quinta-feira, outubro 08, 2020

Nem milagres nem social-milagres.
Apenas uma cena para arrumar sapatos à entrada de casa e um vídeo sobre relações

 


Sobre as contradições e os absurdos que envolvem tudo o que se refere ao narcisista-demente hoje não me apetece falar. 

Dia inteiramente preenchido, sem tempo para esticar as pernas, descansar a cabeça ou desanuviar a vista. Ao fim do dia estou sem vontade de me atiçar. Gastei os rastilhos e cargas explosivas ao longo do dia. No entanto, estive paciente. De vez em quando, sobem-me umas impaciências que chego a julgar não conseguir controlar. Mas estava a lidar com gente bem intencionada e, portanto, por decência e generosidade, aquietei-me, deixei rolar. Ver o tempo a passar, eu a ficar com a agenda sobreposta, e a manter-me quieta, deixando que as pessoas tenham o seu momento e se alonguem até quererem. 

Penso que consigo desafiar as pessoas levando-as a acreditar que vão conseguir coisas para as quais nunca imaginaram que alguém as fosse puxar, penso que percebem que estou ali para os ajudar a serem melhores e a irem mais além. E isso a mim é o que me motiva. Acredito que modifico a vida de algumas pessoas fazendo muito pouco, apenas acreditando nelas. Mas a crença, lá está, cá para mim faz milagres.

Mas tantas vou acumulando, a tanta dose suplementar de paciência me forço, que chego à noite e estou verdadeiramente sob o efeito de um pack de efeitos secundários. Um deles é este: a energia para desferir flechadas sobre cavalgaduras criminosas falha-me. 

E, assim sendo, digamos que hesito entre dar o dia por feito e encostar a cabeça para trás, adormecendo de imediato, ou deixar-me por aqui ficar, vagueando entre coisas nenhumas.

Agora que escrevo, passa um documentário biográfico sobre o médico Sousa Martins. Há pessoas que despertam sentimentos bizarros nos outros. Não sei como se parte de um sentimento de reconhecimento agradecido para com uma outra pessoa, para um sentimento já em segunda, terceira, quarta mão, que não é senão espelhar na sua memória a imagem de um santo, seja lá o que isso for. Vejo a reportagem e há ali gente e gente e gente que nem deve conhecer minimamente o percurso de Sousa Martins e que o venera como se o senhor, que já morreu há cento e tal anos, ainda pudesse curar males que os médicos vivos não curam ou satisfazer caprichos ou conceder favores que não lembram ao careca.

Acho bizarro mas não censuro. Tenho para mim que a mente comanda a vida e se uma pessoa quer curar-se ou quer ser abençoada ou tocada por uma qualquer graça, todo o seu organismo se polariza nesse sentido -- e o bem aparece. Em contrapartida, quando uma pessoa desiste, descrê, se desinteressa e se entrega ao fatalismo, o corpo rende-se, a cabeça sucumbe -- e o mal acontece.

Por isso, é bom ter fé. Se umas pessoas têm fé no 'doutorzinho' como a extraordinária Lina da Trafaria tem, se outras acreditam na Nossa Senhora de Fátima ou no Cristo Redentor ou na Santinha do Pau Oco, se outras na grande força cósmica do universo ou na boa onda com que tantas vezes o acaso se apresenta, tanto faz. O que é preciso é acreditar, seguir em frente. Desde, claro, que se mantenha um mínimo de racionalidade. No entanto, tenho a impressão que mesmo quem tem fés e fezadas estranhas geralmente não descura os tratamentos médicos normais ou não deixa de lutar pelo que quer. 

Mas, enfim, o tema é complexo e eu não tenho competência para tanto. A pouca que tenho reservo-a para sobreviver, não para frescuras.

Por isso, vou pôr-me na sic e ver a novela da noite, uma brasileirada cheia de ternura e graça. Totalmente demais. Não posso cansar a minha beleza. Já dobrei o dia, daqui a nada recomeço. Outro dia assim. Tenho que me poupar. 

Mas dizia eu, a minha latitude mental e a hora avançada, não dão para temas elevados, só mesmo para rasteiros, assuntos que têm a ver com os pés, não com a cabeça.

Conto. Com isto do macaquinho cabeçudo dos totós cor-de-rosa veio a coisa de não andarmos em casa com sapatos da rua. Por acaso, nunca andei -- mas atravessava o hall, depois o corredor e ia deixar os sapatos na sapateira que estava num canto da varanda fechada das traseiras. Ora agora não apenas é suposto não se andar a atravessar a casa com sapatos da rua como não há cá varandas fechadas ou recantos onde fiquem à mão de semear. Ir pôr na cave sapatos de uso corrente não dá e ninguém quer exércitos de merdinhas a desfilar pelo corredor. Portanto, ando a lidar com esta dúvida. Temo-los deixado no chão, junto à porta de entrada, mas coisa mais sem jeito não há. Os meus, os dele, às tantas uma sapataria desorganizada a fazer a recepção a quem chega. Muito mau. Pois bem, dei agora com uma solução. Não é perfeita mas se puser isto atrás da porta, quando se entra, não se vê e, quando se sai, eis que ali estão, ao dispor.


And that's all Folks!

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As imagens são da autoria de um dos fotógrafos com quem eu, quando crescer, gostava de estagiar: Nick Knight. 

A Janis Joplin está ali em cima porque obviamente.

Acabo com um suplemente vitanímico. Não vitamínico mas isso mesmo que escrevi.  Um suplemento anímico com as minina, as avós da razão.



E tudo de bom para si que aí está desse lado.

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