Diz esta mulher:
Há um blogger muito especial. Olha-me como se eu fosse uma abstração, um sopro, uma sombra, a carícia que em mim adivinha e que quer fixar na tela. Olha-me e sinto que não é a mim que ele vê. Vê os pássaros que esvoaçam em torno das suas ideias, vê a luz dançando na parede, vê a harmonia que a doçura do meu olhar esconde dele, vê o caos que o entontece nas longas noites de insónia. Sou mais do que eu, sou uma companhia, uma presença, sou a sua imaginação. Por vezes cobre-me de branco e desenha sonhos sobre telas brancas, outras pinta-me com mil cores, fotografa-me, recorta-me, refaz-me. O que ele me dá, inventando-me, só eu sei. E nunca lhe pagarei o que ele me dá de si.
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Diz esta mulher:
Há um blogger. Um ser diferente. Um construtor. Um mestre. Um provocador. Um divertido espectador. Um repórter do tempo que passa. Um guardião. Um historiador. Um coleccionador. Um paciente relojoeiro. O que nasce dele surpreende-me. E tudo lhe interessa. O mundo é uma arca de mil tesouros que diligentemente regista. É engagé e implacável. O seu lema é bem capaz de ser: straight to the point. Acho que ele prefere que eu não esteja nem aí. Não é dado a cortesias ou delicadezas. Passa bem sem as minhas atenções. Mas penso que sabe que estou aqui. É gauche e gosta de ser gauche na vida. E eu, sabendo que essa sua forma de ser gauche é a sua segunda pele, tapo-me com uma toalha e com o meu cabelo molhado para melhor esconder dele qual a minha primeira pele.
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Diz esta mulher:
Há um blogger que vive nas alturas. Os caminhos que ele percorre só ele sabe. Habita a solidão dos largos horizontes, o olhar esvoaçando sobre os cumes azuis das montanhas -- e só ele e eu sabemos como o azul é a cor mais quente. Percorre as brumas que precedem a noite, cruza os arvoredos, ouve a música dos riachos, investiga a gradação das cores com que o tempo tinge a natureza, arrepia-se com as bramas, estremece com os vultos que se esgueiram por entre os troncos, por entre as ruínas, por entre o seu pensamento que vagueia por aqueles caminhos que apenas ele percorre. Monstros, divindades, gatos vadios, veados, raposas, lobos, mulheres inventadas que aparecem e desaparecem por entre as suaves neblinas que cobrem os montes, que embalam a consciência. Este é o seu mundo. E eu posso não saber muito mas isso eu sei.
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Diz esta mulher:
Sobre aquele tal outro blogger...? Ah, uma criação do seu criador. Uma criatura que se diverte. Desenha personagens que olha no espelho e com elas pretende iludir quem olha sem saber se é a ele que olha se a sua imagem de pretenso macho alfa. É alguém que finge tão perfeitamente que acredita que está a fingir e eu, que sou invisível, acredito que ele acredita que está a fingir. E acredito que viaja para os mais recônditos lugares, que lê os mais clássicos de entre os clássicos, que bebe os melhores e mais sumptuosos vinhos, que conduz os melhores e mais luxuosos carros, que fuma os melhores e mais perfumados tabacos, que sabe perceber as mulheres mesmo as mais difíceis, que lhes conhece as manhas e os mais secretos pensamentos. E, fingindo que acredito que sou invisível, saio para a rua coberta de brilhos, descaramentos, ousadias, finjo também que não lhe ligo patavina, finjo que não sei de nada e rio-me, rio-me de gosto, porque a vida assim é uma graça, um teatro que a nós próprios nos surpreende. Aplausos, risos.
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Diz esta mulher:
Há um. Se me fosse permitido dizer, diria: poderia ser o único. Mas desse blogger não quero falar. Não saberei usar as palavras certas. Nunca saberei usar as palavras certas. Inibo-me. É um connaisseur. O mais perfeito connaisseur. Conhece as mais perfeitas palavras e sabe desenhá-las com a mais elegante caligrafia. Um perfumista. Destila palavras. Decanta-as. Conhece-lhes a íntima essência. Tece abraços e beijos com palavras e há arte na forma como os abraços e os beijos são tecidos. A pureza sai-lhe das mãos e é uma pureza tão perfeita e límpida como o encantamento que se adivinha no seu olhar. Algures há uma namorada que se encanta, infinitamente enamorada, que bebe o mel dourado que as suas palavras encobrem. Mas dela eu não posso falar. Não posso porque não sei como, não conheço o alfabeto que os príncipes das palavras usam. Eu que me cubro e que quanto mais me cubro mais me dispo e que quanto mais me ofusco mais existo, deslumbro-me com os enleios ocultos que atravessam os longos e indizíveis espaços e, de longe, para ninguém, envio malícias, sorrisos, inocentes e silenciosos murmúrios.
