Quem me acompanhava antes desta segunda leva de confinamento sabe da minha paixão por aquela parcela de terra a que aqui chamo heaven. Tudo ali me fascina. De uma terra seca, coberta por pedras e mato rasteiro, transformámo-la numa terra fértil onde tudo medra e onde as árvores, que plantámos com cerca de palmo de tamanho, se tornaram altas e frondosas. A terra no inverno está coberta de folhagem húmida e musgo e dela brotam cogumelos de todas as cores, tamanhos e feitios. E eu, que me habituei a deslizar silenciosamente por aqueles caminhos, vou descobrindo pequenos seres que não são gente nem bicho nem flor e que nascem perfeitos, espantando as pedras que se afastam para os deixar exibir a sua glória de existir. Outros nascem dos troncos e parecem folhos delicadamente matizados, ornamentos perfeitos e inesperados. Sejam como forem e nasçam onde nascerem são sempre inesperadas aparições, milagres.
Mesmo agora aqui, e isto aqui não é exactamente campo, ando atenta à terra, tentando descobrir alguns. E, para minha sorte e alegria, tenho descoberto uns quantos. Não são tão efusivos mas, ainda assim, são surpreendentes. Alguns parecem a madeira do tronco a que se encostam, outros parecem pequenas flores brancas, outros são tão discretos que mal se dá por eles.
Tenho uma certa tendência natural para deixar a natureza escolher o seu destino e é isso que tem acontecido in heaven. O rosmaninho, o alecrim, os orégãos, as aroeiras tudo nasce por si e os perfumes propagam-se de uma maneira límpida. Isso não é compatível com este jardim que foi pensado, desenhado e alimentado para acolher espécies que são belas mas que se vê não serem espontâneas e onde os espaços estão harmoniosamente delimitados. Penso que um dia que tenha tempo, ou seja, que não esteja tão absorvida pelo trabalho, talvez comece por desconstruir um pouco a zona da horta para que, aí, a natureza possa ganhar algum espaço.
Sobre o meu dia apenas posso dizer que, por razões que não vêm ao caso, fui a casa de uma pessoa que mora perto de mim, uma pessoa muito simpática. Fui convidada e, porque gosto de ver outras casas, fui. Fui sozinha, claro. Por vezes fico surpreendida pois, em minha opinião, a casa não 'joga' com as pessoas que lá vivem. Mas, depois, pensando bem, uma casa nasce numas circunstâncias e com umas expectativas. Se as circunstâncias mudam e as expectativas se goram, as pessoas ficam a sentir-se peixe fora de água e é natural que percam parte da sua motivação. No fundo, sabem que ficam a viver uma situação transitória, a casa em que vivem já não as representa.
Tirando isso, posso acrescentar que, porque a minha mãe me disse que ia começar um programa na TVI que talvez fosse bom, fui ver. E vi uma exibicionista Cristina Ferreira com um vestido inenarrável de mau gosto e despropósito, coisa como não há memória. De saia curta e perna aberta, uma flor disparatada à frente, um vestido que lhe acentuava o rabo -- tudo nela é mau gosto. Uma gaiteira. Quanto às gargalhadas e à boca escancarada acho que já nem vale a pena falar. Em frente de quem actuava, um painel de gente a dizer coisas parvas. O meu marido disse que era um big brother em versão musical. E tem razão, era o que parecia. Mudámos de canal, pois claro.
Resumindo: calo-me já para não estragar ainda mais. E passo ao maravilhoso vídeo dos cogumelos.
Stephen Axford: How fungi changed my view of the world
Stephen Axford has a unique expertise in macro images and time-lapse photography of fungi. The beauty and scientific accuracy of Stephen’s fungi photography have captivated national and international media, fungi experts and the general public.
Bom dia!
ResponderEliminarOs seus textos também lembram um heaven, onde não faltam cogumelos vivos e alegres.
Obrigada e um dia com bons momentos de passeio no seu jardim.
Diz-se dos cogumelos que são todos comestíveis, mas alguns só uma vez. Por isso, a menos que sejamos bons conhecedores, o melhor será não os comer.
ResponderEliminarE diz-se também que há cogumelos em Portugal que dão uma grande “pedrada”. Serão os “psilocybe semilanceata” que fazem rir e levam os consumidores a sentir-se bem. Secam-se durante dois ou três dias para mais tarde mastigar ou desfazer em pó e fumar, isto para além de se poderem guardar frescos se imersos em mel.
E há o da querida Disney, o côr-de-laranja com pintinhas brancas, Chama-se “amanita muscaria” e leva-nos em grandes viagens, dando-nos a conhecer seres vivos inimagináveis, tais como o tramp. Uma das suas substâncias será o muscimol. Esta substância é expelida com a urina, dado não ser metabolizada pelo organismo. Por tal, quem ingeria amamitas, como a tribo não seu quantos, bebia posteriormente a sua urina ou oferecia-a aos seus próximos.
Conclusão: quando formos todos convidados para ir passar um fim-de-semana ao “heaven”, temos de ter alguns cuidados ..
O que me ri com a "flor pélvica....".
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