Reguengos. Costa de Caparica. Santarém. Montepio. E estes são os casos mais recentes. Desde o início da pandemia, sempre que o corona entra num lar é para esquecer. É ver a malta a cair que nem tordos. Sempre me intrigou. O que se passa? Não têm cuidado? Não usam máscara?
E se uma coisa são os lares privados em que numa vulgar moradia conseguem amontoar dezenas de idosos, certamente várias pessoas em cada quarto, certamente salas de refeição acanhadas para tanta gente, sem possibilidade de praticar qualquer distanciamento físico, já acho mais estranho que o problema também aconteça nos lares da Misericórdia ou de Fundações em que presumo que o lucro não seja a primeira prioridade. Interrogo-me: será que, depois de tudo, ainda não aprenderam que têm que ter cuidados? Parece impossível que não. Certamente farão o que podem. Mas quando a coisa chega às boas residências do Montepio aí o espanto é ainda maior.
O que há de comum que possa justificar um tal descalabro?
O que há de comum que possa justificar um tal descalabro?
Se há coisa que me chamou a atenção desde o início do covid foi a propagação aerossolizada do vírus. Não as gotículas de dimensão 'normal' que saem das vias respiratórias de alguém infectado para infectarem directamente quem lhes esteja próximo -- que isso já é por demais conhecido -- mas as partículas já reduzidas a uma dimensão ínfima que são propagadas através do ar como se de um aerossol se tratasse. Li estudos que referem claramente que, para que não haja problema de contágio, o ar não pode ser recirculado e as condutas têm que ser desinfectadas. Caso contrário, temos o burro nas couves.
Ora acontece que ar fresco a entrar em circulação é o oposto do que os ares condicionados, até há pouco, estavam preparados para fazer. Até à pandemia, o que imperava era a eficiência energética. Para que haja eficiência a nível energético deve evitar-se meter no sistema ar do exterior, que virá ou frio ou quente, consoante a época, obrigando os sistemas a aquecer ou a arrefecer, o que acarretará mais consumo. Portanto, isso não acontecia. Na moderna torre em que trabalhei até há pouco nem janelas há: tudo hermeticamente fechado para que o ar do exterior não dê cabo da festa, sendo que a festa era a optimização no consumo de energia.
Com a pandemia, veio a perceber-se que estes sistemas 'fechados' podem ser um perigo.
Os sistemas devem, pois, ser alterados. Devem ser criadas condutas para introduzir ar novo. Podem ser investimentos com alguma expressão.
Outra coisa são os filtros dos aparelhos. Há filtros diferenciados consoante se trate de poeiras ou de bicheza maléfica. E são diferenciados a nível de características e a nível de valor. Naturalmente, a tendência será para usar filtros não muito dispendiosos. Portanto, não basta dizer que se trocam os filtros, é preciso saber que filtros. E há mais: as condutas devem ser desinfectadas periodicamente, geralmente com hipoclorito de sódio.
Outra coisa são os filtros dos aparelhos. Há filtros diferenciados consoante se trate de poeiras ou de bicheza maléfica. E são diferenciados a nível de características e a nível de valor. Naturalmente, a tendência será para usar filtros não muito dispendiosos. Portanto, não basta dizer que se trocam os filtros, é preciso saber que filtros. E há mais: as condutas devem ser desinfectadas periodicamente, geralmente com hipoclorito de sódio.
Ora de nada disto eu tenho ouvido falar na comunicação social. E isto é fundamental. A comunicação social gosta é de andar atrás do baderneiro da Ordem dos Médicos ou de qualquer outro artista cujo pé puxe para o chinelo. Pensarem, estudarem, puxar pela cabeça, está quieto -- querem é ter atoardas para abrir telejornais ou escrever títulos que sejam propalados nas redes sociais.
Eu bem sei que exigir estas alterações nos sistemas AVAC pode exigir investimento a quem, se calhar, já está com a corda na garganta. E ter melhores filtros e fazer desinfecções regulares é ter custos acrescidos. Bem sei. Mas também sei que não o fazer é abrir as portas ao desastre.
