal mudaram de roupa e lancharam, foram para o andar de cima, cada um para o seu lugar preferido. E ao jantar, rica saúde, dá gosto vê-los, comeram que nem uns desalmados. Sopa de legumes e costeletas com couscous. Quando estava a fazer as costeletas, achei que eram demais, um exagero. Hesitei. O meu marido que, na altura, passava por ali, disse: 'Faz tudo, fica para o almoço'. E quando estava a cozinhá-las, tantas, pensei outra vez: um exagero. Afinal sobraram três. A minha filha diz que não sabe o que lhes dá, parece que ficam varados de fome. Comem, comem, e não ficam barrigudos e, segundo dizem, nem se sentem cheios. 

Quando acabaram, voltaram a correr para o andar de cima: o mais velho, que está mesmo quase da minha altura, para o cadeirão relax, com uma mantinha de veludo macio por cima, o mais novo, na mesa. Ambos jogando, felizes por estarem ali. Aquele espaço, todo só para eles, é o seu reino. 

Agora já dormem, claro. Estão em aulas. Ao jantar, a conversa foi sobre história de Portugal. O mais novo tem teste. Sabia bem a matéria. A fundação do reino. Batalhas, disputas, dramas familiares. O mano mais velho também ainda a tinha fresca. Quando passaram para a dinastia seguinte, o avô contou mais pormenores mas o mais crescido aconselhou o irmão a não usar essas informações pois não fazem parte da matéria escolar e a professora poderia não aceitar. Achei graça. 

Contudo, a nível profissional, o meu dia voltou a não ser especialmente fácil. Como em tudo na vida, também aqui há altos e baixos. Não é fácil agradar a gregos e troianos. Onde uns se sentem motivados e agradecidos, outros sentem-se pressionados ou pouco reconhecidos. E não andam à mesma velocidade e, por vezes, há quem tenhas sérias dificuldades em acertar o passo. Não é fácil orquestrar um grupo grande demais para tocarem todos afinados. Tenho, muitas vezes, que invocar todas as minhas forças para me manter firme, esperançada, com energia para convencer uns a fazer isto, outros aquilo, para explicar porque não podem ter isto se, antes, não fizerem aquilo, para os convencer a falar menos e focarem-me mais. Muito difícil. A Manuela Ferreira Leite disse uma vez que, para se conseguir uma certa coisa, só se houvesse ditadura durante uns tempos. Às vezes, isso ocorre-me. Seria mais fácil. Felizmente, é pensamento que rapidamente voa para bem longe. E, assim, no meio da saudável democracia, aturo queixas de uns e outros, assisto quase impotente a como se desfocam e perdem tempo e energias a discutir o que não interessa para nada.

Mas, enfim, esta semana vou tentar que tudo isso, todas as preocupações que diariamente se sucedem,  passem um pouco para segundo plano. Não me será fácil mas acho que devo tentar. Se pudesse tirava até uns dias de férias. Por sorte o tempo está a ajudar, um solinho quentinho de dar gosto. Uma primavera a vir devagar e com ares de vir a ser boa.

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Hoje estou numa de rosas de Van Gogh. E, se me permitem, deixem que partilhe mais um vídeo de decoração. 

Tenho uma amiga que comprou um prédio na Baixa e dele fez uma casa com vários pisos e que, inclusivamente, tem um pequeno jardim e horta nas traseiras. Obra de arquitecto, claro, que soube transformar um prédio de pequenos e antiquados apartamentos numa casa incrível, ampla, moderna, cheia de luz. Claro que tem alguns escolhos. Por exemplo, diz que tem que ter um aspirador em cada piso para não andar a carregar com ele pelas escadas. Já está estruturada para poder vir a ter um elevador interior pois, como ela brinca, 'esta casa não é para velhos'. Tem a cozinha no que era a cave, a grande sala de estar no rés do chão, os quartos no primeiro andar, a biblioteca e o atelier nos dois últimos pisos. E tem um gato que se sente a viver num palácio.

E lembrei-me dela ao ver o vídeo abaixo.

Architect Barbara Weiss takes us on a tour of her upside-down house, a converted pub in Westminster


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Uma feliz terça-feira
Sorrisos. Afectos. Sol.

2 comentários:

  1. Se eu pudesse dar beijinhos na minha neta, que vive fora, também seriam bem sonoros. Só parava um bocadinho para ambas ouvirmos as andorinhas!

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  2. Francisco de Sousa Rodriguesmarço 16, 2021

    Tão bom, os meninos de regresso...!

    Um belo (que está literalmente, também) dia!

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