terça-feira, janeiro 19, 2021

COVID à solta: a culpa é dos Portugueses, do Governo ou do Presidente da República?
[Alô, alô António Costa! Que se passa consigo? O que é que não está a perceber...?! Olhe que assim não vamos lá...]

 

A análise não pode ser precipitada ou simplista. A pressão mediática é uma coisa. A honestidade intelectual e a racionalidade de análise é outra.

Reduzir tudo a 'culpa' do Governo é tão absurdo quanto reduzir à 'culpa' das pessoas, individualmente.

Por exemplo, a culpa pode ser dos portugueses em geral e de alguns em particular quando uma dezena de trabalhadores vai apinhada numa carrinha, indo todos sem máscara. Creio que é da responsabilidade da entidade patronal assegurar os meios de higiene e segurança para os seus trabalhadores. Não assegurou? Mas quando, à hora de almoço, vão beber café, de quem é a responsabilidade? Aí talvez já seja dos trabalhadores. Mas saberão eles os riscos que correm? Aí, talvez a responsabilidade seja da falta de inspecção. Ou da falta de comunicação.

E quando numa Residência de Terceira Idade ficam todos ou quase todos infectados? De quem é a culpa? É dos próprios? Não creio. Talvez seja de quem ainda não percebeu que locais fechados, sem arejamento assíduo do exterior e sem ares condicionados que injectem ar novo, são armadilhas para quem lá vive. Aí talvez a responsabilidade seja do Governo que não legislou nesse sentido nem criou condições para que quem não tem como investir, tenha apoios para tal.

Talvez tenha também a ver, como o Paulo aqui disso no outro dia, com a gestão amadorística que é praticada em parte desses estabelecimentos, não dando formação aos técnicos, não tendo plano de contingência, não tendo equipas espelho de reserva. Mas há gente disponível e habilitada para isso? Se calhar, não. Aí a responsabilidade se calhar é de quem não traçou um plano pragmático de inspecção e formação acelerada para evitar que os lares sejam ratoeiras contra vítimas indefesas.

E quando, numa empresa, todas as pessoas que trabalham num mesmo sector, por exemplo num open space sem janelas e sem acrílicos e dependente do ar condicionado, ficam infectadas? A culpa é das pessoas? Não me parece, não me parece mesmo nada. O Governo criou regras claras sobre a qualidade do ar e sobre o distanciamento e tem feito inspecções a ver as condições concretas em que as pessoas estão? Não me tenho apercebido.

Claro que já pode ser culpa das pessoas quando almoçam juntas ou vão para a porta, ao pé uns dos outros, fumar ou beber um café, obviamente sem máscara. Mas tem havido comunicação pública, clara, evidenciando os riscos nessas situações? Não tenho visto.

Resumindo. Há que perceber com rigor a natureza dos contágios e, com base nisso, perceber o que está a falar. As causas são frequentemente mais profundas e complexas do que discussões na televisão sobre 'postigos' para servir café. 

Não conheço estatísticas por local ou por natureza de contágio pelo que, em concreto, pouco posso adiantar. 

Por exemplo, acredito que grande percentagem dos infectados, deve ter ocorrido em lares. E disso já falei acima. Mudar e inspecconar os sistemas e a qualidade do ar, dar formação aos técnicos, ter equipas de reserva -- é o que é necessário.

Acredito que, a seguir, talvez venham os surtos localizados em locais de trabalho. Já falei acima. É a mesma coisa.

Talvez uma parte seja em contacto familiar. Aí a responsabilidade é de escasso confinamento ou da falta de cuidado dos que levam o vírus  para casa.

Contudo, creio que mais do que andar à caça de gambozinos, a responsabilidade disto é da falta de visão sistemática de quem nos governa e do Presidente da República. Não é só por cá. Excesso de carga de trabalho e de pressão mediática retiram capacidade de raciocínio.

A comunicação social cria factos que nada têm a ver com a realidade, com as reais causas dos problemas. Focam-se todos nas excepções e nas tretas, sem se focarem no essencial: na qualidade do ar que tem que ser garantida nos espaços fechados, nas regras claras que têm que existir para garantir a qualidade do ar e os distanciamentos sobretudo em contexto profissional, nas inspecções que têm que ocorrer.

E na formação, informação, exemplificação ubíqua, inequívoca, à prova de burros que tem que haver.

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Ouvi António Costa com 'novas' medidas. Continua a passar ao lado. Assim não vamos lá. Claro que com mais gente em casa, melhor. Retirar gente de circulação é bom (e exigir declarações para os casos em que o teletrabalho não é possível talvez surta algum efeito) mas, apesar de não conhecer estatísticas detalhadas, arrisco dizer que o que ouvi não chega. Quem está nos lares, em clínicas, em espaços fechados em contexto profissional (e creio que será aí que ocorre parte substancial dos contágios) -- esses vão continuar a ocorrer. 

Identicamente, se as crianças ou os jovens ou os professores estiverem a ser veículos de transmissão, deixá-los nas escolas também não ajuda. Não seria preferível que, pelo menos até final de Fevereiro, estivessem em casa? 
Transcrevo: "Estes dois grupos (13 aos 17 anos e dos 18 aos 24) foram os que mais viram a incidência crescer desde o início do ano", alertou o matemático em declarações à Lusa, com base em dados atualizados no domingo.
Mas, enfim, faltam-me estatísticas para opinar com propriedade. O que posso dizer é que estas medidinhas me pareceram mais do mesmo. Fiquei desiludida e muito apreensiva com o rumo da pandemia em Portugal. Muito apreensiva.