O estudo de que hoje se fala na verdade não acrescenta muito ao que é sabido há meses. O que me faz alguma confusão é que ninguém averigue se não há relação entre os sistemas de ventilação dos lares e a mortandade que se verifica sempre que surge um primeiro caso. Lares são espaços em que, para evitar correntes de ar ou resfriados, há cuidado em não abrir janelas. Do que julgo saber, tudo funciona basicamente na base dos ares condicionados.
Do que me parece, é nos lares, em hospitais, nas cozinhas de restaurantes, em lugares fechados em que o ar que se respira é o ar condicionado que os contágios mais se têm dado.
Portanto, o que preconizo é que se olhe para isto -- mas se olhe à luz da ciência, da saúde pública... e do pragmatismo -- e se criem regras claras para o funcionamento dos ares condicionados, obrigando-os a funcionar com ar fresco vindo do exterior, a ter filtros apropriados às circunstâncias e mudados com a frequência recomendada e à desinfecção periódica de condutas. E deve haver auditorias e selos de qualidade certificados. E, claro, talvez seja de prever a criação de linhas de apoio financeiro para quem não consegue fazer face ao investimento e ao acréscimo de custos correntes. Afinal, tudo importa para pôr a economia a funcionar.
Sem isto, o que vos digo é que eu, pela parte que me toca, evito ao máximo estar em lugares em que não estou a respirar ar livre, ar da rua. Se vou (ao supermercado, centro comercial, hospital, etc), só lá estou o tempo estritamente necessário, e sempre de máscara. Geralmente já é regra que, nesses lugares, se esteja sempre de máscara e deve ser por isso que a desgraça não tem sido maior. Mas estaria seriamente preocupada se tivesse algum familiar num lar pois certamente as pessoas não estarão de máscaras enquanto dormem e não o estão enquanto tomam as refeições ou tomam banho. E o resultado é o que se vê. E, pergunto, como vai ser nas escolas, ginásios, etc? Todos sempre de máscara? Alguém vistoriou como estão os sistemas de AVAC das escolas, sejam elas públicas ou colégios privados? Agora ainda se podem abrir as janelas. Mas... e no inverno? Quando chover ou estiver frio? Como vai ser?
Portanto, espero bem que rapidamente alguém acorde para a realidade e estabeleça regras e regulamente a forma de controlar o seu cumprimento.
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- Uma pessoa assintomática pode numa curta viagem infetar os passageiros de um autocarro
- Covid-19. Estudo indica que pode haver infeção pelo ar em ambiente fechado e mal ventilado
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NB: Apeteceu-me polvilhar o texto com imagens animadas com alguma piada -- não que o caso seja para rir mas porque não temos que nos atormentar ou supliciar com este tema. Podemos manter a cabeça fria e o sistema de humor intacto e, apesar disso, não nos desfocarmos do que é importante. E o que é importante, neste caso, é prestar séria atenção para situações que, em absoluto, não dão qualquer vontade de rir. A vida tem que estar acima de tudo e, tendo isso em mente, devem ser encontradas soluções para os problemas que a põem em causa.
Olá Ujm, infelizmente tem havido pouca racionalidade e pouco estudo sério na abordagem à pandemia. Há elefantes no meio da sala que ninguém quer discutir. O Avac é um deles. Com tanto tempo decorrido e tanto procedimento que saiu da DGS já deviam estar no terreno normas para alterar os requisitos dos sistemas de ventilação. Tenho andado a falar com colegas da mecânica e nada. Nem directivas para aumentar o ar novo, nem directivas para sistemas de filtragem, ... nada. Evito lojas e restaurantes com Avac. Prefiro um local mal ventilado do que um com ar recirculado, à falta de ar exterior prefiro o ar parado ao ar que transporta vírus de cá para lá. Quanto aos lares, o problema é que o tipo de cuidados prestados envolve muita proximidade entre as pessoas, muitos utentes entram e saem dos hospitais com regularidade e os hospitais centrais são ninhos de vírus que ninguém quer assumir. Antigamente, quando se tratavam doenças contagiosas havia hospitais dedicados. Hoje temos o rei na barriga e é tudo ao molhe e fé em Deus. Confiam-se nuns quartos em pressão negativa onde se descarregam os doentes com COVID e esquecem-se que o ar contaminado que sai por um lado volta a entrar pelas condutas de ar novo a uns metros de distância, e que uns doentes infectam os auxiliares de uma enfermaria que tomam café com os enfermeiros de outra, e por aí fora... Era preciso gente a tomar decisões que não tivesse medo de gastar dinheiro em meia dúzia de coisas para poupar muito mais na crise que aí vem. Como diria a minha avó, saudinha para todos. Ana
ResponderEliminarOlá UJM!
