Nada pode ser tomado como garantido. Nada, nada, nada.
Amores eternos soçobram ao fim de algum tempo. Paixões que se julga fortificadas por unirem almas que quase parecem gémeas esbatem-se e acabam reduzidas a nada. Empregos maravilhosos acabam sem que as pessoas tenham nisso qualquer responsabilidade. Pessoas saudáveis descobrem que afinal, sem o saberem, estão doentes. Gente que se acha o máximo, tratando os outros com mal disfarçada sobranceria, acaba, de um dia para o outro, por ser alvo de desprezo ou chacota. Qualquer de nós já testemunhou ou viveu situações destas. Por isso, quem se sinta titular perpétuo de privilégios, sejam de que natureza forem, está apenas a candidatar-se a um balde de água fria que o deixe desolado até à quinta casa. Mais vale a gente sentir-se agradecida pelo que tem e, a cada momento, estar mentalizado para a probabilidade de, um dia, ter que voltar à casa de partida e, passo a passo, voltar a conquistar tudo (a casa, o trabalho, o amor, a saúde, o respeito alheio, a dignidade)
O vídeo que abaixo partilho mostra-nos Paul, um jornalista desempregado, sem casa. A sua bonomia e a esperança que o anima são comoventes.
Paul is a journalist. Since losing his job, he has hitchhiked over 36 000km in 15 months across South Africa, looking for work. In a country described as one of the most dangerous in peacetime and with unemployment of well over 30%, his efforts have been in vain. But his journey has taught him many lessons about the kindness of ordinary people.
"We all have problems, we all have challenges. But we all have the ability to do some good." - Paul
Talvez o título 'On the road' devesse ser traduzido não por 'Na rua' mas, talvez, simplesmente, por 'Na estrada' ou 'A caminho', em especial pelo seu incansável caminhar, não menos do que uma média de cerca de oitenta quilómetros por dia ao longo de quinze meses. Comecei por intitular o post por 'sem nada' mas também não é verdade que Paul não tenha nada. Tem. Tem um sorriso cativante, tem força anímica para continuar a tentar ter uma vida mais segura, tem ainda o gosto pela leitura e pelos outros, tem esperança. Por isso, talvez tenha o que é necessário para continuar a procurar uma vida melhor. Fica, pois, simplesmente, 'na rua'
2020 é daqueles anos que dizemos querer esquecer mas que sabemos que vai ficar na nossa memória. As razões não serão as melhores e também por isso é bom que façamos esse exercício de tentar fixar alguns dos seus bons momentos. E que venha 2021 preparado para não nos desiludir. :)
ResponderEliminarBom Ano Novo, UJM!
Olá Luísa,
ResponderEliminarMuito obrigada.
Este ano foi-me pesado. Aconteceu-me o que se vinha anunciando há muito tempo mas que sempre ia sendo evitado. Por fim, já me assustava de cada vez que o telefone tocava fora de horas ou de cada vez que ligava para saber como estavam as coisas. Algumas outras pessoas das minhas relações próximas também se foram. E o confinamento e o medo e a desconfiança e a alteração de hábitos -- tudo coisas desagradáveis. Mas também houve momentos muito bons e alguns hábitos, ao mudarem, talvez tenham vindo para ficar e isso também será bom.
Para 2021 o que desejo é que seja o início de um tempo bom. E a si, Luísa, desejo-lhe saúde, continuação dessa sua capacidade para se deslumbrar com a natureza e com cada detalhe, e que a sua ironia e sentido de humor se mantenham vivos. E boa sorte e alegria. Tudo de bom para si, Luísa.