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Diz esta mulher:
Há outro. É sempre o outro, ele. O blogger das mil faces. Aparece, desaparece, disfarça-se, encobre-se, vigia, aparece, desaparece, disfarça-se, vigia, aparece. Mil faces, mil nomes, mil máscaras. Sendo muitos, é único. Reconheço-o. Não posso dizer que seja pelo rasto que deixa. Não sei dizer. Reconheço-o. Por vezes os corpos reconhecem-se. Mas aqui não há corpos. Aqui há abstracções. Mas reconheço-o. O tempo pode ter toda a elasticidade do mundo, o tempo pode agigantar-se, o tempo pode tecer elegias, o tempo pode ir passando em mil línguas, em mil geografias, envolto em mil histórias, que ele, o blogger das mil faces e mil nomes, está sempre presente. O tempo passa e ele permanece. Nunca o mesmo. Não sei se ele sabe quem é mas eu sei. Ausenta-se, aproxima-se, desafia-me, disfarça-se. O tempo passa. Alimenta-se de derrotas, alimenta-se de poemas, alimenta-se de enredos, alimenta-se de paixões proibidas, inventadas, desejadas, alimenta-se de arrependimentos, de medos, de loucuras. Há anjos sem remissão, nasceram para pecadores, para sofredores. O canto da terra e a luz dos céus jamais lhe trarão a paz que desconhecem. Assim é ele. Sempre presente. Impossível esquecê-lo.
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As mulheres saíram da Vogue francesa desta quarta-feira e, ao vê-las, tive vontade de as pôr a falar de alguns dos bloggers presentes na minha galeria lateral dos Frescos e Bons. Achei que estas mulheres pediam a companhia de uma outra, Melody Gardot, num Sunset in the blue.
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Desejo-vos uma bela quinta-feira
E faltam as mulheres dos bloggers que acham que a autora de Um Jeito Manso é uma paravalhona. Agora a sério: quando lhe dá para estas escritas "poéticas", isto fica uma treta, cheio de frases batidas e sem qualquer interesse. Evite, que os leitores agradecem. Não pode escrever só para as maripas e para as riquezas.
ResponderEliminarHmmm... não sei, mas a Sophie Marceau é uma tentação.
ResponderEliminar"Evite, que os leitores agradecem"
ResponderEliminarEvitáveis mesmo são comentários desta rasteirice assinados por anónimos.
Gostei muito deste exercício criativo e das suas subtilezas! E creio até ter vislumbrado quase todos os bloggers. ;)
ResponderEliminarOlá Anónimo Parvalhão,
ResponderEliminarFicou com ciúmes, foi? Conte-me tudo.
E acha que fui poética...? A sério...? Ora bolas, que falta de jeito a minha. E eu a achar que estava a ser demasiado literal. Mas não será que a poesia brota de dentro de si ao ler as minhas simples e prosaicas palavras? Pense lá bem nisso.
Um rico dia para si, Anónimo da Treta.
PS: Não penso nada disto de si, claro, nem isto nem o contrário, quero lá eu saber de si -- estou apenas a parafraseá-lo. E dou-me ao trabalho de lhe explicar isto apenas porque intuo que não é lá muito bom a descortinar ironias ou subtilezas.
Olá João,
ResponderEliminarDone!
Assim está melhor...? 😜
Hello Miss Smile,
ResponderEliminarQue contente fiquei por vê-la aqui. E que contente fiquei por ter descoberto alguns dos rapazes. Estão todos aqui ao lado e acho que alguns deles se descobriram... 😉
Diverti-me a escrever, pelo menos. Um dia destes, faço o mesmo exercício mas com bloggers no feminino. Mas é mais difícil. Falar de uma mulher tem muito mais que se lhe diga, não acha?
Uma boa sexta-feira, Miss Smile.
"Assim está melhor...?"
ResponderEliminarMuito melhor!!!
:-)
Concordo em absoluto. Aplicar o mesmo desafio às mulheres é um desafio maior, mas deveras tentador.
ResponderEliminarUm bom fim de semana, JM. :)