quarta-feira, novembro 11, 2020

Do-Re-Mi-Fa-So Long

 



Os tempos que aí estão, pelo menos por estas nossas bandas, não são de molde a festejos. Hoje éramos oito, dois dos quais em confinamento por alguém do seu agregado estar infectado. Mas isto é apenas um exemplo, uma amostra não significativa. Significativa e muito é a curva das novas infecções. Não vou repetir-me muito mais mas, uma vez mais, estou apreensiva. Face à duração dos internamentos e face ao crescente número de novos casos, temo o que aí venha. Não faço ideia de quando se atingirá o pico nem qual será o número de mortos por essa altura. A julgar pela curva, nem quero arriscar uma previsão. Mas, numa situação destas, não é a matemática a muleta a que nos devemos agarrar: é, sim, à coragem para tomar decisões difíceis e ao bom senso para tomar decisões simples. 

Isto há-de acabar, claro. Talvez daqui por um ano possamos estar mais tranquilos. A vacina talvez já esteja, nessa altura, para quem quiser, facilmente distribuída, bem testada. E, sobretudo, tratamentos mais efectivos talvez já sejam conhecidos. Antes disso teremos o verão, descontração, vida ao ar livre. Portanto, provavelmente a doer, a doer, teremos ainda mais uns seis ou sete meses. 

Se há empresas e actividades que se aguentem em hibernação durante tanto tempo, muitas afundar-se-ão irreversivelmente. E isso é outro drama a acrescer ao drama das famílias com doentes ou perdas.

Acresce que os hábitos das pessoas alteram-se. No domingo fui a uma grande superfície. Precisava de alguns produtos e lá encontrá-los-ia a todos. Noutros tempos jamais iria a um centro comercial a um domingo. Contudo, admiti que não haveria confusão. E não havia. Estava com pouquíssima gente face ao que, nos áureos tempos, lá se encontraria. Qual confusão...? Passei pela Zara, pela Parfois e por essas lojas que, noutros tempos, estariam cheias e o que vi deu-me muita pena: praticamente vazias. Tantos empregados e sem nada que fazerem. Lojas e lojas sem ninguém. Na zona da restauração algumas pessoas, algumas pessoas com famílias a almoçarem como se não houvesse covid. Mas poucas face ao que era usual num domingo à hora de almoço. Vários restaurantes sem ninguém. E isto num fim de semana 'normal'. Quantos restaurantes não fecharão até ao verão? Quantas lojas não fecharão? Por não haver consumo quantas empresas não fecharão a montante? E quando estas grandes superfícies também não aguentarem os custos fixos e começarem a fechar portas? E toda a brigada de serviços de manutenção, limpeza, segurança que vivem da vida destes espaços...?

Não são tempos fáceis, os que aí estão. O Governo injectará, e bem, dinheiro na economia. O défice vai disparar, a dívida vai disparar, os juros que andam tão bons não sei como vão ficar. A Segurança Social vai pagar, e bem, subsídios e mais subsídios e a almofada da sustentabilidade vai esvaziar e a ver se um buraco não começa a desenhar-se. Tempos difíceis para todos, mesmo para os que se julgam a salvo.

É certo que não é só por cá -- e a bazuca europeia vem ajudar. Mas como vai tudo conjugar-se e o tempo que vai levar a atingir o equilíbrio eu não sei. Sei é que, no meio tempo, haverá vítimas. E não serão poucas.

E já se percebeu que, em cima da pandemia, aparecerão as legionelas e outras bactérias, outros vírus, os calores excessivos, os vendavais, as enxurradas. 

Portanto, há que tentar encontrar forças, há que apelar à criatividade, há que ter inteligência. Qualquer bicho, quando o que está em causa é a sua sobrevivência, sabe virar-se. Sei que há muito céptico que desdenha do apelo a uma mudança, que se acha superior a preocupações, gente que sabe tudo, que não acredita em nada de bom, que não quer saber de tempo usado a querer melhorar as coisas. Deixá-los. Nestas alturas é que se vê quem gosta de se enterrar em vida, começando por enterrar a cabeça, e quem são aqueles a quem as gerações futuras serão devedoras. 

Onde uns se entregam a curtir fossas, dissertando sobre os que tentam manter-se fora delas, é necessário que outros se unam, ignorem os velhos do restelo e as vizinhas carpideiras e tentem encontrar novos rumos. 

Para começar já é bom que o poluidor-mor, o estupor-mor, o bronco-encartado tenha sido apeado. É uma das grandes notícias para o mundo. Com Trump despedido e o trampismo em queda, espera-se agora que os seus sucedâneos vão pelo mesmo caminho, a começar pelo analfabeto Bolsonaro. 

É tempo para gente com nobreza de carácter, com cultura, com sentido de abnegação. É bom para a Europa e para o mundo que esta mudança nos Estados Unidos tenha acontecido nesta altura tão crítica.

Não admira, pois, que a alegria tenha eclodido de forma tão espontânea e efusiva nas ruas e nas casas de todo o mundo. Uma vez mais, partilho dois vídeos que mostram bem o ambiente que se vive nos Estados Unidos. No meio da mortandade que por lá grassa, o pessoal saíu à rua para fazer a festa. E Colbert, Kimmel, Fallon, Corden e outros dão conta da alegria e esperança que varre aquele grande país.

Por enquanto, limitamo-nos a fazer as despedidas da tartaruga obesa e do trampismo. Do-re-mi-fa-sol. So long, farewell, auf Wiedersehen, goodbye. Seria bom que, dentro de meses, estivéssemos a despedir-nos também da covid. E, algum tempo depois, poucos anos, dos riscos climáticos. Gostava que, dentro de algum tempo, todos pudéssemos deixar aos vindouros um mundo melhor do que o que os nossos antecessores nos deixaram. 

Do-Re-Mi-Fa-So Long, Donald!



Trump Melts Down Over “Stolen" Election



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Fotografias de Bryan Huynh @bryanhuynh ao som de Quem me dera na voz de Mariza
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E que não seja por isso: So long, farewell


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E queiram continuar a descer caso queiram justar-se aos festejos.

E tenham, por favor, um dia feliz

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