E o Presidente da República em funções? Não tem nada a dizer...? Nada a acrescentar...? Acha que estamos na trajectória corecta? Acha mesmo que o problema está apenas nos comportamentos individuais?

O que é que ainda não perceberam? Estão à espera de quê para porem os neurónios a funcionar?

6 comentários:

  1. O governo e antónio costa terá de pagar esse preço político down the road, espero que caríssimo, está obstinado e obcecado em ignorar o óbvio, e agora resolve que a culpa é dos portugueses, os mandriões dos postigos e dos bancos de jardim. O governo deflecte, acusa os cidadãos e faz de conta de que não há um elefante no meio da sala. Vai se dar muito mal com esta obstinação, contra todo o bom senso, contra toda a precaução e contra tudo o que dizem especialistas e governos pela Europa fora. O pior é que nós também vamos pagar, mais caro e durante mais tempo.

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  2. Olá UJM,

    A situação é grave. Nem sou muito crítico do governo mas alinho, aqui da bancada, nas suas notas. Há uma opção clara por medidas generalistas, mais focadas na "mensagem" do que na sua efetiva eficácia. Percebe-se: as máquinas das organizações não são muito ágeis e por muita regulação que se faça e afins não há condições de implementar. Mas mesmo nesta linha de ação poderia ter-se feito mais. Não se devia ter esperado pelos dados do Natal..era logo puxar o travão de mão. E uma medida concreta que julgo de grande alcance era ter logo colocado os alunos com mais de 12 anos em casa. então no ensino superior... Eram logo 400.000... e não veria grande problema em alterar o calendário escolar... (Janeiro é época de exames, mas podiam ser adiadas 15 dias ou um mês por exemplo). Não que haja muitos casos nas escolas mas talvez porque a malta nova possa ser grandes transmissores assintomáticos e fora dos recintos das instituições...
    A proibição de circulação entre municípios atual e a da passagem de ano também poderia ter sido alargada, deixando explícito nas excepções que as deslocações autorizadas seriam só do município para a empresa ou deslocações específicas declaradas pela empresa (pareceu-me que muita gente foi passar a passagem de ano em grupos diferentes dos do natal fora.do.municipio e regressaram segunda feira...). Há muitas variações destas medidas genéricas que poderiam sublinhar mais a mensagem.

    Preocupa-me os efeitos disto domingo, na abstenção. E fiquei triste que tenha optado por Marcelo. Mas continuarei a vir aqui claro. Todos temos direito a uns deslizes. E eu já votei num populista "por protesto", não nego. Hahahaha

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    1. Desculpem os erros ali para cima. Não consigo escrever direito no telemóvel. Mas também não resisto volta e meia a partilhar umas palavras!

      E uma salvaguarda: no passado votei num populista... Mas de esquerda!

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  3. Penitencio-me por esta entrada, mas como alerta deste antigo quase permanente eleitor do PS, desde as primeiras eleições, ainda em Lourenço Marques, Moçambique. E talvez dentro da sua 'militância' esclarecida,

    Nem com o Faraó AC, nem com o Delfim Medina CML, com isto à porta-Restelo:

    O que está a passar-se em obra da CML PS, ou CML PS-JF PSD (Belém),
    com a aberração do Posto de Limpeza do Restelo.
    A) Mais de 400 nomes em Petição Pública a obrigar discussão pública
    em reunião da AML, Mr Medina acelera, antes da discussão da mesma-Petição 21/20,
    adiantando a ocupação do terreno desta ópera bufa com a chegada da empresa construtora em delimitação do terreno-dias 18 e hoje 19.

    B) Depois de o presidente da JF de Belém, Fernando Ribeiro Rosa, dizer ter proposto duas zonas em terrenos baldios-ignorado por suas sumidades na CML?
    Depois de eu ter enviado cartas aos presidentes CML, JF e ao Vereador da área, Mr Carlos Castro, a este com oferta de carro e viagem comigo pela geografia local, cujas cartas e e.mail se dispensam, bem educada e democraticamente, de acusar recepção sequer!
    C) Não que tal equipamento social não deva ser implementado.
    O que há é possibilidades alternativas melhores e até de menores custos-talvez nos PS-PSD ou outro, seja do interesse de construtora afim a um dos seus membros-mais caro, mais anti-urbano, melhor para alguém do 'sistema'!
    D) Resta-nos esta opção-denúncia na Imprensa, um dia destes uma manifestação de residentes no local, e esperar pelas eleições autárquicas deste ano.
    Na carta e e.mail ao Sr Vereador, sem ter dourado a missiva com qq título profissional (militar) ou académico (sociologia)
    Sorry pela intrusão, com estas coisas se vai perdendo a fé (política)
    Melhores cumprimentos
    Barroca Monteiro




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  4. Se todos nós continuarmos a não respeitar as normas e segurança, então nada a fazer! Não é culpa de mais ninguém!!!

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  5. Pois a culpa é sempre de alguem que não nossa.

    Criticar é muito mais facil do que pôr a mao na consciencia.

    Muitos gritaram os seus DIREITOS de festejar em familia uma festa de Natal e de se DIVERTIREM no ano novo ignorando os DEVERE de se protegerem a si e os outros.

    Quantas vezes a PSP foi recebida à pedrada e a tiro quando interrompeu festas com grandes ajuntamentos? que sanções foram administradas? Quantas multas foram pagas por não se cumprirem as leis impostas?

    A culpa é sempre de quem manda? E de quem não obedece?

    O DESRESPEITO por aquilo que contraria vontades é o grande culpado.

    Esperemos dias melhores com mais respeito

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