Não há muito a dizer. O jardim está verde e florido e a chuva torna-o ainda mais viçoso. Mas a partir do princípio da tarde começou a chover, choveu, choveu, e escureceu de tal maneira que, para ler, só de luz acesa.
De manhã não choveu. Fomos fazer uma caminhada. Mais de uma hora a bom passo. Uma caminhada bem mais longa do que o costume. Vamos conversando. Às tantas disse ao meu marido que ele sobretudo ouve e responde ao que pergunto. Ele respondeu: 'e não é preciso mais'. Ri-me. Sempre assim foi. Raramente é ele que puxa assunto. Ou tem assuntos de trabalho que o preocupam ou ouviu alguma notícia que achou relevante ou, então, alinha na minha conversa. E assim, nesta conversa solta, nem se dá pelo tempo a passar.
Tinha ideia de ir fazer umas arrumações mas deu-me uma total preguiça. Estive a ler. Fui fazer a monda aos livros que trouxe no outro dia a ver os que tinham vindo para mim. E estive a ler parte de cada um. Enquanto lia, ia tentando descortinar quais as partículas elementares que ali se encontravam e que não encontro noutros autores.
Mas não foi pacífico, devo confessar. Pensei que ia ficar rendida mas estou vacilante. Por exemplo, estranhei a linguagem deste Acidentes. Parece que lhe falta ali o sopro de deus.
E, lá está, quem sou eu para falar em deus? A última pessoa a poder fazê-lo. Mas é o que penso: nos poemas que me parece conterem verdadeira poesia eu acredito que há ali mais do que apenas a inspiração ou a técnica do poeta, há uma qualquer transcendência, a mesma que encontro numa flor perfeita, numa música improvavelmente bela, numa pintura que sobrepõe sentimentos e luzes e sombras e inexistências. Penso: é um sopro divino. Um deus que reina sobre os acasos e se diverte a deixar que uns afoguem algumas coisas e outros elevem as coisas a um patamar tal que quem se apercebe deles tem vontade de se ajoelhar. Mais do que um patamar, um altar.
O da Mónica Baldaque já cá estava em casa e o do Harari não é dos meus |
Da Adélia Prado parece que também não estou a encontrar nestas páginas a dose habitual de desalinho e a irreverência que nela tanto me cativam. Mas, de qualquer maneira, estou a gostar. Há sempre ali uma graça, um drible, um sorriso escondido por detrás da palavra. Para gostar de um livro tenho que sentir a inteligência mas sem exibicionismo, tenho que sentir o conhecimento profundo da natureza humana mas um conhecimento sem pergaminhos. Não sei explicar.
Ao início da noite fiz encomendas online e falei ao telefone. Antes fui para debaixo do telheiro ver a chuva e fotografar. Também fotografei os livros e algumas coisas em volta. E respondi aos comentários atrasados e descansei. Não é fácil ocupar o tempo quando se está habituado a não o ter. Inconscientemente parece que me sinto ociosa. Dou por mim a pensar se tenho alguma coisa atrasada para fazer, como se não me fosse concedido o direito a estar sem nada que fazer. Geralmente, ou tínhamos a família cá em casa ou íamos visitar a família, ou íamos encontrar-nos com alguém a algum lado ou íamos para o campo onde há sempre mil coisas para fazer ou íamos às compras ou qualquer outra coisa. Agora aqui em casa, num dia de chuva, sem se poder sair, parece que fica aquela sensação estranha de não saber bem o que fazer com o tempo. Mas foi bom, então não...?
Fez muito bem, minha riqueza, nada como um bom ataque de preguicite para dar corda ao prazer das coisas boas.
ResponderEliminarHoje por aqui não choveu todo o dia, mas uma chuvada pelas 3 da tarde valeu por umas boas horas de chuva.
O meu São Martinho estava lindo hoje de manhã e os meus meninos da catequese sempre cheios de uma energia contagiante.
Boa continuação de fim-de-semana prolongado.
Olá Francisco,
ResponderEliminarE este domingo repeti a dose. O recolher obrigatório e o obrigar-me a ficar no mesmo concelho anda a ensinar-me umas coisas. A preguiça é uma coisa que até pode ter um saborzinho gostoso.
Por cá o tempo esteve atribulado. Ate se ouviu trovejar. E choveu que deus a dava, uma farturinha de água que o meu jardim agradece.
Mas, então, é catequista... Guardo a pior das impressões do que a minha catequista 'pregava' quando eu era pequena. Espero que não seja como ela e não encha a cabecinha dos meninos com o medo de pecarem...
Mas, como diz que têm uma energia contagiante, é porque a catequese não os aborrece nem amedronta. Acredito que, consigo, a religião aos olhos deles deve ser uma história e uma prática e um sentimento que quererão conhecer melhor.
Uma rica semana, Francisco. Saúde e alegria!
Ai, UJM, já me conhece um bocadito para perceber que estou na antípodas desse tipo de aventesmas que transmitem tudo menos o amor que é a base de Fé, hehehe.
ResponderEliminarUma bela semana, também. Saúde e alegria!