ResponderEliminarPois isso dos lares é uma questão interessante. Desde logo médica: a fragilidade dos utentes é óbvia.
No entanto, nos hospitais, tem sido possível continuar a atividade normal sem problemas de maior (tenho frequentado um dos 3 grandes do país e outras unidades de saúde grandes).
Mas o mais interessante nisto dos lares é mesmo política. A opção de política pública. Num país altamente envelhecido, as estruturas de apoio aos idosos foram entregues ao mercado (ok, em parte, a uma suposta caridadezinha - o sector social). O estado limita-se a despejar dinheiro (uns subsídios, parcos naquilo que é o apoio / subsídio para serviços sociais aos idosos). De resto sobra uma regulação.. muito leve senão inexistente. A regulação é tão leve e inexistente que instituições como as santas casas têm estatutos e esquemas organizativos no mínimo muito questionáveis. Um exemplo? As santas casas são usualmente geridas por um conjunto de "irmãos", que elegem os corpos gerentes, os quais tomam posse após homologação pelo... Bispo. E como se pode ser irmão? Pois bem, essa distinção é usualmente admitida apenas por convite de quem já é irmão. Portanto estamos perante associações cheias de obstáculos para que possamos fazer parte delas. Nem sequer os utentes ou seus familiares se podem livremente associar (e assim ter uma palavra a dizer na gestão de tais espaços).
Acontece ainda que as obrigações de transparência também são muito parcas: aceder a relatórios de contas, a estruturas remuneratórias dos órgãos e, sobretudo, aos contratos e procedimentos de contratação com fornecedores não é uma.materia fácil senão mesmo impossível.
Portanto, estamos perante estruturas que fornecessem um serviço público que muitos consideramos essencial, mas sobre o qual não temos lá grande controlo.
Que têm serviços e iniciativas meritórias? Não nego e enalteço. Mas a que custo? Isso e o serem uma entidade privada dar-lhes-a o direito de direccionar a instituição (e os recursos que recebe dos utentes) para beneficiar as estruturas diretivas (sim, muitos dos auxiliares e afins que lá trabalham ganham o ordenado mínimo, quando funcionários em posições de gestão ganham.... Muitas vezes mais...), a construção de teias de interesses cruzados (entre corpos diretivos e fornecedores, com a igreja, com outras instituições privadas...).
Práticas que dizem as más línguas que podem ter ocorrido: mandar malta para o lay off, ao mesmo tempo que se contrata "voluntários" para "reforçar" as equipas (vejamos o esquema: muitas instituições têm jardins de infância... estes fecharam... Os - auxiliares - "vão" para lay-off... e... porque não prestar serviço "voluntário" (recebe um apoio) no lar?).
Por fim, não esqueçamos que os "lares" são interpretados à luz da lei como meras estruturas residenciais e têm poucas obrigações ao nível da saúde.
Interessante é que parece que a lei é clara a indicar que os lares não estão contemplados nas obrigações das unidades de cuidados primários a acompanhar certas instituições. Os utentes dos lares devem.ser assim acompanhados no quadro geral da prestação de cuidados de saúde primários (ou seja, irem aos centros de saúde). A primeira reacção do governo foi criar uma norma excepcional para que em caso de surto os centros de saúde desloquem uma equipa permanente para o lar. Ora... Não deveria ser esta equipa garantida e paga, pelo.menos parcialmente pelos lares? Além do mais não se está a prejudicar a prestação de cuidados de saúde primários, já dos.mais sobrecarregados?
Concluindo: só quis levantar hipóteses..pouco sei, mas sei que está aqui um problema muito complexo e que urge enfrentar. E não é à vassourada para baixo do tapete (a começar pelo dito "bastonário").
Boa semana!